O que faz o ex-bispo da Universal que chutou a Nossa Senhora há 26 anos?
O Brasil é um país laico, ou seja, sem uma religião oficial. A própria Constituição Federal assegura e protege a liberdade de crença e a realização de cultos. Mas há 26 anos, quem acompanhava o programa "Palavra de Vida", na Record, viu o bispo da Universal Sérgio Von Helder chutar a imagem de Nossa Senhora Aparecida.
O programa era exibido no dia 12 de outubro, dia da padroeira do Brasil e feriado católico no país. O bispo desferiu chutes na estátua da santa tentando mostrar que era um objeto, sem teor religioso e usado para ganhar dinheiro dos fiéis — nas palavras dele.
Membro da Igreja Universal, o pastor desferiu ataques contra a Igreja Católica. A repercussão foi imediata e chegou até ter matéria exibida no "Jornal Nacional", da TV Globo, nos dias seguintes.
Mas antes, como contou o colunista do UOL Ricardo Feltrin, foi uma saga para achar uma empresa que teria gravado a cena, já que era feriado. Ele e outros jornalistas do extinto "Folha da Tarde" foram à caça das imagens.
Com a pressão pelo ato, Von Helder foi enviado aos Estados Unidos e para países da América Central, tentando o anonimato após a repercussão dos seus ataques e por receber ameaças. Hoje, ele grava vídeos de pregações em sua página do Facebook e não está vinculado a nenhuma igreja.
"Um chute no estômago"
O caso já foi tratado por Edir Macedo, líder da Universal, como "um chute no estômago". Em suas autobiografias, o bispo Edir Macedo admite que esse foi o maior erro que sua igreja cometeu — na época, a Universal chegou a pedir desculpas —, mas seu filme mostra a versão da história com a sua igreja sendo vítima.
Mesmo com a imagem de Nossa Senhora Aparecida e a fé dos católicos, maioria do povo brasileiro de acordo com o DataFolha, sendo agredida.
Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, ainda em 1995, Von Helder lançaria um livro em que dizia não ter sido ético ao "tocar" a santa — ele não nomeou os ataques como chutes, o que ele de fato fez.
Livro sobre o caso e apoio a Bolsonaro
Fato é que Helder tem uma obra chamada "Um Chute na Idolatria", passou anos fora do Brasil e chegou a romper com a Universal. Em 2014, jornais brasileiros noticiaram a volta do pastor ao Brasil marcado pelo ataque intolerante.
Ele fez parte da Igreja da Restauração, criada nos Estados Unidos pelo bispo Angelo Barbosa, também dissidente da Universal de Edir Macedo.
Em 2018, Von Helder gravou um vídeo apoiando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na época ainda candidato, e criticando Fernando Haddad (PT). Na ocasião, ele disse que o PT era a "personificação do diabo".
"Porque nós estamos em uma situação onde o diabo quer imperar no Brasil através do PT. As pessoas estão crendo no diabo através do PT. O Bolsonaro sozinho está revolucionando o mundo", disse ele. "Esse safado, canalha, desgraçado do Haddad está se fazendo de cristão."
Até ano passado, Sérgio von Helder estava morando por aqui e era missionário de outra igreja evangélica. Questionado pelo UOL se está no Brasil e vinculado a alguma igreja evangélica, Von Helder disse que não.
Ao menos dois perfis no Facebook divulgam vídeos do pastor com pregações em lives. Um deles tem endereço da cidade de Jefferson, no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, e anunciava um seminário com a imagem de um pastor chutando — assim como o ataque intolerante feito por Sérgio há 26 anos.
O bispo não respondeu à reportagem qual o intuito do seminário "Um Chute na Idolatria" e se exibe o ataque feito nas aulas. Ele também não respondeu se tem arrependimento de ter chutado a imagem de nossa Senhora Aparecida.
Dados do Brasil
Em 2020, o UOL mostrou que dados mais recentes do Ministério dos Direitos Humanos através do Disque 100, entre 2015 e 2017, mostravam católicos e protestantes como 1,8% e 3,8% das vítimas em denúncias de intolerância religiosa, respectivamente — desmentindo o discurso do presidente Jair Bolsonaro de que o Brasil sofre de "cristofobia".
As denúncias relativas a fiéis do candomblé e da umbanda somavam 25% do total.
Estudo publicado pelo CCIR (Comissão de Combate à Intolerância Religiosa) apontava que dos 1.014 atendimentos realizados pelo Centro de Promoção da Liberdade Religiosa & Direitos Humanos (CEPLIR) no Rio de Janeiro, entre abril de 2012 e agosto de 2015, 71% foram relacionados a denúncias feitas por candomblecistas e umbandistas, 8% por evangélicos e 4% por católicos.
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