"Minha doença é não abandonar a cannabis", diz Maria Gladys, aos 78 anos
A falastrona faxineira Lucimar é uma figura onipresente nos núcleos de "Vale Tudo", o clássico da teledramaturgia brasileira, em sua segunda reprise no Viva. Sua intérprete, Maria Gladys, 78, tem personalidade semelhante, fala o que lhe vem a cabeça, sem medo.
Reclusa na zona rural da pequena Santa Rita de Jacutinga (MG), ela já foi muito "vida louca": musa do cinema marginal nos anos 1970, se exilou em Londres, onde foi hippie, e "abriu a mente" com drogas psicodélicas.
"Moro aqui há cinco anos, no mato, num vale coberto de montanhas. É muito lindo. Mas, para uma pessoa boêmia e urbana como eu, bebedora de chope, me faz falta o Rio. A verdade é que a vida boêmia mudou muito", disse Maria Gladys por telefone ao UOL, enquanto degustava uma cerveja do outro lado da linha. "Cerveja é ótimo!"
A reexibição de "Vale Tudo" no Canal Viva comemora os 30 anos da trama. A atriz conta que Aguinaldo Silva, que assinava a autoria da trama com Gilberto Braga, foi quem escreveu o papel de Lucimar.
"Ele fez para mim. Quem escrevia os personagens pobres era o Aguinaldo Silva. 'Vale Tudo' foi um sonho, uma novela fabulosa. Abalou o Brasil, não existe mais isso. Esses dias, assisti. Todo mundo tão novinho. A Glorinha [Pires] uma menina!"
"Ninguém esquece a Lucimar. Fui homenageada na Mostra Ouro Preto de Cinema e um casal de dois rapazes, Lucas e Vinícius, me deram de presente um retrato meu vestida como Odete Roitman. Foi demais, um presente maravilhoso. Guardo na minha mesa de cabeceira. Queria encontrar esses dois e dizer isso a eles", contou a atriz.
Para quem não se lembra, no último capítulo de "Vale Tudo", já rica, Lucimar volta de uma viagem ao exterior vestida igual a vilã da trama.
Em junho deste ano, Maria Gladys foi a grande homenageada do CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto) com o troféu Vila Rica pela sua trajetória no cinema novo e no cinema marginal.
"Foi um momento de felicidade intensa. Até fiquei rouca de tanto dar entrevista", contou a atriz.
Na Globo, após "Vale Tudo", a atriz fez pelo menos mais 26 trabalhos, entre novelas e séries. Alguns deles também como empregada, como Neném em "Salsa e Merengue" (1996) e na série "A Vida Alheia" (2010). Em "As Noivas de Copacabana" (1992), também como doméstica, ela foi uma das mulheres assassinadas pelo protagonista. Seu último papel na TV foi em "Pé na Cova", como Dra. Elisabete Tazcanha.
Hippie em Londres
Quando se mudou para Londres, por conta da perseguição sofrida pela classe artística, viveu uma vida mais de farra do que de privações. Lá ela conviveu com seus já amigos cineastas Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Neville D'Almeida, conheceu a turma dos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outras experiências.
"Vivia em festivais. Não bebia porque eu era hippie e, nessa época, hippie não bebia. Tomava ácido, me abriu a cabeça, revelou muitas coisas. Têm pessoas que piraram, era perigoso. Ainda bem que eu não pirei, se é que é verdade que eu não tenha pirado", disse, aos risos.
Antes dessa temporada, a atriz causou inveja no público feminino ao namorar Roberto Carlos, ídolo da jovem guarda na época. Por dez anos Maria Gladys se recusou a falar sobre o ex, mas agora ela resolveu quebrar o silêncio.
"Não gostava de tocar nesse assunto de Roberto Carlos porque parecia que eu estava querendo aparecer. Mas agora? A gente era muito jovem, eu tinha 17 anos e ele também era garoto. Sempre vou aos shows. É emocionante ver o Roberto. [Quando a gente namorava] ele dizia: ‘Será que vou conseguir chegar lá?’ Comíamos queijo-quente porque misto-quente era caro. Mas hoje ele é um cara fechado. Vejo pouco. Queria conversar, beber um uísque com ele que sei que ele gosta."
Apesar dos excessos, Maria Gladys diz ter uma boa saúde para a idade que tem graças a uma alimentação equilibrada.
"Tenho saúde ótima. Sou macrobiótica, não como coisas que fazem mal. Procuro me alimentar de produtos orgânicos, como arroz integral há 40 anos. Agora mesmo vou fazer uma galinha com quiabo para mim", contou ela, garantindo que apesar dos cuidados com a comida, não é radical e muito menos careta.
"Se vou comer em algum lugar, escolho a opção mais saudável. Mas não sou careta. Nada contra quem é. Tenho uma amiga que fala que é careta, não bebe, nunca fumou maconha, mas não precisa porque é ótima. Eu preciso botar alguma coisa para a cabeça. Tomo todo dia uma cerveja, mas sem excesso. Vê o alcoólatra, que é doente. Não tenho essa doença. Minha doença é não abandonar a cannabis. Isso só me faz bem", afirmou a atriz.
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