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Alexandre Garcia diz que, "mesmo sem Globo", não trabalhará com Bolsonaro

O jornalista Alexandre Garcia, recém-saído da Globo, postou foto ao lado de Jair Bolsonaro no dia da posse presidencial - Reprodução/Twitter
O jornalista Alexandre Garcia, recém-saído da Globo, postou foto ao lado de Jair Bolsonaro no dia da posse presidencial Imagem: Reprodução/Twitter

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

02/01/2019 21h17

Uma semana após ter anunciado sua saída da Globo, Alexandre Garcia comunicou nesta quarta-feira (2) que não trabalhará no governo de Jair Bolsonaro. O jornalista, que estava cotado com porta-voz do novo presidente depois de apoiá-lo publicamente, rechaçou qualquer possibilidade de voltar ao cargo público que já ocupara na gestão de João Figueiredo na ditadura militar.

Em seu perfil no Twitter, Alexandre Garcia publicou um texto em que anuncia que continuará trabalhando como jornalista em 15 jornais e 280 emissoras de rádio que recebem seus comentários. Ele relembrou o trabalho na ditadura militar e disse ter trabalhado na transição de Figueiredo para um presidente civil, o primeiro desde 1964.

Alexandre Garcia foi um dos jornalistas convidados para acompanhar a posse de Bolsonaro, na última terça. Tirou fotos com o presidente e o vice, Hamilton Mourão, além do ministro da Justiça, Sergio Moro, entre outras personalidades. A presença do ex-global aumentou o rumor de que ele trabalharia no novo governo.

Leia a íntegra do texto de Alexandre Garcia:

"Devo explicações aos milhares de amigos que, nas redes sociais, apelam para que eu seja porta-voz do novo presidente da República. Muitos chegaram a lançar campanhas para me convencer ou para pressionar o governo. Pois devo explicar que há 40 anos aceitei com entusiasmo o convite do presidente Figueiredo para integrar sua equipe de comunicação social, com uma missão. Uma tarefa sem descanso. Entrava-se às oito da manhã no palácio e saía-se lá pelas dez, depois de esclarecer tudo o que os noticiários da noite haviam deixado no ar. Viagens, hotéis, pistas rudimentares, andanças pelo país e um presidente informal que gostava de improvisar, dando tiro na própria cuca. Não havia hora nem lugar que não fossem o do dever.

Certa vez, em casa, eu tirava o suor no chuveiro, minha mulher irrompeu ao banheiro com um ultimato: 'Ou eu ou o Figueiredo'. E optei por Figueiredo. Tive a honra de anunciar em 17 de agosto de 1980 que a sucessão de Figueiredo seria civil. A campanha Diretas-Já começou quase três anos depois. Por isso estranho quando ouço de alguns: 'Derrubamos a ditadura'. Fui intermediário de encontros do presidente com líderes da oposição, como Brizola, Alceu Collares e Freitas Nobre, costurando a transição. Também intermediei a aproximação da família de JK, no que resultou o Memorial JK. Mas já se passaram 40 anos e não tenho a mesma vontade de acordar cedo e dormir tarde e passar a vida viajando em correria --e isso que eu era um subsecretário. Acima de mim, havia o secretário de imprensa e o ministro.

Mesmo sem Globo, hoje não posso deixar na mão os 15 jornais que recebem meu artigo semanal e as 280 emissoras de rádio que amealhei ao longo de 30 anos, e que recebem meu comentário diário, por contrato. Minha origem é o microfone, em que eu falo desde os sete anos, como ator infantil de radionovela, em tempos em que tudo era ao vivo. As rádios me permitem chegar aos capilares do país, todos os dias pela manhã."