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Como William Bonner se afastou de 'sobrinhos' e parou de sorrir

William Bonner em edição do "Jornal Nacional" - Reprodução/TV Globo
William Bonner em edição do 'Jornal Nacional' Imagem: Reprodução/TV Globo

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

27/05/2020 12h00

O senhor de camisa social entra em uma agência bancária no bairro de Higienópolis, em São Paulo, para abrir uma conta. Entregando os documentos, ele pergunta ao funcionário: "Não reconhece o sobrenome?". Tratava-se de William Bonemer, o pai do âncora William Bonner.

A singela história ocorreu há cerca de 10 anos e foi contada a este repórter por uma pessoa bastante próxima, a mesma que atendeu o pai do jornalista do "Jornal Nacional". E chamou a atenção pela revelação inusitada que acompanhou aquela pergunta sugestiva (ele explicou que o filho havia adotado outro sobrenome), mas principalmente pela admiração.

Era quase como se ele quisesse gritar de orgulho: "Eu sou o pai do William Bonner!".

Bonner não costuma dar entrevistas, mas ao "Conversa com Bial", que foi exibido na madrugada de hoje, ele concedeu um sincero desabafo a Pedro Bial. Citou a família ao lamentar um crime envolvendo o filho, que teria sido vítima de uma fraude, além de relatar dramas pessoais. E falou dos pais. O problema de saúde do pediatra William Bonemer, que morreu em novembro de 2016, coincide com o momento em que o jornalista sente de forma ainda mais dura e próxima o ódio injustificável das redes sociais.

"Não dava para pegar avião", disse ele, que realizava muitas viagens entre Rio e São Paulo para ficar com o pai, que já estava doente. O mesmo aconteceu com a mãe em 2018.

Não podia pegar um avião com tranquilidade nem para visitar um parente doente

Boa noite!

William Bonner é a cara e a alma do "JN". Respeitado dentro e fora da Globo, está há tantos à frente do telejornal de maior audiência do país que não dá para esconder nem que ele quisesse pois os cabelos grisalhos o entregam. Com as redes sociais, especialmente o Twitter, algo novo começou: o jornalista sério saía de trás da bancada e se mostrava muito mais à vontade.

Assim ele se tornou o "tio", como passou a ser carinhosamente chamado, por uma geração conectada desde a infância. Os comentários eram às vezes bobinhos, é verdade, mas quem não ama o "tio do pavê", que todo Natal não se cansa de repetir a mesma piada?

"Tio de molho"

Ele dividia com os milhões de "sobrinhos" fatos de seu cotidiano que ninguém saberia pela edição do "JN". Como por exemplo quando precisou imobilizar o pé.

Rir de si mesmo

Ele compartilhava notícias sérias, como denúncias de fake news, mas também se divertia com os próprios erros no ar.

E não é que ele ria, ria e ria?

Tio sensato

Consciente de sua influência para além das redes sociais, ele chamava atenção para assuntos muito sérios e urgentes.

Preciso contar...

Em qualquer relação a verdade é fundamental. E para evitar o disse me disse, ele contou para seus adoráveis "sobrinhos" que o casamento com Fátima Bernardes havia chegado ao fim. Foi um choque nacional, porém necessário.

O ódio e o silêncio

Aos poucos, o que era engraçado foi perdendo o brilho e Bonner começou a se afastar. No "Conversa com Bial", ele falou que o clima mudou bastante.

Ainda me assusto com a bile, com o ódio que escorre nas palavras, nas palavras mal escritas, nas palavras cuspidas. É um ódio tão intenso que a gente não sabe onde levará. E aí a gente vai para as ruas e assiste a esta mesma incivilidade.

E assim ele, para evitar ataques gratuitos e desrespeitosos, ele se recolheu. E fechou a sua conta do Instagram. Em seus últimos posts, desta semana, ele mesmo falou sobre o sumiço.

Volta, tio!

O próprio Bonner afirmou que raramente entra nas redes sociais, a não ser por motivos de trabalho ou para fazer algum comunicado importante como este último relacionado ao filho. De qualquer forma, fica o apelo dos eternos "sobrinhos" que ainda resistem neste campo de guerra para que ele volte a dar o ar de sua graça.

E caso decida voltar, não tenha medo mesmo de ser "cancelado". Outros colegas seus também foram, mas ainda existe amor no Twitter e em outras redes sociais.