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Rafinha Bastos critica Bolsonaro: "Celebrar torturador não é piada"

Rafinha Bastos no estúdio do UOL - Lucas Lima/UOL
Rafinha Bastos no estúdio do UOL Imagem: Lucas Lima/UOL

Do UOL, em São Paulo

17/08/2019 16h44

Rafinha Bastos sempre defendeu a liberdade no humor, mas o humorista deixou claro que, em sua opinião, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não pode ser tratado como comediante quando exalta a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador da ditadura militar que teve seus crimes reconhecidos pela Justiça.

"Tivemos uma ditadura militar neste país. Pessoas inocentes foram torturadas e assassinadas. Quer fazer piada de mau gosto? Faça, eu estou do seu lado. O que o Bolsonaro fez, apoiando um torturador, não é piada. Se fosse, eu riria. Não é uma piada ruim. Ele está celebrando um torturador. Se ele tirar sarro e fizer uma piada a favor do torturador, eu vou entender. Mas se você for publicamente apoiar um torturador, receber a mulher dele e celebrar como um herói nacional... Pera aí! Teve gente que foi assassinada nesse país, velho", desabafou Rafinha.

O assunto foi motivo de longo debate no programa "Pânico com Rádio", da Jovem Pan. O apresentador Emílio Surita justificou que a ditadura militar foi uma "guerrilha" e parte da Guerra Fria. "Eu não acho de bom tom mexer em Auschwitz, mexer com Holocausto... Mas vocês estão distorcendo a tese", disse. E ironizou, enquanto fingia chorar: "Vocês têm toda a razão, parabéns. Olha, Bolsonaro, é péssimo falar do Ustra. Rafinha, desculpa".

Rafinha rebateu. "Mas, Emílio... Brincar com isso é ok. Mas se ele quer relativizar... Não dá para colocar no mesmo pacote e achar engraçado quando o cara defende isso falando sério. Ele não teve a motivação do humor. Todas as vezes em que eu errei e senti vergonha de mim mesmo, foram as vezes em que eu falei sério. Todas as vezes em que eu me equivoquei, eu tinha uma opinião sobre alguma coisa e estava falando sério", disse.

"Só que eu consigo diferenciar os momentos em que eu falei sério e os momentos em que eu brinquei. Hoje, com o Bolsonaro, a gente está colocando o pacote da zoeira com momentos em que não tem zoeira. Quando esse cara [Bolsonaro] vai a público e diz que não quer filme da Bruna Surfistinha, não é a graça da piada de 'não quero'. Ele está defendendo a agenda ideológica cristã do eleitorado dele", acrescentou Rafinha.

"Eu acho que existiu exagero dos dois lados. Não vou defender comunista que matou polícia na ditadura, e não vou defender torturador que matou gente inocente. Ele [Bolsonaro] não é comediante. Você não pode me comparar, como comediante, com o presidente da República. Se ele fizesse uma piada dizendo que está a favor do Ustra, até como piada, eu estaria do lado dele. Como fiquei do lado dele na resposta dele sobre o cocô", explicou.

"Finalmente a gente tem um presidente que... Ele tem muito do Lula na questão da comunicação. O Lula também era um fanfarrão, era um cara popular. O Jair Bolsonaro herdou isso com piadas ruins, piadas de tiozão. Eu acho legal essa maneira de se comunicar. Mas não vou colocar no pacote de piada quando o cara apoia torturador, eu não faço isso", concluiu Rafinha.