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Drauzio Varela se desculpa por reportagem, mas rechaça exploração política

Do UOL, em São Paulo

10/03/2020 18h55

O médico Drauzio Varela divulgou um vídeo hoje para, segundo ele, "dar uma explicação para as pessoas que me acompanham". O tema da mensagem foi a reportagem exibida pelo "Fantástico", da Rede Globo, no dia 1º de março.

Na reportagem em questão, Drauzio entrevistou a transexual Suzy Oliveira, presa por abusar sexualmente e assassinar um menino de nove anos — o crime não foi informado na matéria. Ao fim da gravação, o médico deu um abraço na detenta ao saber que ela não recebia visitas na cadeia em Guarulhos (SP) há vários anos.

Entretanto, a descoberta do crime, dias depois, acabou gerando revolta nas redes sociais. O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegaram a divulgar mensagens contra o médico.

No último domingo, Drauzio chegou a divulgar uma primeira mensagem nas redes sociais, na qual explicou não ter perguntando o crime da detenta "para que meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico". "Sou médico, não juiz", concluiu no comunicado.

Hoje, voltou ao assunto na mensagem em vídeo. Na gravação, revelou surpresa ao ser informado do crime de Suzy, "que choca a todos nós". Além disso, pediu desculpas à família da vítima, "involuntariamente envolvida no caso".

No entanto, Drauzio defendeu sua postura, assumindo a responsabilidade pela veiculação da reportagem. "Esse é meu jeito. Eu lamento, mas assumo totalmente a responsabilidade pela repercussão negativa que o caso teve", disse o médico, rechaçando o uso político que vem sendo feito da matéria desde a revelação do crime da detenta.

"Eu gostaria de dizer claramente, e sem nenhuma chance de que eu volte atrás no futuro, que nunca fui e nem serei candidato a nada. As pessoas que estão explorando politicamente esse episódio podem ficar tranquilas", concluiu.

Confira a mensagem completa de Drauzio Varela:

"No último domingo, foi revelado para o país — inclusive para mim mesmo — o crime cometido por uma das entrevistadas da matéria que apresentei no 'Fantástico' no dia 1º de março. Não há o que falar. É um crime que choca a todos nós."

"Escrevi uma nota em que fui sincero ao dizer que não entrei naquela cadeia como juiz, e sim como médico. Ser médico orienta meu olhar em todas as situações. Não só quando estou atendendo pacientes. Faço isso há mais de 50 anos, seja no consultório, nas cadeias, nos livros que escrevi, na televisão, nos jornais e na internet."

"Posso imaginar a dor, e peço desculpas para a família do menino, que foi involuntariamente envolvida no caso."

"Na matéria em questão, o foco era mostrar as condições em que vivem as transexuais presas. As estatísticas oficiais indicam que a imensa maioria delas está presa por roubo e furto. A maneira pela qual a Suzy foi apresentada deu a entender que ela fazia parte desse grupo majoritário. Por isso, eu entendo a frustração de quem se decepcionou comigo."

"Ali aconteceu o seguinte: eu terminei a entrevista, que foi uma entrevista longa, e ela ficou de cabeça baixa no fim. Quando eu perguntei há quanto ela não recebia visitas, ela falou: 'sete, oito anos'. Eu ainda disse para ela: 'solidão, né, minha filha'."

"Nessa hora, ela se virou para mim, e se virou com um olhar tão triste que me comoveu. Eu dei um abraço nela."

"Para quem acha que eu errei, desculpa. Mas esse é meu jeito. Eu lamento, mas assumo totalmente a responsabilidade pela repercussão negativa que o caso teve."

"Agora, eu gostaria de dizer claramente, e sem nenhuma chance de que eu volte atrás no futuro, que nunca fui e nem serei candidato a nada. As pessoas que estão explorando politicamente esse episódio podem ficar tranquilas."