Fagundes fala da morte, tema de nova novela, e critica governo: "desmanche"
Com 70 anos de idade e 43 só de Globo, Antonio Fagundes será mais uma vez protagonista de novela. Desta vez, ele será Alberto, um empresário à beira da morte em Bom Sucesso, nova trama das 19h. A novela de Rosane Svartman e Paulo Halm vai abordar a morte do ponto de vista de quem está com uma doença terminal, e a literatura, já que Alberto é dono de uma editora. Em entrevista nos bastidores da novela nos Estúdios Globo, no Rio, Fagundes falou sobre o novo papel, teatro e também fez críticas ao governo federal.
"O grande interesse da novela é que aborda o aspecto da vida e da morte, uma coisa que a gente quase nunca fala. É gozado isso. A gente não fala da velhice e da morte. Se a velhice chegar, não morremos e, se não chegar, é porque morremos", disse o ator.
Fagundes afirmou que o passar dos anos não é encarado como um problema por ele, que até esperava por isso, conforme relatou.
Sempre lidei bem com a velhice. Brincava que tinha uma nostalgia da velhice, sempre queria ser mais velho. Achava que a velhice seria interessante e estou confirmando isso. Não dá mais para subir a escada de três em três [degraus], mas subo de dois em dois, lido muito bem.
Além da novela que tem estreia prevista para dia 30 deste mês, o ator está no ar em mais três reprises: Por Amor, de 1997, exibida no Vale a Pena Ver de Novo; Porto dos Milagres, de 2001, e Terra Nostra, exibida em 2000, ambas no Canal Viva.
"Tenho medo de o povo falar: 'Para, não aguento mais'. É interessante, é uma forma de a gente ver a evolução e a involução. Ganhamos algumas coisas com nossas novelas, mas, ao mesmo tempo, parece que perdemos outras. Algumas [novelas] antigas fazem sucesso por causa de um tipo de ritmo que hoje ninguém mais está a fim de ver. As pessoas hoje em dia estão precisando de mais tempo, mais calma."
Além das novelas, Fagundes não abandona os palcos --atualmente está em São Paulo com a peça Baixa Terapia, em cartaz desde 2017. Na comédia, ele reúne a família, incluindo a atual mulher, Alexandra Martins, e a ex, Mara Carvalho.
Diante dos avanços tecnológicos, estar no teatro para o ator vai além da atuação.
Teatro ainda é uma coisa revolucionária. Hoje é revolucionário reunir 700 pessoas em uma plateia por uma hora e meia, no escuro, sem mexer na maquininha infernal e prestando atenção em seis atores desenvolvendo uma ideia, isso é uma revolução. É mais calmo que mexer no seu iPhone.
Fagundes vê desmanche na cultura
Sem citar nominalmente o presidente Jair Bolsonaro (PSL), o ator disse, após ser questionado em entrevista coletiva, ver com preocupação o momento atual que o país vive para o setor cultural.
É terrível esse momento de desmanche que estamos passando. Vemos museus e pinacotecas ameaçados com corte de verba. Quando falamos de cultura sempre pensamos no teatro, cinema, mas não é só isso. Tem circo, dança, música, o patrimônio histórico. Estamos vendo museus pegando fogo e nada sendo feito para que sejam reconstruídos.
O Ministério da Cultura foi extinto em janeiro, e o atual governo federal alterou as regras da Lei Rouanet, principal ferramenta de financiamento cultural no país, restringindo os valores de patrocínio.
Na opinião de Fagundes, a cultura deve ter ajuda do governo para cumprir seu papel.
"O governo tem obrigação sim de investir em cultura. Tem algumas coisas que, se governo não patrocinar, ajudar, subsidiar, não vão para a frente. Se não fosse patrocínio, não teríamos Da Vinci, Michelangelo, Bethoven e grandes obras que foram subsidiadas."
Apesar de defender subsídio para cultura, Fagundes diz não usar patrocínio em suas peças.
"Eu particularmente, nunca tive patrocínio. Não gosto de trabalhar com patrocínio. Gosto de saber que minha relação é diretamente com a plateia. O que acontece comigo de diferente nesse sentido é que estou dois anos em cartaz por causa disso, com quase 250 mil expectadores. Fizemos inclusive viagens internacionais."
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