Big Boss

Carolina Farias e Ana Cora Lima Do UOL, no Rio João Miguel Júnior/Globo

Todo poderoso

Generoso, exigente, workaholic e carrasco. Quem conhece Boninho, o todo-poderoso diretor de núcleo da Globo, tem impressões contrastantes sobre ele. O diretor completa 35 anos de emissora em 2019 em uma encruzilhada: o "BBB" deste ano patina na audiência e, para a próxima edição, a 20ª, o desafio certamente será maior.

Há ainda uma transição em curso que o afeta diretamente. Em novembro passado, a Globo anunciou uma dança das cadeiras que colocou Boninho como diretor de Gênero Variedades, ficando sob seu guarda-chuva todos os realities, os programas de auditório, games e musicais. As mudanças ainda não foram concluídas e, para quem as acompanha de perto, não há clareza se foram positivas ou não para ele.

O UOL tenta entrevistá-lo há alguns anos, mas Boninho nunca topa --avesso à imprensa, ele falou em raríssimas ocasiões nos últimos anos. Ele só costuma se manifestar para defender seus programas, em especial o "Big Brother Brasil", em geral pelo site oficial de entretenimento da Globo, o GShow, ou via Twitter.

A reportagem procurou familiares, amigos e ex-funcionários, pessoas que o conhecem bem, para tentar revelar as facetas do diretor.

João Miguel Júnior/Globo
Cristina Granato

Filho de Boni, Boninho é

Na infância, Boninho acompanhava o pai nos bastidores da Globo. "Às vezes, eu varava a madrugada editando. Ele aguentava até onde podia, morto de sono, acabava dormindo na ilha", relembra Boni, alcunha consagrada de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho.

Hoje com 83 anos, Boni comandou a emissora de 1967 a 1998 e é responsável pelo formato que persiste até hoje, com horário nobre preenchido por novelas, "Jornal Nacional" e uma atração depois da trama das 21h.

A mãe de Boninho, Regina Brasil, também se destaca em sua área. Artista plástica, ela vestiu os músicos da Tropicália nos anos 60 e a Jovem Guarda na década seguinte. Aos 76 anos, ela trabalha como galerista e marchand, em São Paulo.

A família Bonifácio de Oliveira é proprietária da TV Vanguarda, afiliada da Globo no interior de São Paulo, administrada por um grupo gestor. Ao patriarca e aos filhos, sócios no negócio, cabe acompanhar o "desempenho artístico e comercial".

Primogênito, Boninho, 57, tem três irmãos por parte de pai: Regina, 55, Diogo, 40, e Bruno, 30.

"Ele é exigente e chato igual ao pai", diz Boni sobre o filho. "Hoje não conheço diretor mais eficiente e brilhante na área em que atua. Posso não gostar de um ou outro produto, mas sei que o Boninho faz melhor do que qualquer outro faria."

A mãe vai além: "A pessoa que for trabalhar com ele tem que almejar o sucesso. Ele não admite que o sucesso não aconteça. É o que norteia a vida. É uma faceta forte do caráter dele e ele exige do outro".

Nas ondas da rádio

Depois das sonecas nas ilhas de edição da Globo, Boninho passou a se interessar por música. "Com 13 anos ele tinha um equipamento de som gigantesco. Ele mixava as coisas e a casa balançava inteira", lembra Regina.

Aos 17, ele começou a trabalhar em rádio, primeiro na Excelsior, em São Paulo, e depois na Globo, no Rio. Entre as duas funções, ele passou uma temporada em Nova York estudando economia. Na volta dos EUA, ele se mudou para a casa do pai, na capital fluminense, e logo se casou com Narcisa Tamborindeguy, mãe de sua filha Mariana, de 32 anos.

A experiência no dial o levou à televisão, em 1984, ele criou o "Clip Clip", programa de exibição de videoclipes. Depois, ele assumiria a direção de clipes para o "Fantástico" e de especiais de Roberto Carlos.

Reprodução/GloboPlay

Do game ao reality show

O seu próximo desafio na Globo foi criar games para o "Domingão do Faustão" e, em 2000, lançou o primeiro reality show da emissora: o "No Limite". Em 2002, deu início ao produto de maior sucesso do gênero, o "Big Brother Brasil".

Até 2010, Boninho colocava a mão na massa e era "a voz de Deus" dentro da casa. Ficou famoso um áudio, vazado por descuido, no qual ameaçou arrancar o braço de uma participante, em 2009.

"Dona Ana Carolina, esse aviso é pra senhora e pra dona Naiá: esse alicate não está esterilizado, a dona Naiá é diabética, se essa merda inflamar, eu vou arrancar o seu braço. Então para de brincar com o alicate."

A voz ouvida pelos participantes hoje é de Rodrigo Dourado, o diretor-geral do programa.

Márcio de Souza/TV Globo

Minha fama de mau

A fama de mau, dizem pessoas com quem já trabalhou, não é à toa.

"Todo mundo tem medo, até os diretores. Quando ele cobra é um Deus nos acuda! Se gaguejar é o fim. Aquele jurado simpático do Faustão é um personagem que só aparece quando lhe interessa", revelou um ex-funcionário do núcleo de Boninho.

"Trabalho há dez anos na Globo e já o vi dar fortes duras, por isso ele tem a fama de mau e grosso. Ele gosta de manter essa fama. Mas sabe ser gentil e educado. Tem bom humor, aprecia quem sabe brincar e pessoas proativas, que não se escondem", contou outra pessoa.

Ana Paula Renault, expulsa do "BBB16", foi recebida por Boninho ao sair da casa. "Ele tinha feito a [cirurgia] bariátrica e eu disse: 'Meu Deus, você está magro demais'. Ele caiu na gargalhada. A coisa de ele ser fechado e mal humorado caiu por terra ali", lembrou.

"Queria trabalhar com ele. Marcamos uma reunião rápida e ele me atendeu superbem. Atrás desse mito de carrasco, tem um cara altamente profissional e afável. Ele podia nunca ter me atendido", completou Renault.

Nem humoristas se atrevem a fazer qualquer brincadeira com o todo-poderoso. No "Lady Night" exibido dia 21 de março Tatá Werneck recebeu João Vicente de Castro e durante um quadro quando chegaram ao nome de Boninho, o convidado recuou na zoeira. "Com o Boninho eu não brinco", disse, João, sério. Tatá emendou: "Não sou maluca de perder meu emprego, uma casa que comprei que não tenho como pagar. Com Boninho não se brinca", afirmou a apresentadora.

Reprodução/Instagram

Sereno e maduro

Vinicius Valverde, que foi repórter do "BBB" por dez anos e trabalhou direto com Boninho, também destacou o profissionalismo dele. "É um superchefe e que sabe tanto o que faz, que fica complicado trocar com ele. As broncas até viraram folclore, mas é difícil ele estar errado."

"Essa capa de dureza que ele tem é porque o coração é gigante. Sei de tantas histórias que ele ajudou tanta gente. É bem generoso", elogiou o ex-repórter do "BBB".

Giovanna Tominaga, que foi repórter do "Vídeo Show" de 2009 a 2012, sob o comando dele, concorda: "Ele é superexigente, mas ao mesmo tempo nos deixa imprimir nossa personalidade e dar sugestões. A ideia de chefe bravo é apenas um estereótipo".

Aos 57 anos, o diretor dá sinais de que a idade o deixou mais sereno, como aponta a mãe: "Vi de um tempo para cá uma grande mudança. Está muito mais doce, mais próximo, mais carinhoso com os filhos. É a maturidade, a vida muda a gente, dá ensinamentos, descobertas. O tempo é um grande mestre".

Mãe de sua caçula, Isabella, de 11 anos, e ao seu lado há 23, Ana Furtado, 45, é só elogios ao marido no Instagram. Declarações de amor são comuns, especialmente depois que ela enfrentou um câncer de mama.

"Foi muito forte. Eles sempre foram muito unidos, sempre se amaram muito. A Ana deu uma demonstração de força muito grande e o Boninho ficou do lado dela", contou a mãe do diretor.

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