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Debochar de depressão, como fez Gui Araujo, afasta pacientes do tratamento

A Fazenda 2021: Gui Araujo, Lary Bottino e Marina Ferrari observam peões na casinha da árvore - Reprodução/Playplus
A Fazenda 2021: Gui Araujo, Lary Bottino e Marina Ferrari observam peões na casinha da árvore Imagem: Reprodução/Playplus

Christiany Yamada

Colaboração para o UOL, em Castanhal (PA)

15/10/2021 14h58

Na tarde de ontem em "A Fazenda 13" (RecordTV), Gui Araujo debochou de Valentina Francavilla, que faz tratamento para depressão com medicamentos.

O peão comentou que a ex-assistente de palco de Ratinho "come comprimido" e que se assusta com o tanto de remédio, "dos mais pesados", que ela toma.

Não foi a primeira vez que esse tipo de fala aconteceu na casa. No início do mês, Gui e outros peões fizeram "piada" com o assunto. Tati Quebra Barraco disse que "a pessoa vibrava ao ver remédio". Lary Bottino comparou "A Fazenda 2021" a um manicômio e, antes que as câmeras fossem cortadas, Gui Araujo falou que "nunca viu uma pessoa ficar feliz em se dopar".

A equipe de Valentina se manifestou sobre o episódio e explicou que a peoa passou por um processo difícil de depressão pós-parto e, desde então, segue fazendo tratamento.

Segundo uma pesquisa realizada por Mariza Theme, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca em associação com a Fiocruz, o transtorno acomete mais de 25% das novas mães brasileiras.

"Muitas vezes, a ideia colocada pelas pessoas de que a maternidade está relacionada a uma posição de perfeição e plenitude para a mulher pode intensificar cobranças e culpabilizações diante de sentimentos de angústias também experimentados neste percurso pela mãe", explica a psicóloga Laura Amaral, em entrevista ao UOL.

"Há diversas formas de cuidado, seja com psicoterapia, grupos de apoio às famílias e tantas outras que podem ser definidas conforme um plano terapêutico singular. Dentre tantos recursos disponíveis, o uso de medicação é um desses, conforme a avaliação médica. Trata-se de mais uma forma de cuidado que, caso se avalie necessário utilizar, é fundamental ser livre de julgamentos", reforça a profissional.

"É muito importante não culpabilizar as pessoas que realizam tratamento para cuidar da saúde mental".

Estigmatização dos medicamentos

Dr. Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP e membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA), afirma que medicamentos são receitados quando há necessidade.

"Para uma depressão leve, a gente evita o uso. Existem terapias que ajudam muito. Indicadores de 'leve, moderado e grave' são utilizados para avaliar qual o melhor tratamento. Podendo evitar o uso de medicamentos, nós evitamos. Mas quando a depressão é de moderada a grave, nós os usamos com segurança".

"Comentários como esses feitos em 'A Fazenda 13' realmente afetam a pessoa adoecida, assim como a descrença na pessoa que tem depressão, transtorno ansioso, transtornos com substâncias, transtornos de personalidade. Todas essas patologias podem levar ao pior desfecho possível, que é o suicídio. Infelizmente, já pude presenciar algumas vezes uma pessoa que tinha acabado de ter seu filho e, infelizmente, não foi diagnosticada a tempo, e nós presenciamos a morte da recém-mãe", lamenta Dr. Scocca.

Dr. Kalil Duailibi, psiquiatra e professor na Universidade Santo Amaro, concorda que deboches como os feitos no reality show rural prestam um desserviço ao paciente. "Esse tipo de preconceito acaba impedindo que as pessoas busquem ajuda já nos primeiros sintomas. As pessoas vão tentando aguentar o quanto conseguem e, com isso, retardam muito o atendimento"

"Isso também facilita com que as pessoas abandonem o tratamento precocemente", continua Dr. Duailibi. "Porque todo mundo acaba dizendo: 'Pare com isso, você já está melhor'. Esses preconceitos dificultam uma boa adesão ao tratamento, o que seria ideal para uma plena recuperação".

Doença invisível

"Infelizmente ainda é muito comum que as pessoas desdenhem das doenças mentais. Como não são doenças que a gente possa mostrar em uma ressonância magnética ou em um raio-x, há um conceito de que a pessoa poderia, com a sua vontade, ficar melhor e superar as coisas. O que não é verdade", garante o professor.

Dr. Duailibi também diz que é importante não julgar um paciente em tratamento, mesmo que pareça estar bem. "Nós não devemos retirar o remédio precocemente. O tratamento precisa ser mantido por vários meses depois que a pessoa ficou ótima. É como se o neurônio reaprendesse a funcionar daquela forma. Isso evita recaídas. Nós não devemos parar o tratamento logo depois que ela melhora dos sintomas".

Tratando-se especificamente da depressão pós-parto, Dr. Scocca ainda observa que é um transtorno que pode se estender por um tempo mais longo que a maioria imagina: "A partir de quatro semanas e até seis meses é a classificação mais conhecida do tempo de duração, mas há muita gente que discorda, porque especialistas são capazes de ver os sintomas por um período muito maior. Algumas sociedades que se dedicam a estudar a depressão pós-parto falam em anos".

Dr. Scocca recomenda que, em caso de suspeita de depressão, o paciente e os familiares procurem avaliação com um profissional de saúde mental "sem medo e preconceito nenhum": "Quando leve, hábitos saudáveis são sempre muito úteis, mas quando é muito grave, a pessoa nem consegue realizá-los. Não se deve, de forma nenhuma, achar que a doença mental é frescura".

Por fim, ele reforça que a saúde da peoa de "A Fazenda 13" não deve ser motivo de deboche: "Tem médicos por trás desse tratamento que está acontecendo com a Valentina e ela merece todo apoio, porque não é piada. É muito sério. A nossa visão e a visão de todo mundo precisa mudar, e é muito importante que não haja situações como essa, que realmente são um desserviço, porque afasta ainda mais as pessoas dos tratamentos extremamente necessários em um adoecimento mental como esse".

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