Globo quer de volta público de novela e investe pesado no Globoplay em 2019
O ano vindouro será decisivo para o Globoplay, serviço de streaming da maior emissora do país. O principal desafio é conquistar os telespectadores que ainda assistem aos conteúdos na TV e que dão sinais de cansaço do formato das produções da casa. A queda de audiência, sobretudo nas novelas, como acontece agora com "O Sétimo Guardião", é o maior indício desse desgaste.
Somente no primeiro semestre, serão lançados 300 títulos, entre séries e filmes. Há produções exclusivas como a segunda temporada de "Ilha de Ferro", cuja primeira temporada permanece inédita na TV aberta, "Shippados", estrelada por Tatá Werneck, e "Aruanas", protagonizada por Taís Araújo, Débora Falabella, Leandra Leal e Thainá Duarte.
O cardápio de séries estrangeiras também vai crescer consideravelmente de 20 para cem séries, a partir de 1º de janeiro.
Criado em 2015, o Globoplay quer encostar na gigante Netflix ao menos no Brasil. Em uma conversa com jornalistas no início deste mês, o diretor-geral da plataforma, João Mesquita, deixou clara a intenção da empresa. "Posso garantir o seguinte: no final do ano que vem, nós teremos tantos assets [produções] quanto tem a maior das plataformas que opera no mercado brasileiro".
A primeira série lançada foi a americana "The Good Doctor", em agosto passado. A tática de lançamento foi exibir os primeiros dois episódios na faixa de filmes "Tela Quente", atração das segundas. A estratégia deu certo e nos quatro dias seguintes o site registrou oito vezes mais assinaturas.
Em setembro, a emissora fez o mesmo com a série "Assédio", baseada na história dos crimes do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado por estuprar pacientes, e em novembro foi a vez "Ilha de Ferro" ganhar um capítulo especial na TV aberta, no mesmo horário.
Estrelada por Cauã Reymond e Maria Casadevall, a produção é o carro-chefe em termos de divulgação e rivaliza com "The Good Doctor" no ranking de conteúdos mais vistos por lá.
No início da semana passada, a Globo fez alarde do serviço com uma reportagem em seu principal telejornal. Foram destacadas as novidades do aplicativo, como baixar no celular o programa favorito para assistir depois, e o catálogo de novelas disponível. Quase uma peça promocional, a reportagem foi ao ar no "Jornal Nacional" e teve mais de três minutos de duração, o que pode ser considerado uma eternidade para o horário mais nobre da TV brasileira.
Na opinião do colunista do UOL Mauricio Stycer, o Globoplay quer conquistar esse telespectador que ainda assiste as novelas.
"Ela quer pegar esse cara. Aqueles que ainda assistem novela, na hora que eles virem várias séries em sequência, não vão querer ver mais novela. Série é melhor, mais confortável. Em 13 episódios, tem início, meio e fim", analisa.
Segundo Leonardo Ferro, diretor e um dos fundadores da VOCs, produtora de conteúdo em streaming, a Netflix mudou o comportamento dos consumidores de entretenimento, mas o que prende o usuário não é um ou outro título de produção.
"O apelo da Netflix não é um 'House of Cards'. O valor é o acervo. Ninguém assina só por um título, ninguém paga se não tem acervo, tem que investir", disse Ferro.
Para o especialista, o fato de a Globo enfatizar que o conteúdo das novelas também está no Globoplay pode atrair esse telespectador de volta para a tela da TV aberta, ao fazê-lo se interessar novamente pelas tramas.
"Existem dados que comprovam isso, essa volta. Se chama conexão entre telas."
Apesar de ainda patinar na audiência na telinha, "O Sétimo Guardião" é um dos títulos mais vistos no Globoplay, segundo o diretor-geral da plataforma.
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