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"Piada não é manifestação racista", diz William Waack sobre saída da Globo

William Waack na bancada do "Jornal da Globo" - Zé Paulo Cardeal/Globo
William Waack na bancada do "Jornal da Globo" Imagem: Zé Paulo Cardeal/Globo

Colaboração para o UOL

17/01/2018 19h28

William Waack deu uma longa entrevista sobre a acusação de racismo que o afastou definitivamente da Globo, no final do ano passado. Ao canal de Marcelo Bonfá no Youtube, o jornalista nega que seu comentário tenha sido racista, afirma que seus amigos ficaram a seu lado e que fala da pressão que as redes sociais exercem sobre as empresas.

"Não acho que foi um comentário racista de jeito nenhum. Fiz uma brincadeira citando um amigo meu, Gil Moura, que depois saiu em minha defesa e foi acusado de não ser preto o suficiente. Isso é racismo, pedir pureza racial. Quem é que não fala uma merda entre amigos, quem é que quando está em um ambiente relaxado, brincando, fala uma bobagem da qual não acredita?", questiona.

"Por isso quero reiterar: não fiz uma manifestação racista, fiz uma piada. Piada não é manifestação racista. Até porque um pensamento racista nunca poderá ser uma piada, é importante que as pessoas tenham isso na cabeça. Uma piada inconsequente pode ser interpretada por alguns como ofensa, e isso aconteceu. Àqueles que se sentiram ofendidos, novamente meu pedido sincero de desculpas. Não era a intenção, não sou racista", ressalta.

Ele revela ter recebido apoio de colegas negros da Globo. "A Glória Maria foi a público e disse: 'Convivi com o William por anos, esse cara não é racista porra nenhuma'. Liguei pra ela e falei 'Glória, você vai apanhar, os caras estão me batendo e tem uma tremenda hipocrisia no ar'. Ela disse 'Não quero saber, não vou com a maioria. Quero te autorizar a usar minhas palavras'".

O ex-apresentador do "Jornal da Globo" garante que teria dialogado com o rapaz que divulgou as imagens  quase um ano depois. "Se a gente tivesse conversado naquela noite, teria resolvido, eu diria: 'Escuta, isso foi uma piada idiota, não quis ofender ninguém. Vamos resolver entre nós. Estou do mesmo lado de todas as pessoas que combatem o racismo e não toleram esse tipo de comportamento'. Tenho 48 anos de profissão dedicados ao combate à intolerância. Um escorregão como esse não pode julgar minha obra inteira".

Reação da Globo

Sem falar explicitamente da Globo, o jornalista comenta a decisão que o afastou do "JG" no mesmo dia em que o vídeo foi vazado. "Algumas empresas consideram que ficar de bem com a gritaria lhes dá vantagens empresariais. E do ponto de vista institucional elas ganham projeção, acomodando-se, cedendo, muitas vezes covardemente, às gritarias em redes sociais. Algumas empresas, chocadas com sua credibilidade em jogo constantemente através das redes sociais, não tem a visão estratégica necessária para entender o que está em jogo e agem de curto prazo, com medo".

Ele conta qual seu ponto de vista das discussões que se fazem na internet. "As redes sociais hoje estão dominadas por um primitivismo, uma boçalidade, um comportamento imbecil que torna a discussão de qualquer tema, sobretudo os mais relevantes, praticamente impossível".

"Não me sinto culpado"

"Eu estava brincando com o [comentarista] Paulo Sotero, como acontece muito com apresentadores antes de transmissões. A gente fica falando todo tipo de bobagem possível e imaginável, bobagens mesmo, é até uma maneira de aliviar a tensão. O que não justifica o que eu disse, quero deixar isso bem claro", conta ele sobre as imagens gravadas nos bastidores das eleições americanas.

Ele diz como foram os dias que se seguiram à divulgação do vídeo. "Claro que fiquei chateado, uma paulada dessa (...) Fiquei inicialmente muito preocupado em me livrar de um peso", recorda, explicando por que não se manifestou entre 8 de novembro, quando o vídeo vazou, e 22 de dezembro, quando o desligamento foi anunciado.

"Fiquei quieto porque tinha contrato com a Rede Globo, que é muito claro, estipula que quem assina o contrato de prestação de serviços não falará sobre a empresa. Sou uma pessoa que respeita os papéis que assinei. Se falasse em público violaria uma cláusula contratual. E quem falou de demissão, de rescisão, não aconteceu. Tivemos um encerramento de contrato de prestação de serviços. Em outras palavras, nem eu pedi demissão, nem fui demitido".

Waack garante colocar a cabeça em paz no travesseiro. "Não fiquei abalado de jeito nenhum, não é meu jeito. Enfrentei isso com minha altivez, meu orgulho e a consciência de que não fiz nada errado nem cometi crime algum. Não me sinto culpado de nada, sei que foi uma piada cretina, mais nada. Tenho que pedir desculpa às pessoas que se ofenderam, não gosto que  elas se sintam ofendidas ou mal por algo que fiz voluntariamente ou não. Não peço desculpas por mais nada além disso".

Mas quem pensa que ele vai se policiar daqui para a frente, está enganado. "Por que eu deveria mudar? Eu sou brincalhão, é o meu jeitão de ser. Sempre fui um cara cheio de piadas, adoro fazer gozação, sou um tremendo gozador. Boto apelido nas pessoas, brinco... Não fiz nada de errado, não tenho que mudar coisa nenhuma".

Futuro

O jornalista evita dizer se irá para outras emissoras ou para o rádio. "Tem sido publicado um número de bobagens fenomenal, falam que passei a manhã na sede de tal emissora e eu nem saí de casa".

Seu futuro pode ser justamente o meio em que foi "condenado" por racismo. "Quero ir para o mundo digital, acho que é o mundo do futuro. Abre os horizontes, chega melhor às pessoas e proporciona a jornalistas, produtores de audiovisual e todo tipo de pessoa que quer se comunicar com o público grandes oportunidades a um custo mais baixo. A este mundo que eu gostaria de me dedicar".