Topo

"Me sinto a adolescente do primeiro sutiã", diz Nany People sobre 1ª novela

Nany People será Marcos Paulo em "O Sétimo Guardião" - Fabiano Battaglin/Gshow
Nany People será Marcos Paulo em "O Sétimo Guardião" Imagem: Fabiano Battaglin/Gshow

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

31/10/2018 04h00

"No pódio." É assim que atriz e humorista trans Nany People diz se sentir no atual momento da vida. Aos 53 anos de idade e 33 de carreira, ela foi escalada para "O Sétimo Guardião", de Aguinaldo Silva, que estreia dia 12 de novembro no lugar de "Segundo Sol". 

"Comecei aos dez anos em Minas [onde nasceu]. Embora tenha trabalhado em todas as emissoras como repórter, jurada e tal, novela é a primeira vez. Está maravilhoso. Me perguntam: 'Como está se sentindo?' e a moda agora é ser cool. Ah não! Estou no pódio, né meu bem? Com 53 anos ser convidada a fazer um teste, ser aprovada e chegar em um núcleo deste com essa direção e esse dramaturgo", diz Nany, animada.

Na trama, que trata de segredos que envolvem uma fonte com propriedades curativas e rejuvenescedoras na fictícia Serro Azul, Nany interpreta Marcos Paulo, químico que trabalhou no passado com Valentina (Lília Cabral), empresária e vilã da trama que quer descobrir os poderes da água misteriosa. Ela se aproxima de Marcos para saber o segredo, mas o químico acaba de fazer a cirurgia de redesignação sexual. Mesmo operada, agora ela, Marcos quer manter seu nome.

"Ela faz a cirurgia, toda a transmutação, mas não quer mudar de nome, quer continuar Marcos Paulo. É para enlouquecer o povo da cidade. Chega aquela 'nova loira do Tchan' e ela é Marcos Paulo. Ela é a mulher que se tornou, não se faz de vítima e que faz questão de ser chamada pelo nome", explicou Nany, que terá Lília como principal parceira de cena.

"A primeira vez que a vi em uma reunião eu disse a ela: 'Rezo o Pai Nosso, acendo uma vela, chamo o Samu ou tomo um copo d'água'. Ela falou: 'Me dá um abraço?'. Está sendo muito querida, acolhedora. O elenco e o núcleo que caí me acolheram bem", contou.

Uma das características da personagem será o humor, que não poderia faltar em um texto para a atriz. 

"Há uma ironia muito grande entre Marcos Paulo e Valentina, uma briga de foice no escuro. Vai ter muito humor. Qualquer discurso para ser pertinente tem que ser bem-humorado. É o discurso do Chaplin: 'Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando'. Com humor tudo fica mais palatável."

Inicialmente, o papel de Nany seria feito por Renata Sorrah, que estava reservada para a trama, mas foi substituída pela atriz.

"A responsabilidade é total. Acharam melhor um trans ser feito por uma atriz trans e chegou em mim, embora a casa também tenha atrizes trans. Apareço depois do capítulo 20, começo a gravar semana que vem", disse Nany.

Novo RG

Outro motivo de felicidade para a humorista é uma conquista que levou quase 20 anos para ser concretizada. Há duas semanas Nany pegou seu documento com seu nome e identidade de gênero.

Nany People mostra RG com nome social - Carolina Farias/UOL - Carolina Farias/UOL
Imagem: Carolina Farias/UOL
"Luto há 18 anos para mudar meu nome para Nany People Cunha Santos. Agora consegui meu nome e identidade de gênero. As leis eram outras. Obviamente a gente caminhou muito e evoluiu. Alguns parâmetros foram viabilizados para conseguirmos essas conquistas. Fiz ontem a primeira viagem com o nome de Nany People. Me senti a adolescente do primeiro sutiã a gente nunca esquece [frase famosa de uma publicidade de lingerie dos anos 1980]", disse.

Sobre a personagem, Nany diz não ter expectativa de como o público vai receber uma trans com nome masculino. 

"O fato de eu ter a condição de trans eu aprendi com minha mãe que não era problema meu e sim problema de quem observasse. Para mim nunca foi problema. Nunca tive o não como resposta fácil. Sempre fiz o não virar sim. Fala-se muito hoje em dia ?ah ninguém me representa?. Quem representa a gente é a gente mesmo. Tudo o que eu quis na vida não era possível, não era moral, não era viável, mas sempre fiz o não virar sim", afirmou.