"Somos como chineses", diz Boliveira sobre ser confundido com Lázaro Ramos
Fabrício Boliveira, 36, fez sua estreia em novelas há 12 anos em "Sinhá Moça". De lá pra cá, atuou em "A Favorita" (2008), "Viver a Vida" (2009), "Boogie Oogie" (2014), dentre outros papéis em novelas e séries. Apesar de não ser um rosto novo na TV, o Roberval de "Segundo Sol" conta que é confundido com frequência com Lázaro Ramos, Seu Jorge ou Jonathan Azevedo.
"Tenho uma lista de confusões, trato isso de duas formas: uma brincando que nós negros do Brasil são como chineses, as pessoas não conseguem distinguir quem é um e quem é outro. A falta de negros na televisão é algo muito sério. Agora estou fazendo o Roberval. No início, achavam que era o Sabiá [Jonathan Azevedo], que tinha saído da novela com o Emílio [Dantas]", disse, em intervalo de gravação nos Estúdios Globo.
"Por que não estamos três, quatro, cinco negros, não só nessa, mas em outras novelas? Por que não temos maiores contingentes negros na novela para que todo mundo saiba que o Fabrício Boliveira não parece com o Lázaro Ramos ou com o Jonathan Azevedo ou com o Seu Jorge? Somos totalmente diferentes, idades diferentes, pensamentos diferentes."
No início de "Segundo Sol", parte do elenco chegou a se reunir com a direção da Globo para cobrar uma participação maior de atores negros na novela que se passa na Bahia. Apesar do protesto, Fabrício disse que o destaque de Roberval na trama já era previsto e comemora por viver um empresário milionário.
"É ver o negro neste outro lugar também. É muito importante para esse imaginário brasileiro. É a primeira vez que vejo em uma novela um negro rico, sentado a uma mesa e sendo servindo por alguém, não ele tendo que servir".
O maior desejo do ator é que Roberval resolva suas mágoas do passado e deixe de lado sua sede de vingança. "Queria que a gente conseguisse entender quais foram as questões que levaram esse cara a todas essas ações. O Roberval traz uma questão muito delicada: sobre o trabalho servil, o lugar do negro no Brasil, coisas que a gente não conseguiu vencer ainda. Queria que a gente conseguisse pensar e refletir melhor sobre como a gente está tratando esse trabalho, que é resquício da escravidão dentro do Brasil", diz.
"As empregadas domésticas só existem praticamente no Brasil porque lá fora as pessoas fazem faxinas e diárias, mas morando em casa, deixando de ter a vida com os filhos pra poder tratar do filho do patrão, só acontece no Brasil. De algum jeito esse personagem traz essa discussão e eu não queria que essa discussão fosse encoberta sobre mocinho e vilão", completa.
Apesar da cena forte da humilhação de Roberval à Cacau no dia do casamento, com direito a vestido rasgado e agressões verbais, que ele considera "indesculpável", o ator acha que não está definido que seu personagem é totalmente mau.
"O Roberval é um personagem que a gente não sabe dizer se é vilão ou mocinho, ele entra nesse espaço de dualidade. As pessoas estão discutindo bastante nas redes sociais, elas não sabem como qualificar. Isso é muito interessante num espaço em que a gente está sempre julgando alguém de bonzinho ou mauzinho, e a pessoa fica eternizada dentro daquela gaveta", opina.
"É uma arte que não está só numa resposta, que está na discussão, no embate. Pra mim essa é a grande vitória do personagem", conclui.
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