A fada sensata do SBT

Psicóloga do programa Casos de Família, Anahy D'Amico dá conselhos para os dramas dos famosos

Felipe Pinheiro Do UOL, em São Paulo Mariana Pekin/UOL

Há 15 anos, Anahy D'Amico é a psicóloga do Casos de Família, atração no SBT. Em meio a muito barraco, confusão e gritaria, ela ficou conhecida como a voz de sabedoria do programa, aquela que tem sempre uma palavra de conforto para quem está atravessando por algum sofrimento.

Assertiva na televisão e querida nas redes sociais, Anahy decidiu expandir seu consultório e abriu um canal no YouTube, onde fala de temas controversos, como traição, filhos que saem do armário e relacionamentos abusivos.

A psicóloga ganhou o apelido de Fada Sensata, criado pelos youtubers do canal Diva Depressão, com quem fez um vídeo que já passou de 600 mil visualizações. E diz que se acostumou a ouvir comentários elogiosos, pela segurança que transmite em seus conselhos. "Falam que tenho voz de baunilha", diz.

A psicóloga concilia as gravações do Casos de Família com o atendimento em seu consultório. "Para mim, o estúdio é um lugar pequeno, acolhedor. Não tenho essa dimensão de que estou na TV e que há milhões de pessoas assistindo", admite.

Na televisão, ela diz que criou um elo com o público de afeto a admiração, o que já lhe rendeu alguns momentos curiosos. Com uma gargalhada, ela conta: "Já foi muita gente no meu consultório só para tomar um café, para me conhecer. É muito legal".

A pedido da reportagem do UOL, a psicóloga mais pop das redes sociais usou o seu dom de fada sensata e concedeu alguns conselhos preciosos tomando como exemplos situações reais vividas por famosos como Anitta e Pedro Scobby (quando dar um tempo?), Thammy e Sula Miranda (quando a opinião do outro fere?), José Loreto e Débora Nascimento (por que expor a intimidade nas redes sociais?), entre outros temas que não perdem em nada para qualquer episódio do Casos de Família.

Mariana Pekin/UOL

Seis conselhos de Anahy para dramas de famosos

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"Não falo psicologuês"

Após anos no Casos de Família, Anahy afirma que ainda se sente desafiada. Ela entrou no programa ainda sob o comando de Regina Volpato, na época em que psicólogos se revezavam na atração. Foi somente com a chegada de Christina Rocha que ela ganhou lugar fixo.

Parte importante do trabalho, segundo ela, é manter uma linguagem popular. "Não falo 'psicologuês'. Não adianta falar bonito. Eu tinha que falar de forma que os participantes entendessem, especialmente no calor daquele nervosismo. Acho que pelo meu jeito mais direto de falar recebi a proposta para ficar fixa no programa."

Quem a vê Anahy comentando com tanta naturalidade os mais cabeludos dramas familiares não imagina que ela seja uma pessoa discreta, que venceu os próprios fantasmas antes de aparecer na televisão. "Eu sentia vergonha, mas encarei."

Ela revela que os casos que a deixam mais abalada são os de violência doméstica, de filhas que humilham as mães e de mães que abandonam os filhos. E acredita que, no programa, tem uma função muito mais de conselheira do que propriamente de psicóloga.

Eu não consigo falar o que as pessoas querem ouvir. Se pedem a minha opinião, eu vou dar. E com muito tato, porque não é a intenção ferir ninguém. E, às vezes, a pessoa não está preparada para ouvir e entender.

Anahy D'Amico

Traição e casamento de quase 30 anos

Em briga de marido e mulher não se mete a colher, diz o ditado popular. Não no Casos de Família. Anahy ajuda cada participante que leva seu drama ao programa, mas quem a vê pela TV não imagina que ela também já tenha enfrentado problemas conjugais semelhantes em sua vida pessoal.

A psicóloga teve uma vida amorosa relativamente movimentada até encontrar o atual marido, com quem está há quase 30 anos e com quem tem uma filha.

"Nós [ela e os participantes do programa] temos os mesmos problemas. Eu até fui traída! Aconteceu no meu primeiro casamento, mas descobri a traição tempos depois, já separada. O meu casamento não terminou por causa disso, mas aí eu concluí que o término havia sido acertado."

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Paciência. No casamento precisa ter muita paciência. Tem que se condicionar, ter flexibilidade, entender quando não é o melhor momento da pessoa. Homem escuta de menos e mulher fala demais. Então já é uma combinação complicada. Tem que se ajustar. Daí funciona.

O segredo do casamento duradouro

Quando a vida perde a cor

Aos 60 anos, Anahy procura encarar os problemas de maneira leve e positiva. "Rir de si mesmo é o melhor antídoto contra o bullying", afirma.

À época da escola, a psicóloga conta que vivenciou situações em que procurava se impor, quando necessário. "Sempre fui gorda, mas eu dava tapa nos outros e acabava o bulliyng na hora", afirma ela que completa dizendo que, no entanto, sempre foi bem-humorada.

Mas mesmo a psicóloga determinada e bem resolvida está sujeita a problemas mais sérios. Anahy teve depressão por um ano e chegou a desenvolver síndrome do pânico. Ela acredita que o problema, já superado, a torna mais próxima de pacientes com o mesmo diagnóstico.

"Eu me tratei com medicamentos e terapia. Melhorei e fiquei bem. Digo que gostei de ter tido depressão, mas não pela doença, que é horrível. A vida perde a cor. É uma situação dolorosa, e as pessoas não entendem muito bem, como se fosse algo que dependesse de você. Mas, depois da depressão, eu consegui trocar de lugar com a pessoa doente de uma maneira muito mais próxima, porque eu senti na pele."

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A psicologia, por mais que eu deixe no consultório, mexe comigo. Eu fico chateada, penso em como posso fazer para ajudar, que caminhos eu poderia ventilar? Existe um investimento emocional também, por mais que seja treinada para não absorver [os problemas dos outros]

O envolvimento com as histórias dos pacientes

Alzheimer da mãe

A vida de Anhay se transformou radicalmente quando a mãe, hoje com 82 anos, foi diagnosticada com Alzheimer há cinco anos. Para ficar mais próxima, Anahy se mudou para a casa dela com o marido e a filha. A psicóloga conta que encontrou no humor a melhor estratégia para lidar com a doença.

"Quando ela ria e eu ria, ela ficava melhor. Sempre fui de fazer piada, de brincar", conta. Mas há muitos momentos difíceis também. "Sabe o que ela fazia? Ela fugia, passava bilhete por baixo da porta pedindo socorro dizendo que tinham sequestrado ela", diz.

A psicóloga revela que a mãe já teve câncer e sofreu três AVCs (acidente vascular cerebral). Anahy diz que o Alzheimer fez com que ela precisasse reaprender a lidar com a mãe, uma vez que os papéis se inverteram e, hoje, é como se ela fosse a mãe. Ela diz qual foi um dos momentos mais difíceis após a doença: "Quando ela esqueceu que eu era filha dela eu fiquei mal. Sou eu, mãe!".

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Teve a fase da agressividade, que foi bem difícil. Chorei muito, porque é como perder a própria mãe. Ela parecia uma criança, tornou-se dependente e chorava muito. Hoje tenho minha mãe de uma outra maneira. É legal ter a oportunidade cuidar dela, mas lógico que cansa e desgasta

Sobre a mãe com Alzheimer

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