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Repórter da Globo em NY relembra covid 'aterrorizante' e cuidados de canal

Tiago Eltz está na Globo há mais de dez anos - Divulgação
Tiago Eltz está na Globo há mais de dez anos Imagem: Divulgação

Leandro Carneiro

Do UOL, em São Paulo

29/06/2020 04h00

Tiago Eltz tem pouco mais de dez anos de Globo. Nos últimos meses, tem vivido uma experiência completamente diferente. Correspondente da emissora em Nova York desde 2017, ele precisou encarar o epicentro da pandemia de coronavírus, depois, protestos pela morte de George Floyd.

Apesar dos riscos e da distância da família, Eltz foi um dos repórteres da Globo que assumiu a linha de frente nos protestos, sempre de máscara e com todos os cuidados possíveis.

Foi impressionante que esse momento histórico, esse marco na história dos EUA foi trazido por grandes manifestações. Isso em um momento que estamos passando por uma pandemia.

Em conversa com o UOL, Eltz contou um pouco mais de como tem sido essa experiência nos Estados Unidos.

Protestos ou isolamento?

"A gente fez avaliação de risco. Repórteres foram para a rua. Para mim, não havia outra opção. Tinha de pesar os riscos, avaliar com segurança e ir para rua. A empresa nos cobrou muito as medidas de precaução, exigiu, nos deu meios para nos proteger, carro para não usar transporte, distanciamento, álcool o tempo inteiro. Na dinâmica do protesto, a gente tentou se manter distante das outras pessoas, mínimo de dois metros pedidos. Alguns momentos, como viram, isso se tornou impossível, quando a polícia avançava sobre manifestantes e eles correram para onde você tava. Isso é impossível".

Não dá para não cobrir um momento como esse

Protesto consciente

"99,9% das pessoas estavam de máscara. Nos primeiros dias, tinha um pouco mais de gente sem máscara, depois passaram a distribuir máscaras, muita gente usando álcool gel. Via policiais sem máscaras e os manifestantes cobravam. As manifestações estavam muito conscientes e focadas nessa de se proteger. Ninguém estava querendo se expor ao risco, ninguém foi dizendo dane-se o coravírus."

Sensação de estar no epicentro da pandemia

Foi devastadora (a covid). Foi aterrorizante de certa maneira. Nova York foi atingida muito cedo na pandemia e então, se hoje não sabe muito do vírus, ou da doença, imagina três meses atrás. Era muito pior. Em um dia, o movimento da cidade era efervescente e no outro, mergulhou num vazio total.

Deixando a redação

"Durante alguns dias, pessoas no escritório ficaram frenéticas tentando desmonta-lo para que a gente continuasse trabalhando de casa, isso foi feito. De uma hora para outra, tinha uma redação espalhada em diversos pontos, trabalhando remotamente. A cidade mergulhada no silêncio, vazio assustador. As medidas foram muito duras. O vazio era vazio, ficar em casa era ficar em casa. Passei dias sem sair de casa, um processo estressante."

Não usar a calçada

"As pessoas saíam da calçada para não passar próximo de você. Adotei as dicas, saía, voltava, ter roupa para sair, deixar na entrada, tirar sapato. Higienizar as compras. Uma vez é uma coisa, 30 vezes... Evitei sair de casa. Acabou ovo? Dá para ficar sem ovos, comer até que tenha de sair de casa e fazer compra grande."

Caminhão frigorífico

"No hospital do lado de casa, tinha um caminhão frigorífico para guardar corpos que não cabiam no hospital. Saía para fazer matéria, nas poucas vezes que fui para a rua, cheio de precauções. A cidade tinha lugares com dez caminhões, eu contei no entorno de um grande hospital. Criou um clima devastador

Como ficar longe da família?

"É um grande problema e não é uma realidade só minha, todo mundo que está aqui. Desde o começo, a gente falou sobre essa dificuldade, tentou criar planos de emergência. A minha família ficou muito preocupada, começaram a ver antes de sentir a realidade no Brasil, vendo a loucura de Nova York. Primeiro, eles ficaram preocupados, logo depois, eu passei a ficar preocupado com eles. Moro sozinho, tomo medidas para me proteger, são mais fáceis do que uma família dentro de uma casa."

Preocupação com a mãe

"Minha mãe é grupo de risco, estava terminando quimioterapia quando a pandemia começou, quase 70 anos. Quando percebi que isso ia chegar no Brasil, começou a me deixar muito mais preocupado. Dificuldade de viajar, caso aconteça qualquer coisa. Tenta ter em mente uma saída, mas se tiver de voar para o Brasil será difícil ir e depois não consigo voltar. Decisões complicadas e um medo de que algo aconteça sem que a gente consiga ter muito o que fazer."

Momento mais importante

"Cobri aqui nos EUA furacão, vulcão no Havaí, momentos tensos. Como pico de tensão, talvez, eles tenham sido maiores, mas esse é o momento mais importante sem dúvida meu fora do país. Nada mais importante do que esse momento que juntou pandemia e protestos. Isoladamente, já seriam mais importantes da minha carreira, formam sem dúvida nenhuma o momento mais importante jornalisticamente fora do país até hoje."

Tensão pior no Brasil

"Se for juntar com tudo que fiz no Rio de Janeiro, a retomada do Complexo do Alemão, processo de pacificação. Sem dúvida nenhuma, essa tensão misturada com medo, em alguns momentos de tiroteio foi maior, bala passando sobre você a noite, no Alemão, é difícil comparar com essa tensão que vivi nos últimos meses. São tensões diferentes."