Ator deixa musical de Chaves para estrear em novela: "Sonho da minha mãe"
Resumo da notícia
- Milton Filho interpretou o palhaço Benjamin no espetáculo Chaves - Um Tributo Musical
- O ator se despediu do personagem no último final de semana para trabalhar na Record
- No ar na novela Amor Sem Igual, Milton Filho se emocionou ao ser parabenizado pela mãe, de 69 anos
- Na trama, o ator dá vida ao enfermeiro Chico e comemora o papel que foge do estereótipo de "bandido"
Assistido por 35 mil espectadores em 2019, Chaves - Um Tributo Musical retornou ao teatro com um importante desfalque. Milton Filho, intérprete do palhaço Benjamin, se despediu do espetáculo na última semana para realizar um sonho: estrear em uma novela. Aos 38 anos, ele entrou para o elenco de Amor Sem Igual, trama da Record.
No musical, o ator não deu vida a nenhum morador da vila, o que não significa que seu personagem não tivesse importância. Pelo contrário. É Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do Brasil, que recepciona Roberto Gómez Bolaños (1929-2014) no "palhacéu", o céu dos palhaços, logo após a morte do criador de Chaves. O papel rendeu a Milton uma indicação para o prêmio Aplauso de Teatro como melhor ator coadjuvante e a presença na lista dos 50 melhores atores de 2019 pelo jornalista Miguel Arcanjo Prado, blogueiro do UOL.
"Realizei dois sonhos: pisar na vila do Chaves, porque imitava todos os personagens e queria ser o Seu Madruga, e estar na televisão. Cresci vendo TV, sempre foi um fascínio muito grande, mas sempre achei longe de mim por estar fora do padrão imposto, não só pela cor, mas por não me achar uma pessoa tão bela. Nas últimas duas décadas, a representatividade aumentou porque as pessoas querem se ver, fiz mais filmes, fui chamado para mais testes. Vi uma luzinha no fim do túnel", comemora Milton Filho ao UOL.
O ator foi convidado para interpretar Chico, enfermeiro da casa de idosos de Amor Sem Igual, quando ainda estava em cartaz como Benjamin no musical de Chaves. Ele precisou cortar o cabelo com a peça em andamento e avisou à equipe que precisaria deixar o espetáculo na segunda temporada, que ficará em cartaz até 16 de fevereiro no teatro Opus, em São Paulo.
"Minha agente queria um vídeo meu dançando a pedido da Mônica Teixeira, produtora de elenco da Record, Quatro dias depois, ela me acorda com uma ligação: 'Levanta, você está na novela!'. Não entendi direito. 'Qual é o texto do teste?'. Ela: 'Não tem teste! Você foi convidado para ser o Chico!'. Abri o e-mail, li e comecei a chorar. Foi um turbilhão de emoções, porque saberia que teria que falar com a produção. Graças a Deus, a Adriana Del Claro [produtora geral do musical] é muito amiga do diretor-geral de elenco e deu tudo certo. Ela foi incrível, conseguiu o apoio de um ônibus para eu ir para o Rio e voltar para São Paulo", agradece.
Sonho de mãe
Experiente no teatro, Milton Filho estava prestes a se mudar para São Paulo após emendar os musicais As Cangaceiras e Chaves, mas retornou ao Rio assim que foi chamado pela Record. Ele sempre sonhou atuar na televisão, mas o desejo de fazer novela veio da mãe, dona Tina. O ator se emociona ao lembrar as palavras dela quando soube que veria o filho na TV.
"Quem esperava mais por isso era minha mãe, de 69 anos. Falo para você e me emociono. Eu vivi para realizar esse sonho para ela, uma senhora mineira, negra, mãe solteira, que cuidou de três filhos. Aí eu, louco, com 13, 14 anos quer fazer teatro, ela: 'Tá maluco? Não pode, tem que trabalhar! Meu filho, isso não é para você, não é para a gente!'. Aí ela vê o filho dela lá e fala: 'Você conseguiu, que bom que sua mãe está viva para ver isso'", recorda, contendo as lágrimas.
O artista também se orgulha de ter conquistado um papel que foge do estereótipo do negro na dramaturgia, um enfermeiro. Em Amor Sem Igual, Milton trabalha ao lado de Selma Egrei, Castrinho, Iara Jamra e Sthefany Brito, entre outros atores.
Recusei alguns papéis em 2019 porque me chamavam para fazer bandido, ou para entregar uma carta e ir embora. Comecei a questionar: 'Quero fazer uma coisa com um pouco mais de conteúdo'. A maioria da população brasileira é negra, só que a dívida que a sociedade tem com o negro, por causa da escravidão e de toda a história do negro e do índio, é muito mal contada. Só colocam o negro como bandido, marginal, ou como mal, e não queria mais representar isso, porque o negro é muito mais do que isso. Negro é tudo. Ele pode ser diretor, enfermeiro, médico, dono, empresário. Fico muito feliz e grato pela Cristianne Fridman [autora de Amor Sem Igual] por ter pensado em um ator negro, porque lá ela escreveu 'ator negro'. Espero que daqui a algum tempo não precisemos escrever 'ator negro'
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