Participando de um debate no programa "Encontro" de hoje sobre racismo ao lado de Rafael Zulu, Tia Má e Valéria Almeida, o repórter da TV Globo Manoel Soares contou que ensinou ao filho como ele deveria agir ao ser revistado pela polícia. O episódio aconteceu quando a criança tinha apenas nove anos de idade.
Questionado por Fátima Bernardes como lidar com crianças em meio ao noticiário atual, que deixa o racismo da sociedade explícito, o repórter reviveu a história.
"A primeira coisa que eu tive que que fazer, aliás, a gente faz isso já há um bom tempo, é ensinar meu filho a tomar uma 'geral' da polícia. É horrível fazer isso. Você tem um filho lindo, eu não sei se em algum momento da sua vida, Fátima, você teve que chegar para o seu filho quando ele tinha nove anos de idade, encostá-lo na parede como se você fosse um policial e simular uma abordagem. Eu tive que fazer isso com meus filhos e faço até hoje com os meus sobrinhos exatamente por conta disso. Porque eu sei o que isso representa", contou Manoel.
"Quanto mais retinta é a cor da pele dos meus filhos, eu tenho o Ezequiel que tem a pele mais clara, mas também tenho o Leonardo e o Alex que tem a pele mais escura, e quanto mais escura essa pele, mais você precisa ensinar o seu filho a na hora que estiver recebendo a abordagem policial, manter as mãos em local visível, falar sempre 'sim senhor', evitar coisas que transmitam arrogância", completou o repórter.
Finalizando seu depoimento, Manoel contou que nessa semana foi parado pela polícia. "Fiquei com muito medo, porque quando eu saí do carro, o policial viu que eu era grande e ele teve uma postura um pouco mais agressiva", afirmou.
Mãe de um menino de 12 anos, Tia Má, jornalista, humorista, palestrante e parceira do "Encontro", aproveitou o assunto e contou que ensina seu filho a não correr para não chamar a atenção da polícia.
"Quando você é preto, você está vulnerável em qualquer lugar. Aladê tem 12 anos e o que eu digo a ele é: não corra. É tirar do meu filho um pouco do direito dele à vida. Ter que conversar isso com uma criança é perverso demais, é doloroso. Tem gente que acha isso normal, mas não é", disse.
A também jornalista Valéria Almeida citou casos de racismo que sofreu: foi acusada de sequestrar uma afilhada branca, de roubar o próprio carro, de ter o crachá de trabalho falsificado, entre outras situações.
Mas a que mais marcou Valéria foi o enterro de seu pai, quando seus irmãos tiveram o carro parado pela polícia. "Eu falava: 'Meu pai não vai ser enterrado sem os filhos dele'. O policial falou que a gente tinha que entender que aquilo era uma cena suspeita e aí eu tinha que entender que suspeito eram três homens negros dentro de um carro com um homem branco dirigindo", contou a jornalista.
As discussões e protestos contra o racismo nos Estados Unidos, que também pautaram a edições de hoje do "Encontro", vieram à tona após a morte de George Floyd. O homem negro de 40 anos morreu no dia 25 de maio depois de ter sido imobilizado com um joelho sobre o pescoço durante uma abordagem policial violenta na cidade de Minneapolis, no estado norte-americano de Minnesota.
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