Cadê os famosos? Paparazzi ficam sem renda e sofrem com efeitos da pandemia
Os famosos praticamente desapareceram do radar dos paparazzi durante a pandemia do novo coronavírus. Sem praia, shopping ou parques, que foram esvaziados e fechados, os profissionais especializados em fotografar celebridades tiveram suas vidas diretamente afetadas pela quarentena, que já passa de dois meses em várias regiões do Brasil.
Avistar um apresentador ou um ator da Globo em points do Rio de Janeiro, que antes era comum, virou coisa rara. Festas badaladas, shows e eventos em geral foram cancelados, levando a uma crise no segmento.
O fotógrafo de uma renomada agência de paparazzi do Rio, que pediu para não ser identificado, diz que tudo mudou com a pandemia. "Corro 250 km sem conseguir nenhuma foto", lamenta.
"Todo mundo folgava duas vezes por semana. Hoje só folga uma vez, sendo que trabalha muito mais e o gasto é muito maior com locomoção e informante, por exemplo. Quem tem carro fica menos vulnerável [ao coronavírus] e tem uma pessoa que fica andando de bicicleta na orla da praia", relata ele ao contar como a rotina mudou.
Segundo o fotógrafo, poucos são os famosos vistos ao ar livre. Todo mundo está enclausurado em seus condomínios de luxo ou em seus apartamentos milionários.
Esses dias segui o carro da Juliana Paes e não era ela. Era o motorista para comprar peixe. Realmente ela não está saindo de casa. Está muito difícil. Não tem shopping e são poucas fotos ao ar livre. É só mercado e farmácia. Também segui o Cauã Reymond e ele foi para um condomínio em Angra dos Reis. Eles estão se isolando, indo para a região serrana.
O fotógrafo conta que outro dia se deparou com a jornalista Renata Ceribelli fazendo uma caminhada pela Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal da cidade e onde muitos cariocas costumavam praticar exercícios físicos antes da quarentena. Renata não gostou nada de ver suas fotos publicadas e reclamou com a agência.
"Ela ficou chateada e mandou um direct pedindo para retirar as fotos. Falamos que não seria possível fazer isso. A Globo diz que é para ficar em casa e ela estava na rua, então o pessoal desceu o martelo nela. Ela veio em cima da gente querendo responsabilizar e perguntou se paparazzi é serviço essencial. Expliquei que no decreto diz que jornalista pode exercer suas funções. E todos aqui têm carteira de jornalista", diz.
Prejuízo financeiro
Os fotógrafos sentem no bolso os efeitos da pandemia. Francisco Cepeda mora em São Paulo e faz fotos de famosos nas mais diversas situações, seja em eventos, lançamentos ou festas. Com os cancelamentos que atingiram em cheio o entretenimento, ele passou a se dedicar mais a outros tipos de coberturas, como acontecimentos do dia a dia — trânsito, acidentes, manifestações e coletivas de imprensa do governador.
"Tive algumas oportunidades [de fotografar celebridades], como o Prior entrando na delegacia da mulher e o Raul Gil saindo do Einstein. A diferença é que você já sai para uma pauta sabendo quanto vai ganhar, diferentemente dos eventos de hard news em que é preciso vender as fotos. Eu disponibilizo as imagens nos sites dos veículos, mas não tem garantia de que vão comprar", explica.
Sobre o depoimento do ex-BBB Felipe Prior, Cepeda diz que recebeu de amigos a informação de que ele estaria na delegacia e ofereceu seu serviço para uma agência de fotografia. Pelo período de seis horas que passou no local recebeu em torno de R$ 250. Segundo ele, as agências focadas em celebridades pagam mais: "A diferença é brutal. É muito menos. As agências de notícias fecham pacotes com os veículos, então não tenho o valor tabelado. Mas é coisa de R$ 20 cada foto. Precisa fazer um volume diário de fotos [para ganhar mais]".
Diria que minha renda diminuiu 95%. Nessa nossa vida de repente aparece um freela ou cai na conta o valor de uma venda que você fez lá atrás. Mas isso não está no planejamento, são coisas esporádicas. Minha esposa trabalha também. Quando eu era fixo ganhava R$ 5 mil, mas agora cada mês entra um valor. Digamos que tive um prejuízo de R$ 4 mil por mês. Tenho amigos que não ganham nada. Amigos que só faziam festas, por exemplo. O cara fica rezando para cair o auxílio emergencial.
'Estamos implorando para fazer lives'
O fotógrafo do Rio de Janeiro, o mesmo que pediu à reportagem para não ser identificado, não tem expectativa de que as coisas melhorem tão cedo.
Diminuiu em 30% o salário de todo mundo da agência. E o gasto aumentou. Precisa rodar muito mais para achar uma celebridade. A gente não sabe até quando vai isso. Acho que as próprias celebridades não estão aguentando mais ficar em casa. Estamos tentando fazer lives e praticamente implorando para a assessoria para fazer fotos.
"Grazi [Massafera] está todo dia em casa, mas ela fica só na área interna. Até dá para vê-la, mas não pode fotografar. É invasão de intimidade. Se ela aparece na sacada podemos fazer a foto".
Agenda de shows cancelada
O fotógrafo Ricardo Cardoso estava com a agenda cheia, mas o coronavírus chegou ao Brasil e a vida dele acabou se desorganizando. Ele cobria shows no Espaço das Américas e no Villa Country, mas os estabelecimentos fecharam as portas temporariamente por causa da quarentena. Para não ficar parado, ele e outros colegas se uniram para continuar produzindo conteúdo em um projeto voluntário (@slikescontent).
"Eu e mais nove profissionais, fotógrafos e videomakers, criamos um grupo. Estamos fazendo um trabalho voluntário, registrando não só a cidade de São Paulo vazia, a galera de máscara, como também as entregas de marmitas para os mais necessitados. Estamos fazendo um documentário e cedendo as imagens aos organizadores dessas entregas beneficentes para que façam a divulgação", afirma ele, que está sem trabalhar há mais de dois meses.
"Para se manter é difícil. Tive que ligar para a proprietária do apartamento onde eu moro de aluguel e negociei o valor com ela. Minha renda foi reduzida 100%. Ela foi compreensiva e diminui bastante o valor", afirma.
Estou me virando com reservas e minha esposa também trabalha. Eu tinha fechado um trabalho do Réveillon e a cliente manteve. Graças a Deus ela pôde me adiantar um sinal, o que me ajuda muito nesse período. O que eu tenho não dá mais para segurar por muito tempo. Preciso voltar a trabalhar.
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