Amor por escrever, por viajar, por estudar, por trabalhar. Amor pelos amigos. Pelo ser humano. Muito amor de filha e pela filha. Manuela Dias, 42 anos, autora da novela Amor de Mãe, citou nove vezes a palavra amor em pouco mais de uma hora de conversa para esta reportagem. Falou também de paixões. E de dor, dúvidas e inseguranças.
A escritora, que chegou à Globo com 19 anos, estreou na semana passada como autora principal de novela, justamente no horário mais nobre da TV aberta brasileira. É a mulher mais jovem a assumir essa responsabilidade em décadas. Sozinha, já havia assinado as séries Ligações Perigosas e Justiça —esta última indicada ao Emmy Internacional. Escreveu peças de teatro e filmes, além de ter atuado como diretora. E começou a carreira como atriz —profissão da qual ela diz não sentir falta. "Estava no lugar errado."
Manuela é, em grande medida, o que seus personagens mostram na TV. Ou vice-versa. "Aprendi, em momentos muito sofridos, a pensar que alguma coisa tenho que aproveitar daquilo. Eu perdi um bebê com cinco meses de gestação, foi uma experiência muito traumatizante. E o que eu pensava era: eu vou aproveitar isso. Não posso só sofrer. Tenho que partir para cima dessa experiência de algum jeito. Aprendi com a minha mãe essa resiliência, a pegar uma coisa ruim e transformar em uma coisa boa."
A dramaturgia de Manuela pode causar estranhamento para quem estava acostumado a pastelão, fantasia e tramas rocambolescas. Na mesma medida em que fala de amor, ela distribui tensão. Com personagens que não são apenas bons ou maus, que não são só felizes ou sofredores. São humanos.
"A novela tem esse impulso de humanização. A gente precisa se ver. O entregador da sua comida, ele é uma pessoa. Ele se separou ontem, o filho dele nasceu na semana passada, o pai dele pode morrer depois de amanhã. Então, essa ideia de que não existem figurantes na vida, de que todo o mundo é protagonista... De que os ricos não são os protagonistas e os pobres são os figurantes, que cruzam no fundo, servindo alguma coisa."
Nesta entrevista exclusiva ao UOL, Manuela fala ainda de sua infância, da liberdade com que foi criada pela mãe de "alma nômade", do início da carreira como atriz, de feminismo, do sonho de ser mãe que demorou a se concretizar. E de como tudo isso faz parte, de alguma forma, de sua obra.
"Tudo o que eu fiz até hoje foi formando o meu olhar, lapidando o meu jeito de ver. Então, está tudo lá: as minhas experiências pessoais, as experiências que eu peguei de outras pessoas e os meus futuros imaginários."