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Aguinaldo pede que ex-alunos o reconheçam como responsável supremo de trama

A Globo reconhece que Aguinaldo Silva e os alunos de um curso ministrado pelo autor são os coautores de "O Sétimo Guardião" - TV Globo/Divulgação
A Globo reconhece que Aguinaldo Silva e os alunos de um curso ministrado pelo autor são os coautores de "O Sétimo Guardião" Imagem: TV Globo/Divulgação

Ana Cora Lima

Do UOL, no Rio

20/11/2018 04h00

O imbróglio envolvendo Aguinaldo Silva e os 26 alunos de um curso ministrado pelo autor em 2015, que resultou na sinopse de "O Sétimo Guardião" continua. Nesta segunda-feira (19), o UOL teve acesso a uma troca de mensagens de um dos roteiristas participantes do curso com o secretário de Aguinaldo, Francisco Patrício.

Na troca mensagens foram estabelecidas algumas "regras". Um ex-aluno, que preferiu não se identificar, confirmou a informação e garantiu que os outros colegas também receberam o "aviso". Quem não cumprir as tais normas corre o risco de ser processado por danos morais, onde o autor pediria R$ 500 mil reais.

"Não quero confusão, mas está na cara que eles estão querendo impedir que o grupo faça o mesmo que o Silvio Cerceau, que é entrar na Justiça também pelos direitos patrimoniais da trama", entregou outro roteirista, procurado pela reportagem e, que também pediu anonimato.

Francisco Patrício diz que "eles" não vão tolerar quem negue que o autor teria começado o curso já apresentando a ideia guia da história e que seria o "responsável supremo" por toda criação do projeto resultante, no caso a novela "O Sétimo Guardião".

Ex-alunos de Aguinaldo Silva receberam mensagens com novas normas sobre a confusão envolvendo a autoria de "O Sétimo Guardião"  - Reprodução/Montagem UOL - Reprodução/Montagem UOL
Ex-alunos de Aguinaldo Silva receberam mensagens com novas normas sobre a confusão envolvendo a autoria de "O Sétimo Guardião"
Imagem: Reprodução/Montagem UOL
Ofensas públicas e pessoais e a não-confirmação que a inserção de créditos dos alunos ocorreu por uma solicitação do próprio autor também não serão toleradas. No texto, Patrício informa que Aguinaldo Silva entrou com novo processo contra Sílvio Cerceau.

"Ele entrou com outro processo no último dia 13, um dia depois da estreia da novela pedindo danos morais. Tem até uma liminar exigindo que eu apague todas as postagens referentes a ele e a novela das minhas redes sociais, declarando que eu seja o autor da sinopse e quer  também uma indenização de R$ 500 mil. Ainda não recebi nenhuma notificação e o meu advogado só descobriu porque foi ver como andava o primeiro e veio essa nova informação. Se pensar bem é uma medida contraditória porque a própria Globo reconheceu a minha autoria. Estranho", confirmou Cerceau. 

Cerceau contou que briga pelos bens patrimoniais segue na Justiça. "Vamos agora pedir os contratos dele com a TV Globo para apurar o valor patrimonial. Também não tirei o processo por danos morais", contou o roteirista, que ficou surpreso ao saber do aviso que os outros alunos estão recebendo.

"Pensei que depois do reconhecimento da nossa coautoria por parte da emissora, que passou por cima dele, o Aguinaldo fosse deixar pra lá, mas ele continua tentando coagir a turma assim como ele fez pedindo os direitos exclusivos. Eu li e para quem saber ler isso é uma ameaça. Ou seja, faça alguma coisa que eu vou processar", finaliza. 

Entenda o caso

A confusão sobre a autoria de " Sétimo Guardião" começou em novembro do ano passado quando surgiram as primeiras notícias sobre a aprovação da obra de Aguinaldo Silva para o calendário de 2018. O autor teria apresentado a ideia para a direção da Globo, que aprovou e deu carta branca para prosseguir com a trama.

Na época, segundo Silvio Cerceau, a assessoria do autor entrou em contato com os ex-alunos para informar que todos receberiam a devolução da taxa de inscrição --na época R$ 4.000-- paga com juros e que isso só aconteceria se as pessoas assinassem um novo contrato cedendo gratuita, total, irrevogável e exclusivamente os diretos. A maioria aceitou, mas ele se negou.

"Não existe uma novela sem a sinopse. A dinâmica funciona com a emissora primeiro lendo a sinopse de uma novela e aí ela compra os direitos e a novela passar a ser escrita. O autor da novela pode ser também o autor da sinopse, mas a direção pode comprar e passar para outro roteirista desenvolver. No caso de 'O Sétimo Guardião', quem escreveu as tramas, os 50 personagens, os cenários, o mistério do gato e da fonte fomos nós, os alunos. A única coisa que o Aguinaldo Silva fez foi ditar a escaleta do primeiro capítulo", afirmou Cerceau no final de outubro quando entrou  na Justiça com um pedido de liminar (decisão provisória) exigindo seu nome nos créditos da nova trama das 21h.

Depois de muita discussão e até mesmo ameaça de cancelamento da produção, a própria Globo manifestou o seu interesse em dar os créditos aos alunos.

"Diante das informações e esclarecimentos prestados por Vossas Senhorias, no que diz respeito à novela 'O Sétimo Guardião', de que a sinopse inicial foi desenvolvida pelo autor Aguinaldo Silva a partir de ideias e colaborações de 26 alunos que participaram do curso 'Masterclass', promovido pela Casa de Artes Produções Artística, Literária, Cursos, e Eventus Culturais EIRELI-ME, na cidade de Petrópolis-RJ (sendo certo que os direitos autorais patrimoniais oriundos de tal colaboração já foram cedidos a esta emissora por Termo de Cessão datado de 28 de fevereiro de 2018), a TV Globo informa que concederá os créditos aos mencionados alunos quando da exibição de 'O Sétimo Guardião' na grade de programação desta emissora, cuja estreia está prevista para o dia 12 de novembro de 2018", disse a emissora no documento.

Os créditos apareceram na estreia da trama dia 12 de novembro.

A reportagem procurou Aguinaldo Silva e não obteve respostas. Já a assessoria de Comunicação da TV Globo informou que a emissora não faz parte da ação judicial mencionada e não comenta casos pendentes de avaliação do judiciário.