Topo

Aos 85 anos, Ary Fontoura tem papel esticado em novela: "Pinto no lixo"

Barão Afrânio Cavalcante (Ary Fontoura) perdeu a fortuna e vive de aparências - João Miguel Júnior/Globo
Barão Afrânio Cavalcante (Ary Fontoura) perdeu a fortuna e vive de aparências Imagem: João Miguel Júnior/Globo

Carolina Farias

do UOL, no Rio

09/07/2018 04h00

Aos 85 anos e com 52 de carreira, Ary Fontoura é um exemplo de vitalidade. "Ocupar-se é muito importante. Ainda tenho uma memória boa, decoro legal, gosto de representar. Tenho boa saúde, me cuido e acho que é a genética também. Minha mãe faleceu com 100 anos e tenho uma irmã com 93 e um irmão com 90", disse o ator ao UOL, durante um intervalo de gravação de "Orgulho e Paixão".

Na pele do Barão Afrânio Cavalcante, ele define bem a satisfação que a profissão lhe dá: "Estou um pinto no lixo". 

A princípio, o Barão teria vida curta na trama de Marcos Bersntein, inspirada na obra da escritora inglesa Jane Austen, mas o desempenho de Ary conquistou o público e ele continuou na novela. 

"Ele deveria morrer no capítulo 40 para ceder espaço para a trama acontecer de outra forma. Mas a direção e os autores concordaram com o rumo que imprimi ao personagem, me deram certa liberdade para construí-lo de forma quase teatral. Quem trabalha em novela nunca deve fechar o personagem definitivamente. Deixo lacunas e os autores preenchem", explicou Ary. 

Mesmo o Barão sendo um velho rude, tradicionalista e prepotente, como o próprio ator define, os telespectadores gostam dele. Mérito de Ary.

"Ele tem virtudes, bondades e maldades do ser humano, o que ator quer mais que isso? Pode se esbaldar. Quem ganha com isso é quem assiste. As pessoas me abordam nas ruas, dizem que é novela que não se fazia há algum tempo, que é suave, de bom gosto. Também acho que é bem cuidada. Fico feliz de estar nesse trabalho", completou.

Nonô Corrêa  (Ary Fontoura) guardava fortuna escondida  - Memória Globo - Memória Globo
Imagem: Memória Globo
O sucesso com personagens de caráter duvidoso não é novidade para Ary. Dos tipos que já interpretou alguns ficaram na memória da teledramaturgia nacional, mas o mais lembrado até hoje, segundo o ator, é Nonô Corrêa, protagonista de "Amor com Amor se Paga", de 1984.

Inspirado na peça "O Avarento", de Molière, a novela das 18h contou a história do personagem pão duro ao extremo, que colocava cadeados na geladeira e nos armários para evitar que os filhos comessem mais do que ele considerava normal, usava roupas velhas, mas, mesmo com toda a avareza, era rico e escondia uma fortuna.

"A época em que a novela foi ao ar era de crise também. E a autora [Ivani Ribeiro], muito antenada com as coisas, não perdeu oportunidade de criticar o que acontecia", elogia.

A fonte de inspiração para o ator está em toda parte: "Nosso grande manancial, o ponto de referência é a vida. É nela que estão todas as pessoas com seus defeitos e qualidades. Fernando Pessoa dizia que o poeta é eterno fingidor e eu digo que o ator é o eterno fingidor. Quem finge melhor é melhor ator."

Sem olhar para trás para seus sucessos ou fracassos, Ary segue com a vida e a carreira, um dia de cada vez. 

"Não vivo do passado, não sou caranguejo, não ando para trás. Só guardo o que foi bom. Meu futuro é hoje. Vivo o dia a dia. Gasto o dinheiro que ganho, aproveito a vida que posso ter. Se você olhar o Imposto de Renda não vai ver nada de mal. O que está lá ganhei trabalhando. Posso dizer isso, nunca fiz nada de errado que me desse possibilidade de ganhar mais. Não sou milionário, mas não sou tão pobre assim", conta o ator.

Sem nunca ter se casado oficialmente, Ary diz que teve relacionamentos duradouros que contaram com um segredinho para durarem.

"A felicidade tem três andares: no último andar você mora, no primeiro eu moro e no meio a gente se encontra. Amor não tem fronteira e não precisa de sua presença constante. Se você mora em um lugar e eu no outro, é divertido nos encontrarmos. Você tem seus espaços, eu, os meus. Você tem a sua vida e nós temos a nossa", explicou o ator.

Para Ary, um dos segredos para encarar a vida é não distinguir as pessoas. "Sempre vejo as pessoas sentadas em um vaso sanitário vejo a igualdade. Quando senta no vaso todo mundo é a mesma coisa. É uma comparação rude, mas é a primeira coisa que vejo quando alguém me diminui", conclui Ary, que compartilha parte de sua vida com seus 145 mil seguidores no Instagram.

"Me falaram que eu precisava ser 'moderninho' e dar uma atenção ao público. É fácil de fazer. Não precisa ser tão perfeito, mas por que não seguir o que os outros estão fazendo? Dou uma satisfação às pessoas gostam de mim. Respondo às vezes porque, se eu ficar só lá, levo 20 dias para gravar um capítulo."