Jayme Periard encara envelhecimento tranquilamente: "Galã ficou para trás"
Guilherme Machado
Do UOL, em São Paulo
23/10/2018 04h00
Com 33 anos de carreira e 31 novelas no currículo, Jayme Periard ganhou fama nos anos 80 como um dos principais galãs da televisão. Aos 57 anos, o ator voltou à Globo após um temporada na Record TV para viver Vicente, um homem charmoso e galanteador que mexe com o coração de Nice (Kelzy Ecard). Ele garante, no entanto, que a fase de galã ficou para trás.
“Foi uma fase boa, importante, vivenciei todas as fases da minha carreira e lido com muita tranquilidade com o envelhecimento. A idade tem proporcionando outras aventuras, personagens. [Ser galã] Foi delicioso, mas para juventude”, diz ele ao UOL.
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O ator, que estreou na emissora em "Guerra dos Sexos" (1983), diz se sentir privilegiado por ter acompanhado as diversas mudanças pelas quais a TV passou.
“Há uma diferença na forma de fazer, principalmente pelo desenvolvimento da tecnologia e pela transformação do espectador. Antigamente, o espectador aguentava textos mais longos, hoje em dia isso é impossível. Me sinto muito privilegiado por ter passado por toda essa transformação. Comecei na televisão com grandes mestres que me ensinaram muito. É bastante diferente, mas acho que a essência do trabalho do ator é imutável”.
Com passagens também pela extinta TV Manchete, Band e SBT, o ator coleciona histórias divertidas dos bastidores das gravações de novelas.
“Fizemos ‘Dona Beija’ [Manchete, 1986] em um galpão de papel no final da Avenida Brasil, sem isolamento acústico, sem refrigeração. Acho que é uma paixão, você ter respeito pelo seu ofício. Seja onde for, a gente tem que contar bem [a história], da melhor maneira que pudermos”, afirma.
Machismo e Aids
Na atual novela das 21h, Vicente chega para fazer um contraponto ao machista Agenor, personagem de Roberto Bonfim que passou a trama humilhando a mulher e as duas filhas.
“O mais bacana é que o João [Emanuel Carneiro, autor da trama] escreveu de uma forma que não é ele que causa uma transformação nela, é a transformação dela que permite a chegada desse novo homem na vida”, elogia Periard.
O ator também ressalta a importância de discutir o tema no horário nobre. “Infelizmente há cada vez mais casos de feminicídio, de agressões, uma coisa inadmissível. Acho que é bom a novela discutir esse assunto, principalmente uma novela com tanto sucesso, para ver se a gente consegue reverter esse quadro”.
Periard acredita na força da dramaturgia como forma de alertar o público para as mais diversas causas. Em 1991, ele protagonizou a minissérie “O Portador”, na Globo, na qual interpretava Léo, um homem que contraía o vírus da Aids após uma transfusão de sangue.
“’O Portador’ foi a primeira obra de ficção feita no mundo [sobre o assunto]. Havia uma incerteza muito grande da emissora porque era uma época em que havia uma insegurança. Muita gente naquele momento faleceu, não havia nenhum tipo de tratamento. É um trabalho que tenho muito orgulho de ter feito. Acho que a gente conseguiu ser vitorioso no projeto que, naquele momento, abriu portas para discussões e para combater o preconceito”, relembra.