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"Todo dia perguntam se sou prostituta, se faço programa", diz Léo Áquilla

Amauri Nehn/AgNews
Imagem: Amauri Nehn/AgNews

Jonathan Pereira

Colaboração para o UOL

23/10/2018 06h40

Léo Áquilla falou sobre as dificuldades que travestis e transexuais enfrentam para conseguir emprego. A jornalista disse no "Superpop" de segunda-feira (22) que o preconceito atrapalha na hora de se inserir no mercado de trabalho, o que muitas vezes leva à prostituição.

"Conheço muitas trans que saem pra procurar emprego, mas na primeira semana desistem, não aguentam a pressão. Tem o estranhamento, quando ela entra no estabelecimento comercial, todo mundo olha como se fosse um bicho, um ser de outro planeta. As empresas 'gay friendly' abrem algumas vagas, mas precisamos mudar a palavra 'inclusão' para 'acolhimento', se não os empresários acham que já fizeram sua parte", opina.

Ter formação superior nem sempre é garantia. "Quando sai da faculdade como se insere no mercado de trabalho se tem uma barreira grande que não deixa você avançar? Faz o que com esse diploma? Tem um discurso permeado de muita hipocrisia na sociedade. Tem muita associação de bairro que se mostra contra prostituição de travesti na rua, mas não quer dar emprego. O que ela faz? Sou uma exceção porque sou conhecida, fiquei famosa".

Apesar de casada e na TV, Léo revela que muita gente a enxerga nesse nicho. "Uma das perguntas que eu mais respondo, por incrível que pareça, é se eu sou prostituta. Todo dia alguém pergunta se eu faço programa. Nunca precisei. Não sou hipócrita de dizer, se a fome batesse na porta, talvez eu fizesse", assume.

Ela acredita que é preciso se portar ao disputar uma vaga. "A conscientização tem que vir dos próprios trans. Põe uma roupa e uma maquiagem adequada, se capacita. Às vezes a pessoa tem até boa vontade de dar o emprego, mas aí a trans chega lá um pouco 'baphônica'. Tem que se achar profissionalmente para não virar prostituta". 

Pedradas  

Léo comenta sua trajetória. "Eu vim me assumir mulher trans com 40 anos. Eu não queria passar pelo que muitas passam, que é virar trans cedo, mas vai trabalhar onde? Embora seja uma necessidade biológica, o momento em que você vai se assumir pode ser uma opção", avalia.

Ela afirma, no entanto ,que não é fácil. "Se pudesse escolher ser ou não trans, eu jamais seria. Quem em sã consciência vai querer levar pedrada na rua? Eu saí do bairro apedrejada, não é historinha", recorda.

As paradas LGBT em cidades pequenas são uma forma de diminuir o preconceito, aposta. "O que causa estranheza é o afastamento. A gente vê muitos homens preconceituosos que, quando conhecem algum gay, dizem: 'olha, até que você é gente fina!', porque não tem contato".