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Paulo Gustavo sobre pandemia, em última entrevista: 'Ligava a TV e chorava'

Marcela Ribeiro

De Splash, no Rio de Janeiro

05/05/2021 11h43

Era dezembro de 2020. A pandemia já estava instalada no país havia nove meses, e Paulo Gustavo participou de uma coletiva de imprensa virtual para divulgar o especial "220 Volts", exibido pela Globo no fim do ano (e reprisado ontem, como homenagem após sua morte).

O humorista começou falando sobre o medo que sentia da pandemia e como era estranho gravar com todos os protocolos de segurança. Ele morreu ontem, depois de passar quase dois meses internado, em decorrência do coronavírus.

"A gente ficou com medo. É uma loucura gravar no meio da pandemia, aquele protocolo todo, várias pessoas no estúdio. Quando a gente entra no estúdio, tirando a gente, ator, que entra com figurino e maquiagem e tira a máscara para contracenar, parece está numa sala de cirurgia, todo o mundo coberto. Dá medo de pegar o coronavírus, mas foi legal, a gente amou fazer, a gente se divertiu muito."

Ao contar como estava vivendo durante a pandemia, Paulo disse que até quando ficava triste, buscava motivos para dar risada. E foi assim que ele fez ao buscar inspiração em sua vida real para a ficção.

Não sei se é um dom ou uma coisa que exercitei ao longo da vida. Muita coisa que tem no 'Minha Mãe É uma Peça' no teatro, na vida real não foi engraçada. Transformei aquilo em comédia. Dona Hermínia é uma personagem muito sozinha. Minha mãe foi uma mulher sozinha durante um tempo, porque eu e minha irmã morávamos com o meu pai, ela trabalhava. Muita coisa dela na peça que é engraçado, na vida real era triste e difícil.

Na ocasião, o ator se mostrou bastante abalado com as notícias sobre a pandemia e o número crescente de mortes.

Vivi um ano muito triste. Não podia ligar a televisão que eu chorava, fiquei tocado. Acho que muita gente normalizou essas perdas toda. Não é normal o que a gente está vivendo, é supertriste.

Apesar da angústia do isolamento, Paulo contou que teve um lado bom: poder cuidar dos filhos, Gael e Romeu, e acompanhar mais de perto o desenvolvimento dos dois.

"Faço análise há muitos anos, sou um cara transparente comigo, levo todos os meus buracos para a análise. Nesta quarentena que fiquei em casa, e em que muita gente entrou em crise, se separou, consegui ficar sozinho, olhar para o teto, escutar música."

Dona Hermínia sagrada

O humorista falou ainda o quanto a protagonista de "Minha Mãe É uma Peça" cresceu e era uma personagem com vida própria.

"Quando vou fazer essa personagem, olho aquele bob no cabelo, a roupa, aquilo ali também mexe comigo. Trato a personagem como algo sagrado. Ela mudou a minha vida para sempre."

Colunistas de Splash homenageiam Paulo Gustavo

Paulo disse que nunca imaginou, quando morava em sua casa, em Itaipu, enquanto escrevia sozinho a peça de teatro, que ela viraria um filme e um programa de TV.

Na reta final da entrevista, o humorista ainda respondeu se ter um programa só seu na Globo eram um de seus maiores sonhos.

Tenho o sonho de ser ator, de ter saúde, de trabalhar por muitos anos. Pode parecer clichê, mas não é. Meu maior sonho é poder trabalhar com quem me dá liberdade artística, isso é a coisa mais valiosa e importante para um artista.