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Otaviano Costa opina sobre memes relacionados à política: 'Se puder, chore'

Otaviano Costa na GNT - Reprodução/GNT
Otaviano Costa na GNT Imagem: Reprodução/GNT

Colaboração para o UOL

10/03/2020 07h53

No primeiro episódio da 9ª temporada do Papo de Segunda, que estreou ontem no GNT, o apresentador e ator Otaviano Costa se juntou aos anfitriões Fábio Porchat, João Vicente, Emicida e Francisco Bosco para discutir sobre uma mania que pegou o brasileiro de jeito: a criação e o compartilhamento massivo de memes.

No país em que qualquer notícia, principalmente as ruins e sobre política, vira piada em forma de meme, Porchat levantou a questão: "Seria o meme um jeito de lidar com a tragédia? Ou pelo fato de rirmos de tudo é que nunca seremos um país sério?".

Como convidado, Otaviano foi o primeiro a opinar sobre o tema: "É impossível rir de tudo. Tem coisas de que realmente não dá [para rir]. Tem situações que te indignam, te revoltam e provocam outros sentimentos em que a risada não cabe".

O apresentador, que está de casa nova e estreia um novo programa, o Extreme Makeover Brasil, hoje, às 21h30, no GNT, continuou o raciocínio sobre a popularidade do meme: "Quando você tenta rir das pequenas coisas da vida, elas acabam se tornando mais fáceis. Nas pequenas coisas, as do cotidiano, a piada ajuda a dar mais leveza para enfrentar as coisas da vida".

O meme, um termo da internet que se refere a uma informação, seja em foto, vídeo, imagem, frase, ideia, ou música, que se espalha rapidamente em tom cômico, se tornou uma febre nas redes sociais e grupos de WhatsApp nos últimos anos.

"Talvez o meme seja a forma mais inventiva de poesia do século 21", afirmou Francisco Bosco, poeta, compositor e filósofo, mostrando porque o meme funciona tão bem. "Tem meme que é de uma complexidade e uma originalidade enorme. Pode até ser considerado uma linguagem artística. O problema que estamos enfrentando, a meu ver, é a mistura do meme com política".

"Por melhor que o meme seja, ele acaba sendo a redução brutal de alguma coisa. E, como a nossa realidade política é muito complexa, o meme acaba rebaixando o debate público", complementou Bosco. "No Brasil, isso virou uma via de mão dupla; a política foi submetida ao humor do meme, e o meme foi submetido a política. Está difícil ter uma experiência de qualquer coisa no nosso país sem que haja um meme sobre o assunto", disse ele.

João Vicente, apresentador e também ator no Porta dos Fundos, se mostrou ser da mesma opinião que o companheiro: "O problema do meme sobre política é exatamente esse, de esvaziar o sentimento de ação. Ele dá uma falsa sensação de que o problema é menor do que representa".

Durante o papo, Otaviano relembrou a noite dos correspondentes nos EUA, onde a Casa Branca é aberta historicamente para receber veículos de imprensa, jornalistas e conduzida por humoristas que fazem piadas à vontade sobre assuntos políticos, com o presidente ao lado: "Os EUA começaram a rir da política muito antes do Brasil. O humor está no cotidiano das tragédias americanas, que são muito menores e desproporcionais às nossas".

Porchat seguiu o diálogo, desenhando porque o brasileiro se diverte com meme político em vez de se preocupar: "Uma parte da população gosta de ver o [presidente] Jair Bolsonaro como um fanfarrão; de um cara que, por exemplo, faz piada com o tamanho da cabeça do cearense. É um tipo de humor antigo que o povo acha graça". No gancho, João Vicente definiu o sucesso do meme político: "Brasileiro não costuma rir de si como indivíduo, mas gosta de rir de si como nação. É isso o que acontece".

Otaviano ainda ressaltou uma lição pessoal que se encaixa muito bem no assunto: "É o que sempre digo para as minhas filhas: se não der, ria [da situação]. Mas se puder, chore".

O Papo de Segunda é exibido às segundas-feiras, às 22h30, no canal GNT.