Marielle e vítimas de João de Deus inspiram atriz "apedrejada" em "Jesus"

"Aquele que nunca pecou, que atire a primeira pedra". O versículo do livro de João será encenado nesta terça-feira (22) na novela bíblica "Jesus", cujo personagem principal é interpretado por Dudu Azevedo. Ele fará Laila (Manuela do Monte) escapar de ser apedrejada como punição por adultério.
A sequência começou no capítulo de segunda, quando Laila é flagrada pelo marido Simão Fariseu (Rafael Sardão), que fica furioso por ter descoberto que a mulher o traiu com seu amigo Jairo (Felipe Cunha). Para Manuela do Monte, a cena que culminou no quase apedrejamento da personagem foi a mais intensa de sua carreira, que na TV começou há 16 anos, em "A Casa das Sete Mulheres" (Globo).
"Fiz muitas mocinhas na televisão. Fico muito feliz pela oportunidade de fazer algo diferente, primeiro com a Débora [em 'Apocalipse'] e agora com a Laila, de mostrar uma força maior, trabalhar com outra energia. Foi, com certeza, a sequência mais forte que já tive que gravar em toda a minha trajetória como atriz. Foi fisicamente intenso, emocionalmente intenso. Foi um desafio gigante", avalia em entrevista ao UOL.
Dança e terapia holística
"Encontrei uma atriz que é terapeuta holística, Rita Sinara, que me propôs uma reflexão de encontrarmos pontos de intersecção das minhas referências e vivências pessoais com os dramas da Laila. Também tive encontros com o preparador Raffaele Casuccio, ator e dançarino italiano que já coreografou para o [Luciano] Pavarotti. Ele faz um trabalho muito físico. Pensamos na cena do apedrejamento, foi bem potente", elenca.
A intérprete de Laila leu a Bíblia e ouviu músicas para não se distrair com os equipamentos e se concentrar ao máximo antes da gravação, concluída na última semana: "Encontrei um texto lindíssimo retratando esse trecho bíblico. Inclusive levei escrito no dia da cena, escondido no meu figurino. O texto falava que todos queriam ver esse espetáculo de horrores e brutalidade, e Jesus lhes deu um, dentro de suas próprias mentes".
Travesti, Marielle e vítimas de João de Deus
"Uma história que me motivou muito foi da Dandara dos Santos, uma travesti, apedrejada e assassinada a tiros no Ceará. Também vi o vídeo da Tatiane Spitzner, agredida pelo marido no elevador, depois assassinada por ele e jogada do quarto andar. Vi um apedrejamento de 2015, no Afeganistão, de uma menina que foi forçada a casar, tentou fugir com um rapaz da idade dela e foi apedrejada. É muito triste."
A vereadora Marielle Franco, assassinada com quatro tiros no Rio de Janeiro, e as vítimas do médium João de Deus (mais de 300, segundo o Ministério Público de Goiás) também não saíram da cabeça de Manuela do Monte durante as gravações da condenação de Laila.
"Lembrei do episódio do João de Deus, ficou no meu imaginário e esteve muito comigo, porque veio à tona pouco antes de a sequência ser roteirizada para gravarmos. E pensei muito na própria Marielle, caso até hoje sem resposta, e em todas as mulheres. Quando eu estava em cena, eu pensava: 'Neste momento, há alguém vivendo uma história de violência'", lamenta.
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