"Foi censura e desserviço", diz atriz de comercial vetado por Bolsonaro
Os atores que participaram do comercial do Banco do Brasil vetado pelo presidente Jair Bolsonaro ficaram decepcionados com a retirada da campanha publicitária do ar, que tinha como foco o público jovem com atores que representavam a diversidade racial e sexual.
No ar desde o início de abril, a propaganda do BB foi suspensa no último dia 14 depois que Bolsonaro assistiu ao filme. "Isso foi censura, foi um desserviço ao mercado de comunicação. A diferença incomoda, né. É um retrocesso sim, sem dúvidas, mas na verdade é algo que está no presente. O pensamento atrasado é o padrão de muitas pessoas", lamentou a atriz Melanie Swidrak, que aparece nos segundos finais do vídeo.
No comercial, os atores são quase todos jovens, com mulheres e homens negros, com tatuagens e cabelos coloridos, e uma das personagens é transexual. Durante a seleção, que ocorreu nos dias 14, 15 e 16 de março, Melanie conta que ficou admirada e feliz por ver elenco tão diversificado.
"Finalmente vi diversidade no casting. Foi visível que teria todos os tipos de modelos e corpos. Isso deveria ser constante na publicidade. Mas o que posso dizer é que esse tipo de atitude [do presidente] chamou muito mais atenção do que se não tivesse sido vetado", afirmou a atriz, que é lésbica.
O dançarino e ator africano Mister Prav disse que ficou surpreso com a decisão do governo de retirar a propaganda. "Eu não esperava, mas acho que o presidente deu sua ordem e temos que aceitar querendo ou não. Sou apenas um estrangeiro vivendo da minha arte fora de casa. Sinceramente espero que situações como essa não voltem a acontecer e que o Brasil possa crescer mais, pois é uma grande nação", afirmou ele à reportagem.
O ator e drag queen Gabriel Morgante, que aparece nos primeiros segundos do vídeo, se manifestou pelas redes sociais. Em seu Instagram, ele disse estar indignado.
"É com grande indignação e decepção (mas decepção essa, esperada) que questiono à vocês: é sério que os limites do discernimento do "representante máximo da nação" não existem? É sério que tamanho retrocesso, ignorância e censura seja declarada em pleno 2019? Que a arte e a diversidade resista sempre! Eu como ator, gay, drag queen e artista lutarei sempre para que as vozes oprimidas sejam ouvidas", desabafou ele.
Diretor demitido
O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, acatou um pedido do presidente Jair Bolsonaro e demitiu o diretor de marketing Delano Valentim.
O banco confirmou a ligação do presidente para Novaes e que o executivo do banco atendeu aos pedidos de Bolsonaro, de acordo com matéria publicada ontem no jornal O Globo.
Oficialmente, Novaes disse que foi "uma decisão de consenso". Pessoas que teriam acompanharam as discussões, no entanto, afirmaram que o presidente do Banco do Brasil não tinha visto a campanha até a ligação do presidente.
Matéria publicada hoje na Folha de São Paulo diz que o governo de Jair Bolsonaro determinou que, a partir de agora, empresas estatais submetam previamente à avaliação da Secom (Secretaria de Comunicação Social) campanhas publicitárias de natureza mercadológica.
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