Topo

Wagner Moura nega briga com José Padilha por política: 'Nos afastamos'

O ator e diretor Wagner Moura - Divulgação
O ator e diretor Wagner Moura Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/10/2021 09h46

De volta ao Brasil depois de um período em Los Angeles que durou mais que o previsto devido à pandemia de coronavírus, Wagner Moura concedeu uma entrevista à Folha de S. Paulo para divulgar seu novo filme, "Marighella", que marca sua estreia como diretor. Ele ainda respondeu questões sobre sua relação com José Padilha e não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro.

Wagner Moura e José Padilha, que trabalharam juntos nos filmes "Tropa de Elite" e "Tropa de Elite 2", não compactuam das mesmas ideias políticas. No entanto, Moura esclarece: "Nós nunca brigamos, nós nos afastamos. Trocamos mensagens duras, sobretudo em relação ao [juíz Sergio] Moro na época do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Sempre vi o Moro como uma figura desprovida de qualidades. Acho que hoje está provado que ele foi parcial no julgamento do Lula. A perseguição ao PT era óbvia".

"Embora eu, antes de 2013, tenha sido um dos que mais bateram no PT por causa dos casos de corrupção. Depois, 'virei petista', coisa que nunca fui. Mas tudo bem. O ponto é manter o meu juízo. Não deixei a polarização política que tomou conta do país atrapalhar a minha amizade com o Padilha. Simplesmente, paramos de trocar mensagens em determinado momento". Moura conta que Padilha nunca assistiu seu novo filme, "Marighella", que estreia no próximo dia 4 de novembro.

Marighella

O lançamento da obra no Brasil, porém, estava previsto para o início de 2019, mas foi postergado. "É inacreditável que o filme só vá estrear agora. Em Berlim, foi aplaudido de pé por dez minutos; Seu Jorge já ganhou prêmios na Itália e na Índia. Mas é um filme feito para o Brasil. A primeira estreia foi cancelada pela censura. Os pedidos que a [produtora] O2 fez à Ancine eram absolutamente normais, negados assustosamente numa época em que Bolsonaro atacava o cinema nacional".

"Se tivesse sido lançado em 2019, seria um filme. Em 2020, outro. Hoje, espero que 'Marighella' enfrente menos oposição. Pois agora está claro para todo mundo que este governo é uma tragédia. Para todo mundo, não... Tem aqueles 25% que foram ao 7 de Setembro [apoiar o presidente], mas a maioria já entendeu que não é uma questão de direita ou esquerda, é uma questão de civilização contra a barbárie. Por isso acho que agora a reação será menos violenta com o elenco... ", reflete o ator e diretor, sobre suas expectativas para a recepção do filme.

Ele diz que não teve lucro com o filme: "Artista não é ladrão. A acusação de 'mamar na Lei Rouanet' me dá tanto ódio. Em 'Marighella', não usei um real da Lei Rouanet. Da Lei do Audiovisual também não, porque nenhuma empresa quis botar dinheiro. É uma produção feita com o fundo setorial e dinheiro da Globo Filmes. Não recebi um tostão por esse trabalho. Pelo contrário. Só gastei. E isso também não é problema, porque é um filme que eu amo".

Críticas a Bolsonaro

Além da censura que afirma ter sofrido, Moura reprova o presidente Jair Bolsonaro também pela forma com o qual vem governando o país na pandemia. "Foi uma tragédia, sobretudo porque a grande maioria das 600 mil mortes no Brasil poderia ter sido evitada, como a do Paulo Gustavo".

"A gente não era tão amigo, mas era um cara com quem eu falava. Quando ele teve os filhos, a gente se falou, trocou ideias sobre a paternidade... Isso é muito doloroso. E o presidente segue andando por aí sem máscara, sem dar exemplo. O Bolsonaro precisa responder por essas mortes. Ele tem que ser preso".

E, exprimindo sua admiração por histórias de resistência, citando desde a Inconfidência Mineira, Revolta dos Alfaiates, Guerra de Canudos, passando pela luta do povo preto, indígena, da população LGBT e dos favelados, até chegar no próprio Marighella, ele declara: "Em momentos de distopia, os movimentos se fortalecem. É instinto de sobrevivência. Como agora, em que está no poder um psicopata, sujeito sem condições morais de ser síndico de condomínio, o que dirá de dirigir um país".