Contra a corrente

Feminista, lésbica e rejeitando título de musa, Bruna Linzmeyer fala de conquistas e haters

Ana Cora Lima Do UOL, no Rio Júlia Rodrigues/Divulgação

Quem tem medo de Bruna Linzmeyer?

Sem medo de ser quem é, Bruna Linzmeyer não perdeu quase nada.

Ao assumir o romance com a artista plástica Priscila Fisman, há três anos, colocou fim nas especulações sobre sua vida amorosa. Ela foi casada durante cinco anos com Michel Melamed, que conheceu nos bastidores de "Afinal, O Que Querem as Mulheres?", seu primeiro trabalho na TV.

Desde sua estreia, em 2010, ela emendou um trabalho em outro e praticamente não parou. Foram sete produções na TV, além de 14 filmes.

Perdi [trabalhos], mas não sei dizer se isso ainda acontece. Eu imagino que é uma peneira natural porque não escondo quem eu sou e as coisas em que acredito.

Aos 26 anos e em sua quinta novela das 21h da Globo, "O Sétimo Guardião", ela interpreta Lourdes Maria, uma periguete, a quem Bruna adicionou outras características. "Ela não era tão jeca", conta nesta entrevista exclusiva ao UOL. "Gosto de dar uma aprofundada, gosto de colocar mais camadas nas minhas personagens."

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Modelo e atriz

"Queria uma profissão para pagar as contas e me encontrei. O ofício do ator é sobre brincar de ser outro. Com certeza, tem a ver com psicologia, que eu queria tanto estudar. Brinco com os inconscientes, com outros jeitos de pensar, com outros corpos e outros jeitos de falar", filosofa.

De uma família de classe média do interior de Santa Catarina, Bruna fazia bicos como modelo desde criança. Ela desejava ver o mundo e trocou Corupá (de apenas 15 mil habitantes) por São Paulo, quando tinha 16 anos.

Dividia um apartamento com outras contratadas de uma agência de modelos e estudava em escola pública. A grana era ínfima, uma ajuda que os pais enviavam.

Passado um ano, sem ganhar nenhum dinheiro, eles avisaram que não teriam mais condições de mantê-la. "E eu também não queria retornar porque gostava de viver em São Paulo", conta.

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Teste na Globo

Nunca sonhei em ser atriz, nunca tinha pensado em fazer nada parecido com essa profissão. Tinha outros sonhos. Mas tive um insight: 'O que poderia me dar um dinheiro?' Entrar para a Globo'.

Parecia apenas um delírio pueril. "Quando contei o meu plano, o cara da agência de modelos riu e disse: 'Você e o Brasil inteiro, mas tá bom, se é isso que você quer'", relembra Bruna, que já havia feito um curso de teatro.

Uma semana depois, ela fez o teste e ganhou o papel de Tatiana Dovichenko, uma lolita russa, na série "Afinal, O Que Querem as Mulheres?". Depois, fez outro teste, dessa vez para a novela "Insensato Coração", e também foi aprovada como Leila. "Até hoje pago as minhas contas assim, amém", brinca.

Nos bastidores, ela tem o respeito dos colegas e fama de doce e querida. "É muito educada com as pessoas e na dela. Não reclama de nada. Quando não está a fim de conversar, lê um livro", disse um profissional da equipe da novela.

Isso não significa falta de gana ou vaidade profissional. "É uma atriz que gosta de confirmar o seu profissionalismo", ressaltou outro membro da equipe.

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Garota verão

A beleza abriu portas, claro. O trampolim para o showbiz foi a participação no concurso Garota Verão, que ela ganhou. "Foi aí que pintou o convite da agência de São Paulo." Mas a atriz não almeja nenhum título ligado apenas à sua aparência.

"Ser musa só tem a ver com o meu corpo. Vejo como reducionismo, caixinhas que reduzem a gente para ser uma coisa só. Esse é o problema. Posso ser musa, símbolo sexual e estar em várias outras caixinhas. Não quero ser reduzida a isso, eu não sou isso."

Não tenho problema com esses títulos de musa e namoradinha, mas que eles não sejam os únicos.

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Liberdade e escolhas

A atitude libertária de Bruna rende debates, reflexões e, claro, polêmicas. A mais recente é sobre depilação.

A minha luta e a minha fala sempre serão sobre liberdade e escolhas.

"De um jeito que eu não esperava, comecei a achar muito bonito os pelos em mim também. Aprendi que liberdade e amor é respeitar as escolhas das outras pessoas, quando essas escolhas não violentam ninguém", disse ela à revista "Marie Claire".

E não se depilar, não tem a ver com falta de vaidade ou desinteresse. Ela cita, por exemplo, sua relação com maquiagens. "Antes usava por obrigação, hoje eu entendi que eu posso me divertir com a maquiagem. Quando quero, uso coisas coloridas. Aprendi que posso brincar, que essas coisas não são obrigatórias."

Com 1,61m e 50kg, ela é vegetariana há dois anos e adepta de ioga e pilates, além de ter adotado a bike como meio de transporte. "De mim para mim mesma, de dentro do meu corpo, estou muito feliz, tranquila."

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Haters

Com 1,7 milhão de seguidores no Instagram, Bruna comenta a reação a suas declarações sobre por que parou de se depilar.

"Me chamam de porca direto", relata, sem o menor sinal de que isso a incomoda. "Nas ruas, ninguém fala pra mim. Internet é um campo mais fácil porque não tem rosto", lembra.

"O que eu sofro é pequeno. Tem gente sofrendo de verdade neste país porque é lésbica. Há violência séria, física e simbólica."

Os ataques também não lhe tiram o desejo de interagir. "Fico muito feliz de poder conversar com as pessoas sobre as coisas que eu penso, de poder dialogar na internet e na rua. Dialogar com a minha família, com meus amigos e fazer o que eu tenho vontade seja na minha vida pessoal seja na minha vida pública."

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