Topo

Denise Del Vechio: aborto não pode ser decidido por homens velhos de terno

Denise Del Vecchio como Madalena em Topíssima  - Blad Meneghel/Record TV
Denise Del Vecchio como Madalena em Topíssima Imagem: Blad Meneghel/Record TV

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

22/08/2019 04h00

Em Topíssima (Record), Madalena, interpretada por Denise Del Vecchio, sofreu ao perder a filha após um aborto malsucedido. Jandira (Brenda Sabryna) era uma jovem ambiciosa, que cometeu alguns desatinos para se dar bem na vida. Ela engravidou de Vitor (Vitor Novelo) e decidiu procurar uma clínica clandestina para fazer um aborto --que acabou provocando sua morte.

Ao UOL, Denise elogia a trama escrita por Cristianne Fridman por tratar de aborto e defende que o tema precisa ser discutido na sociedade, com a mulher à frente do debate.

"Não pode ser meia dúzia de homem lá no Congresso. Um monte de homem, velho, de terno, falando: 'Ah, é pecado, não pode'. E abandonam as crianças, jogam na rua, abandonam a mulher grávida. Tudo isso tem que ser levado em consideração", afirma a atriz. "Ou não se importam que um policial dê um tiro nas costas de um menino na favela? Isso [para eles] não é pecado. Isso tudo está incluído na questão do aborto. Até onde uma mulher tem condições de ter ou não um filho? Isso precisa ser discutido."

A atriz relata que o nome da filha de sua personagem na novela é homenagem a uma mulher que morreu em decorrência de um aborto no Rio de Janeiro.

Brenda Sabryna interpretou Jandira em Topíssima. Personagem morreu após realizar um aborto - Blad Meneghel/ Record TV - Blad Meneghel/ Record TV
Brenda Sabryna interpretou Jandira em Topíssima. Personagem morreu após realizar um aborto
Imagem: Blad Meneghel/ Record TV
"Eu sempre digo que ninguém é a favor de aborto, o aborto acontece. As mulheres fazem, às vezes por necessidade ou por medo. Precisamos falar sobre isso, pois ainda existe um tabu enorme. E as mulheres continuam morrendo nas clínicas clandestinas. É um assunto que precisa ser discutido, as posições diversas têm que ser colocar às claras, é muito sério", opina.

Esta não é a primeira vez que Denise vive, em uma novela de Cristianne, uma personagem que se envolve em uma trama de relevância social. Em Vidas em Jogo (2011), ela interpretou Augusta, uma mulher transexual rejeitada pelo filho, que chegava até a interná-la em uma clínica após descobrir seu segredo.

A Cristianne teve coragem de pôr a questão da transexualidade em um momento em que quase ninguém falava sobre isso. Foi incrível. Tem gente que conversa comigo até hoje sobre isso. Acho a Cristianne uma autora muito corajosa, moderna, antenada com tudo o que está acontecendo e coloca isso no seu trabalho. O que é bem importante.

Encarando o medo de frente

Para seu atual papel, Denise quis entender o drama de mães que sofrem com a perda de um filho. Assistiu a reportagens sobre o assunto e conta que foi uma experiência bastante desgastante.

"Fui lidar com emoções com as quais não queremos lidar. Ninguém quer pensar na perda de um filho. Quando vi essas reportagens, isso ficou muito próximo de mim. Tive que parar de afastar esse medo e encará-lo de frente para conseguir fazer a personagem", explica.

Madelena e Zeca (Paulo César grande) procuram Jandira na casa de Paulo Roberto (Floriano Peixoto)  - Blad Meneghel/Record TV - Blad Meneghel/Record TV
Madelena e Zeca (Paulo César grande) procuram Jandira na casa de Paulo Roberto (Floriano Peixoto)
Imagem: Blad Meneghel/Record TV

Mas, ao mesmo tempo, ela diz que teve aprendizados com a personagem: "Percebi como a Madalena ficou muito próxima de tantas mulheres. Os jovens sentem falta de diálogo, de um caminho mais amoroso, de um suporte melhor que os impeça de caminhar por trilhas tortuosas. A Madalena me fascina muito por causa disso. Ela tem essa dualidade. Ela traz à tona essa dificuldade que é ser mãe. Onde colocar limite? Quando dar liberdade? A gente não sabe. Eu, como mãe, nunca soube. E acho que a maioria das mulheres passa por isso".

A atriz completa: "A gente nunca tem certeza se agiu certo, nunca! Filho não vem com bula. É uma experiência de duas pessoas: uma pequena, que depende de você, e você, inexperiente e com seus defeitos. Isso me levou a refletir muito e acho que o público também reflete", complementa.