Torloni critica ação do governo Bolsonaro na Amazônia: "Não me representa"
Christiane Torloni está estarrecida com as queimadas na floresta amazônica. A atriz conheceu a fundo os problemas enfrentados na região Norte do país durante a produção do documentário Amazônia - O Despertar da Florestania. O longa, de 108 minutos, da Globo Filmes, marca a estreia da artista como diretora ao lado de Miguel Przewodowski.
Os dois se dedicaram à filmagem durante cinco anos. Em conversa exclusiva com o UOL, ela alertou para a gravidade do assunto e fez críticas às políticas ambientais do governo Jair Bolsonaro.
"É inacreditável como as coisas se desconstituíram. Cada dia que passa, o filme parece mais ter sido feito por encomenda. É impressionante como não existe ninguém que saia indiferente do cinema. Estou muito orgulhosa. As pessoas estão se emocionando. Durante muito tempo, a população se blindou em relação a essa questão da Amazônia", declara ela, orgulhosa do trabalho.
Christiane deixa bem claro que o filme é apartidário. A atriz, que já fez parte de movimentos sociais importantes, como as Diretas Já, afirma que prefere manter distância da política. "O afastamento foi consciente. Resolvi fazer esse documentário para encerrar um ciclo. As pessoas me pressionaram muito. Decidi me manifestar sobre um assunto sobre o qual devo e posso opinar. Este filme é a grande resposta que eu tenho", justifica.
Ao comentar as recentes queimadas, ela não consegue evitar falar do atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. "A indicação dele é uma mensagem clara que o governo deu. Não tem milagre nesse sentido. Se você pega os depoimentos que foram dados desde o primeiro momento pelo ministro do Meio Ambiente, você vê o histórico que ele tem, você acha que essa pessoa é ministrável? Ele tem a expertise necessária para estar nessa pasta?", questiona.
Mesmo com as ameaças de retaliação internacional, Bolsonaro manteve firme seu posicionamento em relação ao meio ambiente. O presidente disse, em agosto, que as reservas indígenas atrapalham o desenvolvimento do país e que ele não fará demarcação de terras durante seu governo. Para Christiane, quem ajudou a elegê-lo é conivente com tudo o que está acontecendo.
"Quem votou no atual presidente da república sabia o que ele iria fazer. Se tem uma coisa de que não é possível acusá-lo é de ter mentido sobre isso. Agora, as pessoas dizem que não foi bem assim. Ele foi claro e taxativo. Por isso, quem faz parte de qualquer tipo de instituição, ONG ou iniciativa nesse sentido já estava preocupadíssimo durante a campanha eleitoral, caso ele fosse eleito."
Ela discorda da declaração, sem provas, de Bolsonaro acusando as próprias ONGs de terem ateado fogo na mata para chamar a atenção. "Não acredito. Com a relação que tenho com o Green Peace, por exemplo, que está comigo no filme, eu não posso imaginar que gente que tem sua vida inteira dedicada ao meio ambiente faça isso", explica.
A atriz afirma sofrer preconceito como ativista ambiental. "Existe uma desconfiança muito grande com relação a nós, artistas. Perguntam por que eu não continuo fazendo minha 'pecinha de teatro'? Por que estou me metendo aqui? Escuto essas coisas desde as Diretas Já", garante.
Christiane aponta erros suscetíveis de políticas ambientais e a falta de educação do povo. "Por isso o filme começa nas Diretas Já. Um grande número de pessoas que estavam lá traiu o movimento que deveria ter acontecido com a redemocratização. Nós não chegamos aonde estamos por acidente. Foram políticas equivocadas. A educação deste país está se desfazendo, e isso não vem acontecendo há quatro ou cinco anos, mas há décadas. Tomar conta da Amazônia tem a ver com tudo isso", acredita.
A película, exibida no Canal Brasil nesta quarta-feira (18), será mostrada no Jardim Botânico de Nova York, neste fim de semana; no Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, em Seia, Portugal, em outubro; e no Greenpeace Film Festival, em janeiro de 2020.
"Estou deixando um bilhete para os que vêm depois: 'Eu não concordei com isso'. O filme mostra isso em todos os sentidos. Essa gente que está em Brasília não me representa, e isso se entende em qualquer língua. Se as pessoas me questionarem lá fora, eu vou dizer: 'Você viu o filme?'. Podem até não gostar dele, é uma obra aberta a todo tipo de opinião. Mas não vão poder dizer que estou desse lado [do atual governo]. Posso estar do lado dos que perdem, mas desse daí não estou", reforça.
Christiane deseja que o documentário inspire mais pessoas a se dedicar ao futuro do planeta. "Esse filme vem do coração de uma artista, do lugar mais puro que eu tenho. Ninguém vai ficar rico com um documentário sobre a Amazônia. Não foi por oportunismo que fizemos. O momento que ele está chegando às pessoas é crítico. A gente tem que conseguir que mais gente se conecte para tomar uma atitude", conclui.
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