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Tributo a Chacrinha tem choro, bagunça e João Kleber "comportado"

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

15/12/2017 00h05

Se Chacrinha estivesse vivo, certamente aprovaria a homenagem que seu pupilo mais famoso, João Kleber, prestou a ele. O apresentador resgatou o caos na TV, marca dos programas de Abelardo Barbosa, no programa "João Kleber Show - Especial Chacrinha", gravado na última semana e que será exibido no dia 24, na RedeTV!.

João, que apresentou os últimos programas de Chacrinha até sua morte, em 30 de junho de 1988, trouxe de volta a cultura popular e a bagunça que alegraram os brasileiros nos anos 70 e 80, quando o Velho Guerreiro balançava sua pança e jogava bacalhaus para a plateia. Na RedeTV!, a "zona" realizada pelo apresentador será servida às famílias durante a ceia natalina.

"É uma grande festa, uma grande confraternização de amigos. Muitas pessoas da 'geração Twitter' não imaginavam que eu tinha apresentado o programa do Chacrinha e viram no Viva. Jovens curtem, porque a década de 80 foi o grande momento da música", afirma João Kleber.

Em tributo ao seu mestre, o apresentador aparecerá diferente de como o público está acostumado a vê-lo nos últimos 18 anos, desde sua estreia na RedeTV!. Mais comportado, ele aboliu, pelo menos desta vez, o suspense, o bordão "para, para, para!", as pegadinhas e os testes de fidelidade, seus principais trunfos de audiência. Nem a roupa do Velho Guerreiro ele quis usar.

"Em nenhum momento eu quis imitar Chacrinha. Ele é insubstituível. A ideia é relembrar o último programa que foi ao ar, comigo e ele juntos. A última fala dele foi assim: 'Não percam, no próximo sábado eu e o João Kleber aqui estaremos com o Cassino do Chacrinha', e infelizmente ele morreu na quinta-feira, mas tinha um programa gravado", recorda o apresentador.

Comandando a massa, João Kleber não queria baixo astral no programa. Em um dos momentos mais emocionantes, quando Gilliard relembrou histórias ao lado do Velho Guerreiro, o apresentador enxugou as lágrimas e mudou de assunto para levantar o ânimo. O espírito de Chacrinha protegeu o programa da apelação.

João Kleber dança "Panela Velha" com uma das vovós da plateia - Divulgação/RedeTV! - Divulgação/RedeTV!
João Kleber dança "Panela Velha" com uma das vovós da plateia
Imagem: Divulgação/RedeTV!
Idosos em êxtase, jovens entediados

Além de Gilliard, o programa "ressuscitou" outras atrações que batiam ponto no "Cassino do Chacrinha", como Sandra de Sá, Markinhos Moura, Sylvinho Blau Blau, Byafra e Simony, que revelou que queria ser chacrete nos anos 80, quando cantava as músicas do Balão Mágico e tinha apenas sete anos, num dos momentos "politicamente incorretos" do especial.

Outros ícones da década de 1980, Ritchie e Paulo Ricardo também foram convidados, mas o ex-RPM está comprometido com a Globo e o cantor de "Menina Veneno" disse não. João também tentou convidar Rita Cadillac, a chacrete mais famosa de Chacrinha. Mas ela tinha acabado de deixar "A Fazenda" e tinha obrigações contratuais com a Record. O jeito foi se virar com 13 modelos, que representaram as chacretes.

A plateia com mais de 60 anos vibrou ao ver no palco artistas como Amado Batista, Almir Rogério (do "Fuscão Preto"), Jane & Herondy (do hit "Não Se Vá"), Maria Alcina e Sérgio Reis. Mas a tal ‘geração Twitter’ a que se referiu João Kleber, não parecia muito interessada. Em um momento, a drag Juju, animadora de auditório da RedeTV!, deu uma bronca nos adolescentes entediados.

Os jurados do "João Kleber Show - Especial Chacrinha", que vai ao ar no dia 24 - Divulgação/RedeTV! - Divulgação/RedeTV!
Os jurados do "João Kleber Show - Especial Chacrinha": Scarpa confundiu calouro e Nelson Rubens sumiu durante gravação
Imagem: Divulgação/RedeTV!
Bagunça

Bacalhaus, mandiocas e pepinos voaram para a plateia. O saudoso Russo, assistente do Velho Guerreiro, foi representado por Marquinhos, ator de pegadinhas do bordão "o quê o quê o quê, rapaz". Vestido de noiva, levava a buzina usada por João Kleber no show de calouros.

Para o concurso, João chamou os jurados que também marcaram o "Cassino do Chacrinha": Alexandre Frota (que chorou ao ouvir Byafra cantando "Sonho de Ícaro"), Chiquinho Scarpa, Márcia Gabrielle, Nelson Rubens, Sonia Abrão e Vanessa de Oliveira.

"Conheci Chacrinha em 1984, quando eu trabalhava no 'Notícias Populares' e era responsável pela coluna dele no jornal. Toda semana, ele visitava o jornal e já entrava cantando 'Alô, Terezinha!'. Ele começou a me chamar para os programas e fiz parte do júri dele. Conversamos até a véspera da morte ", relembrou Sonia.

De Homem-Aranha a cover de Roberto Carlos, o show teve a bagunça que Chacrinha adorava, mas também houve espaço para cantores de verdade. A vencedora, Érica Pinna, de 29 anos, nem era nascida quando Abelardo Barbosa morreu. Cantou "O Amor e o Poder", de Rosanah, e saiu do programa com R$ 1 mil.

"Conheço Chacrinha porque estudei Comunicação e sei a importância dele para o nosso país, mas só vi gravações. Quando chega na hora, 'ai meu Deus, será que depois de tantos anos cantando em shows eu vou levar uma buzinada?' Mas não aconteceu, graças a Deus", disse Érica, aliviada.

João Kleber, Leleco Barbosa e Elias Abrão, superintentende artístico da RedeTV! que chegou a ser cinegrafista de Chacrinha, estavam esgotados no fim do programa, que levou quatro horas de gravação. Além das inúmeras repetições, o júri também contribuiu para o caos reinante. Chiquinho Scarpa conseguiu confundir uma mulher com um homem e votou no calouro errado.

"Eu me atrapalhei na votação. Queria empatar o negócio, mas o Nelson Rubens ficou atrapalhando", justificou. Nelson Rubens também tumultuou os bastidores. Em dois momentos, ele simplesmente "despareceu", atrasando ainda mais a gravação.

"Cadê o Nelson?", perguntou João Kleber. "Nelson foi fazer merchan no 'TV Fama' e voltou", respondeu Elias Abrão. E Nelson retornou, como se nada tivesse acontecido.

Exausto, João Kleber terminou o programa chamando a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio, que homenageará Chacrinha, e agradecendo a toda a equipe, dos cinegrafistas aos cenógrafos que recriaram a atmosfera do "Cassino". Uma chacrete cochichou para a colega: "Ele não vai falar da gente". Segundos depois, o apresentador falou das bailarinas. Se Chacrinha estivesse vivo, aplaudiria a homenagem bagunçada, bem do jeito que ele levava para a TV.