"Não há mundo sem racismo", diz atriz que vive ex-escrava em novela das 19h
Em "O Tempo Não Para", Cesária, uma das escravas da família Sabino Machado, foi congelada no século 19 e foi acordar apenas em 2018, quando o mundo já havia mudado. Agora uma mulher livre, ela manteve seu estilo divertido, firme, e conquistou não só o sucesso financeiro, como se transformou em uma das personagens mais queridas da novela das 19h.
Para sua intérprete, a atriz Olívia Araújo, a personagem teve uma grande trajetória, enquanto a novela ajudou a discutir o racismo na atual sociedade brasileira, sem didatismo.
"Todo assunto que a gente aborda é sempre instigador para todos os lados: para mim, enquanto atriz e para a sociedade em geral. Acho que a novela trouxe esses assuntos sem ser didático, pesado, da forma como acontece realmente na sociedade. O racismo está na nossa sociedade brasileira como no mundo, não existe um mundo sem racismo", diz ela em entrevista ao UOL.
Para Olívia, é importante sempre lutar pelo respeito acima de tudo: "A questão é o direto e o respeito ao ser humano independente da sua etnia. A gente infelizmente vive uma questão de racismo. O que a gente precisa é ter respeito. Você pode não ser amigo, mas você tem que respeitar. Somos todos seres maiores, temos etnias diversas".
Atriz de muitos trabalhos na TV e no cinema, Olívia Araújo sempre traz diversas facetas para figuras que interpreta. Na TV, interpretou uma série de empregadas domésticas, o que pode ser visto como reflexo das poucas oportunidades de papéis de destaque para atores negros na televisão, como defendeu o crítico do UOL, Maurício Stycer.
Ela, porém, desconversa sobre a representatividade e diz que sempre dedica 100% de si aos personagens.
"Eu sou uma atriz e faço as personagens que me derem. Vejo dignidade nas empregadas domésticas como vejo dignidade nos médicos, nos engenheiros. Tento fazer sempre com a maior excelência, com a maior alegria porque são pessoas e é uma profissão", afirma.
Despedida
Na reta final da novela, Olívia garante que sentirá saudades de Cesária. "É uma personagem que esteve envolvida nas histórias de todos. Uma trajetória bonita dessa mulher que é congelada escrava, acorda livre e vai aprender aos poucos o que é essa liberdade, descobrindo que os valores dela permanecem de alguma forma nesse momento atual, e que faz questão de manter as tradições dela de alguma forma".
Na opinião da atriz, o público teve empatia com Cesária porque se identificou com a ex-escrava. "Ela tem muito de nós, do povo brasileiro. Essas pessoas que trabalham, que estão em busca de seu reconhecimento, de seu lugar ao sol. Tem uma dignidade, uma honestidade que está ali".
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