Jornalista de afiliada da Globo é demitida após denunciar assédio de chefe
A jornalista Ellen Ferreira esperava retornar ao trabalho na Rede Amazônica, afiliada da TV Globo em Roraima, após cerca de 20 dias afastada por ter contraído a covid-19. Para sua infeliz surpresa, foi recepcionada ontem na emissora com o aviso de sua demissão.
Ellen, que chegou até a apresentar o "Jornal Nacional" em outubro do ano passado —durante um rodízio de jornalistas do país todo feito em comemoração dos 50 anos do telejornal— não se convenceu com a justificativa da emissora de reformulação da equipe. Ela acredita estar sendo vítima de perseguição, por ter denunciado um ex-chefe de jornalismo do canal, Edison Castro, acusando-o de assédio moral e sexual.
Procurada desde ontem à noite, a Rede Amazônica prometeu enviar uma nota oficial se posicionando sobre o caso, mas, um dia depois, ainda não atendeu aos pedidos da reportagem. O pedido de posicionamento foi reforçado na manhã de hoje por duas vezes, mas ainda não houve retorno. Edison Castro não foi localizado.
Óbvio que o que aconteceu foi uma perseguição. Eu estava havia uns três meses, junto com outros funcionários, levando para o Sindicato dos Jornalistas do estado e para o Ministério Público do Trabalho situações graves de assédio sexual e moral que enfrentamos lá dentro. Situações vexatórias, de racismo, homofobia, gordofobia. Ele é um psicopata.
A jornalista conta que o comportamento de Edison não era novidade para quem trabalhou com ele. Ela afirma ter conversado com funcionários de afiliadas da Globo em Goiás, em Tocantins e no Maranhão, por onde ele também tinha passado, e diz que ouviu relatos semelhantes.
Teve uma apresentadora em Tocantins que tentou se matar pelo assédio que sofreu. Ele obrigava uma outra funcionária a tomar remédios tarja preta, porque ela era gorda. Ele não era profissional. Tinha gente que queria bater nele na rua! Resolvemos ir atrás dos nossos direitos.
Ellen conta que se sentiu oprimida e humilhada por Edison diversas vezes e que precisou buscar tratamentos contra ansiedade e depressão pela convivência com o ex-chefe. Ela afirma que chegou a procurar o próprio Ali Kamel, diretor geral de jornalismo da TV Globo, para denunciar o caso, Segundo ela, nem assim conseguiu uma resolução.
A TV Globo confirmou que Kamel recebeu as mensagens enviadas pela jornalista e afirmou que as denúncias foram enviadas ao setor de afiliadas para que fossem transmitidas à Rede Amazônica. Afiliadas são canais que, por contrato, retransmitem a programação da TV Globo em outras regiões do país que não sejam São Paulo, Rio, Minas, Brasília e Nordeste, que pertencem de fato à emissora. Têm, portanto, outros donos.
A TV Globo divulgou, ontem à noite, a seguinte nota: "As afiliadas da Globo comungam dos mesmos princípios editoriais mas são empresas independentes. O diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, ao receber e-mail da jornalista Ellen Ferreira, entrou imediatamente em contato com o setor de afiliadas para que a queixa fosse transmitida à Rede Amazônica. A Globo reitera que o respeito é um valor fundamental do seu Código de Ética. A empresa repudia qualquer tipo de assédio ou preconceito, que não são tolerados no ambiente de trabalho em nenhuma hipótese. Os esclarecimentos sobre o que ocorreu depois devem ser dados pela afiliada".
Ellen conta que somente no dia 29 de junho, graças às denúncias feitas no Ministério Público do Trabalho e no Sindicato dos Jornalistas, Edison foi desligado do cargo. Ela afirma que achou, na época, que o problema estava resolvido, mas acabou sendo demitida. O MPT confirmou ao UOL que "há inquérito em curso a fim de averiguar suposta ocorrência de assédio moral e sexual".
Ainda estou muito magoada. Não sei quais os próximos passos que vou dar. A realidade é que hoje estou desempregada. Eu sou renda dos meus pais e dos meus irmãos. Como vai ser daqui para a frente? Não quero nunca mais olhar para ele. Quando falo dele, ainda tremo. Ele acabou com a minha carreira.
Ellen ainda não sabe se vai entrar com alguma ação na Justiça, ou mesmo com um processo contra o próprio Edison.
Assédio é grave, as pessoas não podem se calar. Precisava lutar por mim. Minha autoestima e vontade de viver estavam acabando. A Globo achou que eu era um peso, mas eu faria tudo de novo. Como alguém tão doente é líder do jornalismo? Só queríamos que ele saísse para sentir paz. Seguir adiante com essas denúncias é um caso a se pensar.
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