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Drauzio sobre presa trans abraçada em entrevista: "Sou médico, não juiz"

Drauzio Varella abraça a detenta Suzy em reportagem do Fantástico - Reprodução
Drauzio Varella abraça a detenta Suzy em reportagem do Fantástico Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

08/03/2020 20h23

O médico Drauzio Varella divulgou uma nota em suas redes sociais na qual afirma "ser médico e não juiz" em referência à detenta trans Suzy Oliveira, a quem abraçou durante uma reportagem veiculada no domingo passado pelo programa Fantástico, da TV Globo.

O médico, que há décadas atua como voluntário em penitenciárias por todo o país, emocionou a web com sua abordagem sensível do tema.

Após a entrevista, Suzy, que não recebe visitas na prisão há oito anos, recebeu 234 cartas e presentes em cinco dias, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo.

O assunto voltou hoje a ser um dos comentados no Twitter ao longo do dia, após o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) divulgar documentos judiciais que apontam que Suzy foi condenada pelo homicídio de uma criança de nove anos de idade.

"Há mais de 30 anos, frequento presídios, onde trato da saúde de detentos e detentas. Em todos os lugares em que pratico a Medicina, seja no meu consultório ou nas penitenciárias, não pergunto sobre o que meus pacientes possam ter feito de errado. Sigo essa conduta para que meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico", lê-se na nota de Drauzio Varella.

"No meu trabalho na televisão, sigo os mesmos princípios. No caso da reportagem veiculada pelo Fantástico na semana passada (1º/3), não perguntei nada a respeito dos delitos cometidos pelas entrevistadas. Sou médico, não juiz".

O UOL entrou em contato com a advogada de Suzy, a criminalista Bruna Paz de Castro. Ela afirmou que só iria se pronunciar nesta segunda-feira (9), depois que conversar com sua cliente a respeito do assunto.

Globo se pronuncia:

A Globo enviou o seguinte comunicado ao UOL e ainda leu o posicionamento ao vivo durante o "Fantástico":

O quadro do Dr. Drauzio Varella foi sobre uma situação que o Estado brasileiro precisa enfrentar: mulheres trans cumprem as penas pelos crimes que cometeram em meio a presos homens, o que gera toda sorte de problemas. O crime das entrevistadas não foi mencionado, porque este não era o objetivo da reportagem. Foi divulgada apenas uma estatística geral sobre eles.

O quadro gerou muita empatia no público mas também críticas exatamente por não mencionar os crimes. Sobre as críticas, o Dr. Drauzio Varella divulgou a seguinte nota, que o Fantástico apoia integralmente. "Cuido da saúde de criminosos condenados há 30 anos. E por razões éticas não busco saber o que de errado fizeram. Sigo essa atitude para cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico. E para não cair na tentação de traí-lo atendendo apenas aqueles que cometeram crimes leves. No quadro do Fantástico, segui os mesmos princípios"