Fora do ar, Maria Clara Spinelli desabafa: "Não existe mercado para trans"
A atriz Maria Clara Spinelli é muito lembrada pelo público por seu papel como Mira, cúmplice de Irene (Débora Falabella) em "A Força do Querer". Porém, apesar de todo o sucesso e de ter feito história por ser a primeira mulher transgênero a fazer um papel cisgênero (quando a pessoa se identifica com o gênero de nascença) em uma novela, ela segue sem trabalhar desde outubro do ano passado, quando a trama de Glória Perez chegou ao fim.
Na noite de terça-feira (21), Maria Clara fez um desabafo em seu Instagram e lamentou a falta de oportunidades para atrizes como ela. "Eu, Maria Clara Spinelli, atriz, estou sem trabalhar desde o final da novela 'A Força do Querer'. E, embora eu tenha um 'nome' no meio artístico e seja respeitada e premiada, também ninguém me dá emprego", falou ela.
Maria Clara disse que, em conversa com seu empresário, ele afirmou que o cenário hoje lembra o da inserção de negros no mercado de trabalho artístico.
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"Compartilhando com ele meu desânimo, ele me disse que me oferece, sim, para todas as produções em que existam personagens com meu perfil, mas os produtores de elenco nunca respondem nada, nunca justificam porque não sou sequer selecionada para testes para personagens que não são transgêneros. Meu empresário disse que isso lembra a experiência que ele teve, há muitas décadas atrás, trabalhando com modelos negras. Elas também não eram bem vistas", escreveu.
Maria Clara ainda ressaltou que até hoje só conseguiu fazer um papel que não fosse transgênero graças ao convite de Glória Perez. "Sem falsa modéstia, sou conhecida e respeitada por produtores, diretores e autores (de cinema, teatro e TV). E muitos deles já elogiaram meu trabalho. Mas, com exceção de Glória Perez e da Rede Globo, nunca me ofereceram nenhum personagem que não fosse transgênero", afirmou ela, que interpretou transgêneros na novela "Salve Jorge" e na série "Carcereiros".
Insatisfeita com a falta de convites e de perspectivas em voltar a atuar, ela destacou que não gostaria de viver apenas um tipo de papel.
"Bem, se para o mercado eu só tenho capacidade de fazer personagens transgêneros, então, talvez, não exista uma carreira para mim. Nenhuma atriz sobrevive apenas para fazer personagens transgêneros, não existem tantos assim. E, mesmo que existisse, eu não sou um estereótipo e não aceitaria isso", pontuou.
Por fim, Maria chegou a questionar se conseguirá seguir em frente com sua profissão.
"Deixo aqui esse meu pequeno desabafo, e também uma resposta para todos que gostam do meu trabalho e me perguntam quando me verão novamente em alguma produção. Minha resposta é: 'Não sei, tudo que depende de mim e das pessoas que trabalham comigo está sendo feito, mas não cabe somente a nós'. Talvez, enfim, eu deva admitir que não exista um mercado de trabalho para uma atriz como eu. 'Atriz trans', muitos dizem. E, se não dizem, pensam. Mesmo que não admitam, isso se reflete em tanto tempo de recusa quando sou oferecida para testes nas produções mais diversas há quase um ano. Tenho muito orgulho de toda a minha carreira, de cada personagem que conquistei, transgênero ou não, pois foram grandes personagens que interpretei com amor. E, embora eu ache cedo demais, se minha carreira como atriz se encerrasse aqui, tudo já teria valido a pena", concluiu.
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