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Primeiro gay do 'De Férias com o Ex' diz que fez 'tudo o que quis' na MTV

Rafael Vieira no "De Férias com o Ex" - Reprodu"ção/Instagram
Rafael Vieira no 'De Férias com o Ex' Imagem: Reprodu'ção/Instagram

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

08/05/2020 04h00

Quando a data de estreia da nova temporada do reality "De Férias com o Ex" foi anunciada —para 21 de maio— os fãs se animaram, mas a loucura começou mesmo quando foi divulgado o teaser da atração, com cenas que mostravam dois homens dando um beijaço no mar.

Nunca antes o reality da MTV teve um homem gay assumido em seu elenco. Pois agora terá Rafael Vieira, 30, professor de canto que já chegou causando no programa, gravado em Jericoacoara, no Ceará.

Representatividade

Rafael se mostra grato pela oportunidade de participar do reality e vê sua presença como um passo adiante na luta por representatividade na TV. Com ênfase no termo "passo". "A luta é muito maior do que isso. É legal, mas a luta da comunidade LGBTQ+ é mais profunda", frisa ele.

"Eu acredito que seja, sim, um símbolo de representatividade a minha participação, mas também entendo que existem outras faces da diversidade que precisam de mais atenção do que a face da gay, branca, padrão. Essa minha presença no reality pode ser um passo a mais, mas essa atenção tem que se estender", destaca o participante.

Ele usa a já famosa cena do beijo no mar como exemplo de algo que ele espera que mexa com o público.

A gente sabe que a sociedade tem seus buracos mais conservadores. Se vai chocar, que choque de maneira positiva. Que as pessoas vejam duas pessoas que gostaram daquele momento e que estavam dividindo o amor, a diversidade, o quão normal é. Vamos quebrar essa barreira logo com um beijão.

Pegação e diversão

Rafael não pode revelar muitos detalhes do que fez dentro da casa —o programa já está gravado—, mas ele deixa algumas pistas.

"Não passei vontade em absolutamente nada do que queria fazer e posso dizer que quis muita coisa e fiz muita coisa. Antes de tudo, as pessoas vão ver uma pessoa, um ser humano, como qualquer outro, que se divertiu ao máximo e que simplesmente não abriu brecha para nenhum bloqueio. Nada me impediu de me divertir o máximo possível", conta ele.

Ele também revela que já conversou com seus familiares avisando que eles podem se chocar com alguns episódios: "Eu já falei para a minha mãe que vai ter episódio que ela não pode ver [risos]".

"Tem algumas pessoas da minha família, por exemplo, que nunca me viram beijando alguém. O que mais me importante é que as pessoas que amo e que de fato me amam vão permanecer ao meu lado", complementa.

Questionado pela reportagem se usou a famosa "suíte master" da casa, onde dois participantes podem passar uma noite quente, ele faz mistério. "A suíte master foi muito bem utilizada. Agora, por quem...".

História e aceitação

Rafael Vieira ao lado da amiga, a drag queen Lorelay Fox - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Rafael Vieira ao lado da amiga, a drag queen Lorelay Fox
Imagem: Reprodução/Instagram

Rafael se descreve como um canarinho e diz que veio ao mundo para poder cantar. Ele afirma que desde muito novo sempre soube que sua paixão eram os palcos e a música. "Desde o ensino médio, eu já matava aula para ir ao teatro. E do teatro eu nunca mais saí", relata ele.

Com sua entrada no teatro musical, ele viu que era mesmo a música sua grande paixão. Começou a dar aulas de canto, o que o levou a ter contato com figuras como Lia Clarke, Lorelay Fox e Luísa Sonza. Sua ligação mais recente foi com a ex-BBB Flayslane, a quem ajudou na preparação vocal para uma live.

Mas, nem sempre foi fácil: Rafael teve que trabalhar em uma série de locais antes de conseguir se consolidar, cantando em festas infantis e casamentos, nem sempre nas melhores condições. Com 20 anos, um baque forte: seu pais descobriram que ele era gay.

"Meus pais ficaram sabendo por azar: uma pasta no computador tinha fotos minhas com meu primeiro namorado. Foi bastante dolorido. Meu pai foi muito resistente, minha mãe sofreu. Meu pai foi militar, então ele tem um pouco essa dificuldade de se adaptar ao novo. Tive de trabalhar isso com eles. Nunca me importei muito com o que os outros falavam, mas me importava com meus pais. Ouvi muita coisa em casa que não queria ouvir. Tive que ir para a igreja, para o psicólogo", conta ele.

Hoje, ele diz que seu relacionamento com a família já melhorou bastante: "A gente tem uma convivência que eu desejaria que 100% da comunidade LGBTQ+ pudesse ter. Tem muita gente neste país que precisava do abraço que tive na época em que fui tirado do armário. É um processo muito doloroso".

Nem Jesus agradou todo o mundo! Eu sei que vai ter gente que não vai gostar, mas o que me importa é que as pessoas que de fato me conhecem, me respeitam como ser humano, como cidadão que paga impostos, vão estar ao meu lado.