Jô Soares relembra censura de diretor: "Fui falar com o Boni"
Jô Soares relembrou no "Conversa com Bial" de quarta-feira (28) como era fazer humor nos tempos da Ditadura Militar (1964-1985). Ele conta que o boicote não vinha apenas de Brasília, mas dentro da Globo também.
"Plena repressão, tinham personagens que eram proibidos, Gandola ficou um ano e meio no ar, descobriram que 'gandola' é o nome de uma túnica do exército. O Capitão Gay, o Borjalo, que era diretor artístico na época, cortou, falou: 'não pode, porque o governador de Brasília é um coronel gay, isso vai dar problema'".
Jô decidiu reclamar com a alta direção da emissora. "Fui falar com o Boni. 'Bonifácio, assim fica difícil. A gente não pode falar de política, aí faz uma crítica social, falando do movimento gay, a favor, e também não pode? Fica demais'. Ele disse 'quem falou que não pode?'. Ligou para o Borjalo, falou: 'Borjalinho, eu vou querer peitar, deixa aí o Capitão Gay, pode deixar, eu me responsabilizo'. E foi um puta sucesso".
A figura política citada por Borjalo apareceu. "Um dia estou no aeroporto e escuto alguém me chamando 'Jô, sabe quem eu sou? Sou o coronel gay, adoro o personagem, sobretudo tenho um sobrinho que é capitão da Marinha e todo mundo enlouquece ele, eu me divirto demais'", recorda.
O humorista nega desavenças com Chico Anysio. "Nunca houve competição. Tem um personagem, Valdir, que ele escreveu para mim, falou 'você vai fazer melhor que eu'. Quando eu voltei para a Globo para fazer programa de entrevista, criou uma certa ciumeira, ele falou que não ia me dar em entrevista".
A migração do humor para talk show também foi assunto. "Na época, o Boni disse que não tinha espaço para fazer o programa que eu queria. Um ano e meio depois que estava no SBT, ele queria que eu voltasse. Mas seria deselegante com o Silvio Santos, que me abriu as portas para eu fazer o que queria, tinha de ficar um pouco. Fiquei dez anos".
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