Gesto de arma e "Tchau, querido": Filhos da Pátria ironiza Brasil atual
A segunda temporada de Filhos da Pátria, escrita por Bruno Mazzeo, estreia dia 8 de outubro na Globo com várias referências à política de hoje. Desta vez, a família Bulhosa, formada por Geraldo (Alexandre Nero), Maria Teresa (Fernanda Torres) e os filhos Geraldinho (Johnny Massaro) e Catarina (Lara Tremourox) estão em 1930, na Era Vargas.
Os episódios retratam o Brasil político da época e a influência da sociedade com a chegada do rádio com cenas de humor repletas de referências ao país atual. Maria Teresa, assim como na primeira temporada, segue obcecada pela ascensão social e desta vez fica enlouquecida com os militares da tropa de Getúlio Vargas.
"Sejam bem-vindos, militares corajosos", dispara ela.
No primeiro episódio, apresentado no lançamento da nova temporada, que aconteceu hoje no Palácio do Catete, no Rio, a personagem de Fernanda Torres se destaca ao imitar o gesto de arma do presidente Jair Bolsonaro, ao bater panela na revolução e disparar "Tchau, querido", uma direta referência a conversa que viralizou após o grampo telefônico dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff e o processo de impeachment da então presidente em 2016.
"Acho que o humor é uma boa maneira das pessoas se verem e começarem a dialogar, quem sabe. A gente está nessa discussão de liberar ou não o porte de arma, não é só do Bolsonaro [o gesto de arma com as mãos], é a discussão do Brasil de hoje. A série é repleta de observações de hoje em dia e a gente está vivendo esse momento", conta Fernanda Torres.
A polêmica fala da ministra Damares Alves, "meninos vestem azul e meninas vestem rosa", também está no texto de Maria Teresa que se choca ao ver o filho Geraldinho vestido de mulher para participar da revolução. A atriz acredita que a série pode contribuir para uma boa reflexão sobre a nossa sociedade.
"Independentemente do momento, as mazelas da escravidão, do patriarcalismo estão sempre presentes. Essas questões que não resolvemos, elas continuam, são problemas de estado da formação do Brasil. É uma excelente reflexão sobre nós mesmos, independentemente de quem esteja no poder", diz ela.
"Acho que o Brasil vive de zerar. Nós tivemos república nova, cruzeiro novo, cruzado novo. Assisti na minha vida tanto novo e é sempre a ideia de zera, joga tudo o que foi feito no lixo. O Brasil parece que nunca acumula o que aprendeu ou salva algo que foi feito bom. A nova ordem que entra sempre acaba".
A sede do governo fica no Palácio do Catete, onde trabalha o corrupto Pacheco (Matheus Nachtergaele), funcionário público do alto escalão e superior direto de Geraldo. É lá que trabalha também o tenente Matoso (Adriano Garib), um militar rude e truculento, vindo do Rio Grande do Sul com a Aliança Liberal de Getúlio.
"Acabou a mamata", diz ele no primeiro episódio, uma direta referência a fala de Bolsonaro.
"Há inspiração em muitas figuras, mas nenhuma específica para um dos personagens. A figura do personagem do Matheus, aquele cara que está sempre ali encostado em qualquer governo que entra, existem vários. Pacheco, inclusive, é um termo de burocrata. São figuras muito presentes na nossa história que a gente pulveriza ali na série", explica Bruno Mazzeo.
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