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Ex-Carrossel cria time e critica preconceito com games em ataque de Suzano

Matheus Ueta participa do evento Go For Gaming - Reprodução/Instagram
Matheus Ueta participa do evento Go For Gaming Imagem: Reprodução/Instagram

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

16/03/2019 04h00

Matheus Ueta, conhecido na TV como o Kokimoto de "Carrossel", tem outra identidade nos esportes eletrônicos, ou e-sports: ele é simplesmente uetA, jogador de CS:GO, quarto título principal do game de tiro Counter-Strike. Aos 14 anos, o ator montou seu próprio time (Tox1c Gamer E-Sports) e se sente pronto para participar de campeonatos pelo Brasil.

"Criei meu time em agosto de 2018. No começo, tive medo de que, quando entrasse na comunidade gamer, tivessem preconceito com isso. Mas foi totalmente ao contrário. Acho muito legal ter uma pessoa de outra área diferente da televisão para apoiar em uma nova carreira", comemora Ueta em entrevista ao UOL.

"Massacre é fruto da intolerância"

Apaixonado por games, o ator se abalou com o massacre na escola estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), tanto pela tragédia --com dez mortos, incluindo os autores dos disparos-- quanto pelo preconceito contra os games de tiro, apontados erroneamente como influenciadores do ataque.

Matheus Ueta acompanhou nas redes sociais a campanha "Somos Gamers, Não Assassinos", tag que ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter, após declarações de personalidades, como a novelista Gloria Perez, e até do vice-presidente da República, General Hamilton Mourão, culpando jogos pelo atentado.

"Conheci uma comunidade muito unida. Os jogos são em grupos, normalmente com cinco pessoas por time. Você aprende a trabalhar em grupo, como seguir regras. As pessoas acabam entendendo como viver em sociedade, que é o que mais falta hoje. Foi o que aconteceu em Suzano, infelizmente", lamenta Ueta, que reclama da falta de empatia e do excesso de intolerância entre as pessoas.

"Foi bem mais do que preconceito. Os caras tinham desequilíbrio mental. Podem ter várias causas, mas a sociedade está doente. Podemos ver isso no bullying, algo que causa muitos problemas, a homofobia e a intolerância em geral. A política, que deveria nos ajudar a viver em uma sociedade melhor, está pura intolerância, puro ódio no Brasil", critica.

"Preconceito vai acabar"

Matheus Ueta com seu uniforme do Tox1c Gaming E-Sports - Reprodução/Instagram/matheusueta - Reprodução/Instagram/matheusueta
Matheus Ueta com seu uniforme do Tox1c Gaming E-Sports
Imagem: Reprodução/Instagram/matheusueta
Matheus Ueta acredita que os jogos são discriminados pela ignorância de quem nunca ouviu falar nos e-sports. Embora esteja triste e revoltado com o tratamento dado aos games após o ataque de Suzano, ele tem fé que o preconceito vai acabar.

"Não dá para ter esse preconceito com os games e os gamers. As pessoas têm uma visão muito errada. Quem discrimina não conhece, porque quem conhece a comunidade sabe como é. Esse preconceito um dia vai acabar, porque as pessoas vão perceber que o mundo precisa de união, e a comunidade gamer dá esse exemplo", torce.

Uma das pessoas que discriminavam os games e hoje abraçam a causa é a própria mãe de Matheus Ueta, Melissa. Ela torceu o nariz quando soube que o ator queria ser um jogador de e-sports, mas hoje conhece a comunidade e se orgulha da paixão do filho.

"Minha mãe não curtia, não gostava, e hoje ela me apoia demais no jogo. A partir do momento em que ela conheceu como é o pessoal, ela frequentou os campeonatos, ela apoiou e falou: 'É um pessoal muito legal, e eu fico muito feliz por você se envolver com pessoas assim, porque são amizades que vão acrescentar na sua vida, e sei que você pode acrescentar algo na vida dessas pessoas'", conta Matheus.