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Cabrini: "Bolsonaro e Lula são irmãos e nutrem uma paixão um pelo outro"

O jornalista Roberto Cabrini no Pânico, da Jovem Pan - Reprodução/YouTube
O jornalista Roberto Cabrini no Pânico, da Jovem Pan Imagem: Reprodução/YouTube

Colaboração para o UOL

12/11/2019 17h18

O jornalista Roberto Cabrini participou hoje do Programa Pânico, da Rádio Jovem Pan. Além de contar detalhes e bastidores de seu trabalho durante mais de 40 anos de carreira, Cabrini fez uma análise da polarização no cenário político do Brasil.

De acordo com ele, apesar da dualidade de discurso entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente Jair Bolsonaro, os dois possuem algumas características em comum e as ações de ambos são direcionadas de maneira reativa.

"Bolsonaro e Lula são irmãos siameses e nutrem um pelo outro uma enorme paixão. Um é o oxigênio do outro. É impressionante como um reage ao outro, é uma grande história de paixão", disse.

Entre os pontos em comum que unem os líderes que polarizam o debate, Cabrini citou a dificuldade de lidar com o contraditório: "Já fiz 300 pedidos para entrevistar o Bolsonaro e o Lula. Eles não dão entrevista. Eles não gostam de quem faz perguntas desconfortáveis. Eles gostam de quem levanta a bola para eles", analisou.

Para o jornalista, a discussão política atual está polarizada não por uma diferença de ideias entre esquerda e direita (representadas por Lula e Bolsonaro), mas por uma característica própria da sociedade brasileira: a busca por vilões e heróis.

"O Brasil é viciado em super-heróis. O 'Super-herói Bolsonaro', o Super-herói Lula, o Super-herói do STF... Quando, na verdade, a sociedade tem que crescer como um todo. O problema é essa formação paternalista que existe".

Segundo Cabrini, essa abordagem é danosa para o desenvolvimento da sociedade e da política. "Vejo situações de irmãos que não conversam mais por causa de discussão política. A gente precisa superar isso. O país fica parado e eu fico preocupado que essa discussão de campanha eleitoral faça com que a gente não discuta nada pelo proveito do país. Porque eu vejo políticos discutindo pela perpetuação do seu próprio poder, de seu projeto de poder. A sociedade precisa identificar isso senão ficamos nessa discussão rasa, repetitiva, que não leva a absolutamente nada".

Papel do jornalismo na polarização

O entrevistado ainda aproveitou para analisar o papel do jornalismo em um ambiente político polarizado.

"Quando entrevisto alguém da esquerda, os esquerdistas me acusam de ser de direita. Quando entrevisto alguém da direita, os direitistas me acusam do contrário. Você só consegue saber que está no caminho certo se você consegue instigar os dois lados contra você. [...] A gente tem que fiscalizar. Não importa quem esteja no governo. Não há jornalismo se não há cobrança".

Por fim, Cabrini disse que o papel fiscalizador da imprensa deve recair sobre os dois lados da ideologia, seja com a esquerda ou a direita no poder.

"A corrupção não pertence a ideologias. A corrupção é uma deformação do ser humano. E pode se manifestar tanto para quem for da direita como para quem for da esquerda. Assim como a luta pelos direitos humanos não pertence nem à direita, nem à esquerda. Isso é apenas uma discussão demagógica", encerrou.