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'Big Stick' no BBB: Leifert usa política violenta como metáfora para João

BBB 21: Brothers perguntam para Tiago Leifert quem eram os dummies - Reprodução/ Globoplay
BBB 21: Brothers perguntam para Tiago Leifert quem eram os dummies Imagem: Reprodução/ Globoplay

Pedro Ezequiel

Do UOL, em São Paulo

23/04/2021 17h17Atualizada em 23/04/2021 19h25

O apresentador Tiago Leifert fez uma analogia ontem no "BBB 21", ao eliminar o professor de geografia João Luiz, entre o método de política externa dos Estados Unidos no começo século 20, que ficou conhecido como "Grande Porrete" (ou "Big Stick"), e a demonstração de força do participante no reality.

Tinha um presidente americano de muitas décadas atrás que falava, um dos lemas dele, 'fale manso, mas carregue um grande porrete'. O que ele estava querendo dizer é que a força dos americanos, da força militar, era tão tão grande, tão forte, que não precisava ficar mostrando isso o tempo inteiro, e ameaçando o tempo inteiro. Era só falar manso e carregar um grande porrete, que todo mundo ia automaticamente respeitar você, porque as pessoas sabem da sua força. E acho que dá para dizer que todos vocês aí já mostraram a força de vocês. Aliás, vocês entraram todos por causa disso. Mas no BBB não tem como falar mansinho o tempo inteiro só porque você sabe que é forte demais. É preciso exercer a força sempre aí dentro porque foi por causa dela que você entrou no BBB. Sai do jogo hoje quem tem muita força e deveria ter usado bem mais. Quem sai hoje é o João.

Tiago leifert - Reprodução/Globoplay - Reprodução/Globoplay
BBB 21: João Luiz ouve discurso de Tiago Leifert sobre racismo
Imagem: Reprodução/Globoplay

A política do "Grande Porrete" do presidente Theodore Roosevelt tinha uma ligação com a Doutrina Monroe, que pregava a imposição da demonstração de força dos Estados Unidos no continente americano.

Enquanto o Reino Unido perdia força e seu protagonismo como potência mundial, os Estados Unidos passaram a "conversar", demonstrando seu grande poder militar que poderia ser usado se achasse necessário, fazendo o "deslocamento do eixo de poder", analisa a professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Carolina Silva Pedroso, em conversa com o UOL

Os EUA se colocaram em um lugar de paternalismo, de liderança, mais desenvolvido, superior. Mas também no que chamamos de imperialista, de decidir os rumos políticos dessa região a partir dos seus próprios interesses.

A política virou um marco da intervenção norte-americana em países da América Central e Caribe, como no caso de Cuba, na época recém-independente, com os Estados Unidos determinando como seria a constituição, e de Porto Rico.

Na América do Sul, o diálogo foi mais brando e "sedutor", ganhando aliados por meio de políticas culturais — como o uso do personagem do "Zé Carioca" — e com o apoio das elites governantes.

Ontem, quase 120 anos depois da implantação do "Big Stick", Leifert usou o discurso para medir a força de João, professor de geografia aqui no Brasil.

Vanessa Ferreira Lopes, professora de História na educação básica e mestranda na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), alerta: é curioso ouvir, mas tem que ter leitura crítica.

Foi interessante o Tiago Leifert recuperar uma expressão dos Estados Unidos para um programa que tem as maiores audiências. Faz a gente se indagar como a expressão chegou aqui. Mas é importante a gente compreender e contextualizar.

Foi contraditório? 'No mínimo inusitado'

Tiago leifert - Reprodução/Globoplay - Reprodução/Globoplay
BBB 21: Tiago Leifert no programa de 04/03
Imagem: Reprodução/Globoplay

Carolina Silva Pedroso assistiu ao discurso e teve um incômodo pela maneira com a qual o conceito foi usado.

Foi inusitado usar o exemplo histórico no contexto da eliminação de um participante que se colocou contra o racismo em um episódio em que ele que teve protagonismo no programa. Porque um dos efeitos colaterais dessa política foi reforçar o racismo dentro da América Latina, dentre várias outras questões de influencia politica e de aprofundar a dependência economia. Ela também reforçou políticas racistas nessa região. Foi um pouco inadequado.

O próprio participante já tecia críticas aos Estados Unidos em outro contexto: a atuação da política externa no Oriente Médio. Seguidores recuperaram a crítica sobre representatividade de Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos — sendo a primeira mulher negra no cargo, mas ainda fazendo políticas destrutivas, principalmente na Síria.

A professora da Unifesp, como telespectadora, viu ainda uma tentativa de fazer uma relação com o ofício do participante.

Talvez a intenção foi trazer um exemplo histórico para remeter a profissão do João, para o João entender que o discurso foi para ele. Mas não foi a melhor escolha.

Vanessa Lopes segue a mesma linha. João havia se posicionado contra o racismo, mas Leifert usou um conceito que carrega ideais violentas fora de contexto com a figura do professor, explica a estudiosa.

O ponto chave foi trazer o Big Stick como progressista, liberdade da América Latina, sendo que não foi isso. Transformou foi dependência que a gente tem até hoje. Ela [a política do 'Big Stick'] não tem nada de progressista ou de diplomacia legal para empregar no cotidiano. A contradição foi trazer para o João Luiz uma vez que a questão social racial está entrelaçada, e ele vivenciou isso na última semana.

Mas teve lado positivo

João - Reprodução/ Globoplay - Reprodução/ Globoplay
BBB 21: João conversa com Leifert
Imagem: Reprodução/ Globoplay

Leifert foi elogiado por parte do público e por colegas, como Ana Maria Braga, pelo seu discurso após o comentário racista de Rodolffo sobre o cabelo crespo de João. O apresentador citou obras do diretor Spike Lee como uma forma da parcela branca da população procurar entender sobre discussões raciais.

Só que empregar o conceito no discurso não foi boa escolha, afirma Vanessa Lopes.

Ele [João] se posicionou criticamente contra o racismo no jogo da discórdia e a gente viu a popularidade dele cair. Porque se posicionar contra o racismo não favorece ninguém, já que a gente vive o mito da democracia racial e em harmonia. Recuperar essa questão da política estadunidense reforça mais a posição dele [Tiago] como jornalista ou da emissora. Contrapôs as discussões e o último discurso dele do black power.

Já Carolina, que também faz parte do Instituto de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos, aponta para o incentivo à pesquisa sobre o assunto.

Há, pela dinâmica da TV aberta, de não ter aprofundado sobre essa política — mas essa edição levantou tantas questões da sociedade que foi aprofundado — o que foi positivo foi ter despertado a curiosidade e a discussão para elas aprofundarem. Já que o programa não aprofundou, elas têm a oportunidade agora para compreender melhor.

Ontem, por volta das 23h (de Brasília), os termos "Big Stick" e Grande Porrete" tiveram um aumento de buscas na internet, segundo a plataforma Google Trends, justamente na faixa de horário do "BBB 21".

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