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Bruna Lombardi fala sobre a relação com Osho: "Fiquei impressionadíssima"

A atriz Bruna Lombardi em sua casa no bairro do Morumbi, em São Paulo (SP) - Lucas Lima/UOL
A atriz Bruna Lombardi em sua casa no bairro do Morumbi, em São Paulo (SP) Imagem: Lucas Lima/UOL

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL

26/05/2018 04h00

Conversar sobre espiritualidade e misticismo sem escorregar miseravelmente em clichês, generalizações e preconceitos não é exatamente uma tarefa fácil. Principalmente hoje. Mas é possível. Pelo menos se o seu interlocutor for a Bruna Lombardi.

Assídua pesquisadora das mais variadas vertentes de religiões, cultos, seitas, movimentos e afins, a atriz conheceu também os ensinamentos do Osho. O guru indiano voltou à mídia com a série “Wild  Wild Country”, da Netflix, e Bruna contou ao UOL como ele influencia sua visão de mundo até hoje.  

Explicar, em uma conversa breve, sua visão pessoal do ensinamento de um guru, é um apelo fácil às máximas e frases de efeito. Bruna sabe disso, e por isso faz questão de, antes de falar do Osho, tecer todo um relato de seu histórico de vida. “Desde sempre, eu fui uma pessoa que quis explorar os mistérios da vida. Que procurou entender mais, saber mais, onde estamos, o que somos, por que as pessoas se comportam de uma determinada maneira”, diz a atriz logo no começo da conversa.

Bhagwan  Rajneesh, o Osho, em cena da série "Wild Wild Country" - Divulgação / Netflix - Divulgação / Netflix
Bhagwan Rajneesh, o Osho, em cena da série "Wild Wild Country"
Imagem: Divulgação / Netflix
Essa busca, ela explica, sempre foi antes de tudo um estudo. Ou seja, uma pulsão mais intelectual do que espiritual, pelo menos a princípio. Desde a adolescência, Bruna se entregou à literatura, aos filósofos, aos ensaios e ao entendimento da religiosidade humana.

De Dostoiévski a Prem Baba, passando por Meryl  Streep e Bukowski, a atriz menciona uma série de pessoas que ela acredita carregarem uma dose de conhecimento autêntico sobre a condição humana --ou “pontos de luz”, como Bruna se refere a eles em determinado momento.

Neste sentido, fica claro que Bruna não é o tipo de pessoa que pula de uma filosofia de vida para outra numa busca desesperada por autoconhecimento (e ela deixa claro que não tem absolutamente nada contra essas pessoas). Seu lance, explica, não é crer, mas compreender.

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O que a atriz faz é sondar, sempre com uma dose inicial de ceticismo, uma determinada filosofia para então conhecê-la melhor e de algum modo agregá-la ao seu mosaico pessoal de percepções. Foi o que aconteceu no final dos anos 70, ou início dos anos 80 (Bruna se diz ruim com cronologias), quando ela fez aulas de respiração baseadas nos ensinamentos do Osho. As sessões eram ministradas por um americano em São Paulo.

“Eu já era interessada em ioga, meditação, sabia que havia vários canais que você podia abrir e usar, e graças a Deus havia passado ilesa pela época do ´grande  lisérgico` (quando as drogas eram usadas por muita gente para acessar os tais canas aos quais a atriz se refere)”, conta Bruna. “Fui às aulas com meu ceticismo habitual. Quando comecei, fiquei impressionadíssima com as técnicas. Mostravam coisas que me fizeram pensar ´Caramba, retiro tudo o que eu tinha dito'".

Bruna teve essa sensação logo em sua primeira experiência. “Vi que o cara sabia o que estava ensinando”, diz a atriz. A partir dali, ela começou a buscar materiais sobre a filosofia do Osho e chegou inclusive a fazer o prefácio de uma edição brasileira do seu “O Livro dos Segredos”.

“Quando ele começou a publicar aqui no Brasil, por alguma coisa desses mistérios da vida, me convidaram para fazer o prefácio”, lembra a atriz. Para ela, o que está escrito naquela edição de cerca de trinta anos atrás poderia ser dito hoje com as mesmas palavras. Eis alguns trechos do prefácio:

Vivemos num mundo confuso, acinzentado, onde as pessoas circulam perdidas em dúvidas, contradições e tentativas. Onde a dança, a alegria, o voo foram encobertos e essa espessa poeira faz parte do nosso cotidiano.”


Respiramos mal, nos cansamos depressa, somos incapazes de ir fundo nas coisas, até o desconhecido. Até aonde não iria o medo. Até desbravar a porta cerrada dentro de nós mesmos.”


Toda a sabedoria está em nós. Bhagwan  Rajneesh (Osho) desperta em cada um de nós o desejo dessa sabedoria. E aponta a trilha que nos conduz a nós mesmos.”


O caminho da luz, da iluminação, da integração cósmica. Isso está no ar e está entre nós, basta ir conhecendo os filamentos para crescer e se tornar uma pessoa inteira. É uma profunda vivência. Nasce da nossa intuição, da nossa relação com o Todo.”


Ler Rajneesh é trilhar um longo caminho para chegar a si mesmo.”



Bruna acredita que até hoje os ensinamentos de Osho representam uma porção generosa dos ingredientes que formam seu caldeirão de referências. Ainda que ela, é bom deixar claro, nunca tenha sido oficialmente uma seguidora. Diferente, por exemplo, do jornalista Arthur Veríssimo (que ela admira), que chegou a ir aos Estados Unidos e andar por São Paulo com as típicas vestes avermelhadas que aparecem em “Wild  Wild Country”.

O sentimento de Bruna sobre a série, aliás, não é diferente daquele de muita gente que a assistiu: espanto ante ao que é revelado. “Porém, em todas as pessoas grandiosas, se você estudar suas biografias, o lado mundano sempre será diferente do espiritual ou filosófico. Não foi diferente com o Osho”, comenta a atriz sobre os aspectos negativos do culto também revelados em “Wild  Wild Country”. Bruna, inclusive, conta que conversou sobre a série com Prem Baba e o guru tem uma opinião semelhante.

E como será que o Osho seria recebido caso surgisse hoje? “Para quem está observando, existe uma onda de busca por conhecimento. Inclusive por parte de pessoas que vivem em campos completamente alheios a este mundo”, acredita Bruna, para quem o atual momento de intolerância vivido no Brasil, e no mundo, tem a ver com esse processo. Por mais contraditório que possa parecer.

“Tem tudo a ver porque a consciência vai passar por todas as etapas. Mostrar todas as suas caras. Se você acende a luz em um quarto que nunca foi aberto, poderá ver ratos, baratas, uma sujeira infinita. São fases evolutivas. Mas que a consciência está caminhando, está.”