Após polêmica, "Segundo Sol" tem mais chamadas com ator negro em destaque
Há pouco mais de duas semanas "Segundo Sol", que estreou nesta segunda-feira (14), começou a receber críticas pela falta da representatividade negra em seu elenco, já que a trama se passa na Bahia, Estado com maioria da população composta por negros. A polêmica levou a Globo a divulgar com mais frequência chamadas com a história de Roberval (Fabrício Boliveira), único personagem negro com destaque na trama.
O primeiro teaser da trama das 21h contava a história do protagonista Beto Falcão (Emílio Dantas) e foi ao ar pela primeira vez dia 23 de abril. A chamada seguinte, dia 27, tinha o trio amoroso central - ele, Luzia (Giovanna Antonelli) e Karola (Deborah Secco) - como foco. Bastou para que no dia seguinte a novela de João Emanuel Carneiro ser chamada de "Bahia branca" e ser alvo de duras críticas por conta da escalação. Dois dias depois, entrou no ar a chamada com a história de Roberval e seu personagem, além de Beto, aparece em duas propagandas diferentes.
Intérprete do personagem, Boliveira não foge à polêmica e diz que o questionamento levantado é benéfico para a própria trama. "É a força desses tempos. O movimento negro vem se organizando há muitos anos, está muito preparado. Tudo é benéfico. Está acontecendo para se somar à novela. É o Brasil contando como ele quer se ver. As pessoas precisam se ver realmente na televisão", afirmou o ator durante a festa de lançamento da novela no Rio, no último dia 8.
O ator lembra que a reivindicação para mais atores negros na teledramaturgia é uma bandeira que ele defende há tempos. "Se acompanharem minhas entrevistas podem ver que eu já falo disso há anos. Temos que dialogar e aguardar respostas, mas está tudo condizente com o momento político atual e uma boa novela estará esperta para isso".
Um grupo de atores chegou a procurar a direção da emissora sobre a falta de atores negros na trama. Na reunião eles ouviram que, de fato, há um problema a ser resolvido. Em nota, a Globo informou: "Estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente. Foi colocado que, de fato, ainda temos uma representatividade menor do que gostaríamos e vamos trabalhar para evoluir com essa questão".
Se seu personagem vai sofrer mudanças por conta da polêmica, Boliveira disse não saber. "Já fui convidado para a novela para um personagem com destaque, então não sei se vai aumentar ou diminuir. Não é isso que me importa muito. Estou aqui para contar essa história e acho importante todo esse movimento acontecendo no Brasil".
Na trama, Roberval é descrito como um homem inteligente, determinado, orgulhoso e ambicioso. Filho da empregada da casa de uma família rica, foi criado junto com Edgar (Caco Ciocler) e acaba descobrindo que é filho do patrão Severo (Odilon Wagner). Ele só permanece trabalhando na casa porque se apaixona pela nova cozinheira, Cacau (Fabíula Nascimento), que também tem um caso com seu irmão, Edgar. Ele decide ir embora e, 18 anos depois, volta um homem rico em busca de vingança contra quem o humilhou.
Segundo Maria de Médicis, diretora-geral de "Segundo Sol", o personagem de Boliveira é um dos principais destaques da história. Ela admite que ainda falta mais representatividade dos negros nas novelas.
"A história do Fabrício é uma história de protagonista. Tem a história do casal [Luzia e Beto] e a história dele com a família Severo. Claro que a TV Globo sempre buscará uma representatividade maior. Não chegamos ainda no melhor dos mundos, mas vamos torcer para chegar. Torço por isso. Uma luta que tenho muito grande é para aumentar [a representatividade], principalmente atrás das câmeras, não só da comunidade negra, mas das mulheres também".
Na semana passada o Ministério Público do Trabalho enviou documento à Rede Globo em que pede que a emissora faça adaptações em "Segundo Sol" para que a novela tenha mais atores negros. Foram feitas 14 recomendações para haver maior representação racial na produção e também em todos os produtos da casa.
Elenco defende debate
Outros atores do elenco também concordam que ainda falta uma presença maior de negros em "Segundo Sol" e mesmo em outras produções da TV.
Para Roberta Rodrigues, outra atriz negra de "Segundo Sol", é visível a falta de representatividade negra na televisão brasileira. "É um questionamento não somente pela nossa novela. É óbvio que em uma trama que se passa na Bahia é visível, só que tem de ser um movimento para tudo, para as próximas novelas, minisséries, teatro, cinema. Precisamos de representatividade negra. Independente do meio ou do veículo que esteja sendo lançado. Precisamos colorir, o mundo é colorido", declarou a atriz, que interpretará Doralice, filha de um pai de santo, na segunda fase da trama.
Letícia Colin, que viverá Rosa, concorda com as críticas, pois também havia notado que a quantidade de negros na Bahia não era representada na trama.
"A crítica já era minha também. Mas não deve ser fácil fazer uma novela e é o momento certo para comprar essa briga. Meu lugar de fala é difícil porque sou mulher branca, paulista. Respeito a causa. Esse debate é maravilhoso, precisamos disso. Se fosse há cinco anos podíamos até pensar, mas não sei se seríamos tão ouvidos ou se teria união", disse.
Quem também comemorou o questionamento sobre o elenco foi Luisa Arraes, que está na trama como Manuela. A atriz usou a morte da vereadora do Rio, Marielle Franco, como exemplo de tomada de consciência para uma nova narrativa nas tramas.
"[A polêmica] é fantástica, ficamos todos felizes. Eu sempre noto, em todo projeto. É fundamental que tenha essa discussão. Não é um problema da nossa novela somente, mas de toda televisão. Torço para que isso seja mais um ponto de mudança. Assim como a morte da Marielle, que a gente tem que fazer disso um ponto de mudança para que a morte dela não tenha sido em vão. É fundamental que cada reivindicação sirva de ponto de mudança".
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