Cassio Scapin tem foto nu em peça censurada: "Disseminou-se a ignorância"

O #tbt (sigla em inglês para "regresso de quinta-feira"), brincadeira em que usuários de redes sociais publicam fotos antigas, tornou-se um incômodo para Cassio Scapin. O ator compartilhou em seu Instagram uma imagem dele na peça "Pantaleão e as Visitadoras", de 1990, mas a postagem foi censurada porque ele estava nu.

Indignado, Scapin publicou uma foto da escultura "Davi", de Michelangelo, um dos nus mais famosos da arte. "Aos puritanos e hipócritas de plantão! Já que a foto que publiquei no meu #tbt de 1990 foi censurada, "Davi" de Michelangelo! O mesmo que pintou o teto da Capela Sistina! Coisa sacra!", escreveu.

Ao UOL, Scapin conta ter sido criticado por pessoas que só conseguem enxergá-lo na pele de um único personagem: Nino, de "Castelo-Rá-Tim-Bum", premiada série infantil lançada em 1994 pela Cultura.

"Recebi comentários como: 'Você não tem o direito de destruir a infância das pessoas'. Elas se sentem ofendidas quando saio desse nicho. É uma foto da Lenise Pinheiro com tratamento artístico. Não há nada de imoral, indecente, sensual ou sexual. Para onde vamos? Vai virar uma loucura!", critica.

O ator, que está em cartaz com duas peças --uma como diretor e outra como ator--, também tem sido chamado de "petralha" e comunista", embora tenha várias críticas aos governos anteriores.

"Criou-se uma disseminação da ignorância muito grave. Acho terrível o que está acontecendo, em que alguém estabelece uma verdade e a pessoa não quer nem saber. Isso, sim, é um processo de autoritarismo", avalia Scapin.

Para o artista de 53 anos, as pessoas que censuraram sua foto não entenderam a mensagem de "Castelo Rá-Tim-Bum" nem o significado de nudez na arte. No programa infantil, por exemplo, as crianças puderam conhecer quadros como "O Nascimento de Vênus", obra-prima de Botticelli, em que Vênus aparece completamente nua.

"Acho que viram 'Castelo' como viram 'Chaves'. 'Castelo Rá-Tim-Bum' tem uma coisa que muita gente não nota, que é uma família disfuncional. Nino não tem mãe, não tem pai, é criado por um tio e uma tia-avó e mora sozinho. As pessoas não têm capacidade de ler isso", afirma.