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Lydia Sayeg revela preconceito por ser rica e diz como ficou amiga de Moro

Lydia Sayeg e o irmão, Ivan Leão Sayeg (ao centro), com o casal Rosângela e Sergio Moro - Arquivo pessoal
Lydia Sayeg e o irmão, Ivan Leão Sayeg (ao centro), com o casal Rosângela e Sergio Moro Imagem: Arquivo pessoal

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

02/02/2020 04h00

A empresária Lydia Sayeg, que comanda a Casa Leão Joalheria, é amiga pessoal de Sergio Moro e Rosângela Moro. A joalheira, que ficou conhecida para o grande público ao participar do reality show Mulheres Ricas, da Band, em 2012, conta que a amizade começou por acaso, em uma viagem, após uma gafe da qual ela se recorda com risadas. Ela conheceu primeiro a mulher do ministro da Justiça e Segurança Pública, mas não sabia quem era. Em entrevista ao UOL, Lydia ainda revela que já enfrentou preconceito por ser rica, o que a motivou a escrever o livro "O Preconceito ao Rico", com lançamento previsto para este ano.

Rosângela Moro posava para fotos quando a empresária se aproximou para dar alguns toques. "Eu sou metida e falei, 'deixa eu arrumar a sua saia, seu sapato?' Não fazia ideia de quem era! Entramos no mesmo restaurante e entendi quem era! Pedi um milhão e meio de desculpas porque fiquei muito sem graça. Eu queria sumir do planeta. Quase a chamei de senhora", diz, aos risos.

A gafe cometida pela ex-participante do Mulheres Ricas foi rapidamente esquecida, e Lydia entrou para o círculo de amizades do casal Moro. A empresária explica que há entre as duas uma estreita ligação pela forma das duas de pensar. "Se tem uma mulher com consciência ela se chama Rosângela Moro. Amo conversar com ela. Tenho muitos colegas, conhecidos, mas amizade de conversar por seis horas é com gente consciente a ponto de usar o banheiro e pensar como vai deixar o banheiro para o outro", afirma, relembrando que pediu à amiga para assistir ao Roda Viva com o ministro como convidado no estúdio do programa da TV Cultura.

Ela explica que a relação com Sergio Moro já é mais formal. "Não consigo ser com ele como sou com a Rosângela. Acho que tenho ele num pedestal. É uma admiração tão grande. Ele é um ser. É a ética em forma humana. Educado, leal, correto, carinhoso. É como a admiração que tenho pelo meu pai. Isso me emociona", compara ela. Para a ex-participante do Mulheres Ricas, Moro "trouxe ao Brasil o exemplo de que é lindo ser honesto".

Ao ser questionada sobre como vê as críticas ao ministro, de que ele vislumbrava se lançar como político durante o processo que condenou o ex-presidente Lula, a empresária se revolta.

É absurda, ridícula. Esse homem ama estudar. É da lei mesmo. Esses boatos são tão ridículos para vitimizar o presidiário Lula. É tão ridículo que não tem cabimento. Ele nem deveria responder. É sem cabimento. Eles tinham a vida deles em ordem. Foi um parto para ele aceitar. É desumano falarem isso. É para vitimizar o presidiário

Satisfeita com o atual governo, Lydia afirma que Moro respeita hierarquia e não acredita que ele disputaria a presidência da República contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mas se o assim fizesse, ela sabe de que lado ficaria: "Pesaria a amizade".

Preconceito por ser rica

Lydia Sayeg, Val Marchiori e Brunete Fraccarolli: elas participaram do Mulheres Ricas, em 2012 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lydia Sayeg, Val Marchiori e Brunete Fraccarolli: elas participaram do Mulheres Ricas, em 2012
Imagem: Arquivo pessoal

Lydia Sayeg fala com certo receio sobre o Mulheres Ricas, pois afirma que sofreu preconceito na época por conta do programa que mostrava a rotina de mulheres bem-sucedidas. Ela acredita que o título do programa também não ajudava a diminuir o estigma contra o estilo de vida das convidadas — entre elas Val Marchiori, de quem a empresária é amiga até hoje.

Segundo ela, o livro será uma forma de combater esse tipo de preconceito: "Vou falar da minha vida e do que assisti nos últimos anos com meus amigos empresários. Muito do preconceitos que hoje existe foi algum partido político que criou. São vários [partidos]. Depende do objetivo que querem atingir. É muito feio. Os valores estão todos invertidos. O mundo está mundo feio".

Eram comentários em cabeleireiro, 'nossa, por que ela foi fazer o programa?'. Ou quando entrava em algum lugar falavam, 'está aqui só porque é riquinha', 'ai, a riquinha hoje está cansadinha'. Sabe essas coisas? Era como se meu dinheiro tivesse sido roubado do Brasil, da Petrobras. E não era. É dinheiro suado. Silvio Santos é um espetáculo. A maioria dos grandes empresários chegaram sem nada e se fizeram

"Proibi minha filha de fazer USP"

Nos últimos oito anos após o fim do Mulheres Ricas, Lydia Sayeg testemunhou com os brasileiros marcos políticos como o impeachment de Dilma Roussef, a prisão de Lula e a eleição de Bolsonaro. Ela conta que se mobilizou politicamente — como nas manifestações que participou —, e afirma que desenvolveu consciência sobre problemas diversos, como o desperdício de alimentos, desde muito cedo.

"Meus avós vieram sem nada, meu pai se matou de trabalhar. Eu vi muita injustiça. Meu pai era um homem que não deixava a gente sair da mesa sem comer o último grão de arroz do prato. Na minha casa comida nunca foi para o lixo. O lixo do brasileiro é mais rico do mundo. E quando acontece enchente a culpa é do governo. A culpa é da população que joga lixo no bueiro", afirma.

Lydia procura não viver alheia à realidade do país e, por isso, proibiu sua filha de prestar vestibular para a USP (Universidade de São Paulo). "Ela nem prestou. Eu acharia um absurdo ela estacionar o carro blindado, descer de Chanel e tirar a vaga de quem não pode pagar a faculdade. Sou uma mulher consciente, mas sei que nem todas as pessoas com as minhas possibilidades têm consciência. Tem gente boa e ruim em todos os lugares e níveis de rendimentos. Eu me posicionei assim", diz.