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Atacada por aliados de Bolsonaro, Sheherazade diz: "Nada foi tão violento"

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Leo Dias

Colunista do UOL

15/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Em entrevista exclusiva, jornalista do SBT afirma que tem sofrido ameaças por suas opiniões
  • Rachel Sheherazade ainda conta como chamou a atenção de Silvio Santos, antes de trabalhar no SBT
  • "Eles queriam fazer um jornalismo de opinião, queriam revolucionar o SBT Brasil"
  • A jornalista falou de sua vida pessoal e contou que está solteira
  • "Acho ótimo quando não me conhecem. Porque, geralmente, as pessoas que chegam até mim já têm uma opinião"

Âncora do principal telejornal do SBT, o SBT Brasil, e ativa comentarista sobre os mais diversos assuntos nas redes sociais, Rachel Sheherazade diz que tem enfrentado ameaças constantes —inclusive de morte.

Em entrevista exclusiva a Leo Dias, a jornalista revela que sofreu ataques quando criticou carcereiros do sistema prisional do Pará, polêmica que a fez dar uma pausa em seu canal no YouTube e lhe rendeu inúmeras ações na Justiça —segundo ela, uma estratégia para calar sua voz.

"Entraram com diversos processos, em vários locais do Brasil. Essa é a forma de calar o jornalista. Quem sou eu, uma única jornalista sozinha na internet, para responder a tantos processos?", questiona. "O poder sabe da força que ele tem para calar."

Ela ainda afirma que vem enfrentando o descontentamento de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro —que garante nunca ter apoiado. "O tipo de ataque sórdido que eu sofri desde o [último] período eleitoral dos assessores e aliados do atual presidente é algo incomparável. Nada foi tão baixo, nada foi tão mesquinho, nada foi tão violento."

Rachel fala também sobre como chamou a atenção de Silvio Santos, quando ainda trabalhava na afiliada do SBT em João Pessoa, e conta sobre sua vida pessoal e seus relacionamentos.

"Eu precisava de um tempo solteira, porque saí de um casamento de 12 anos e caí num noivado de um ano e meio. Saí do noivado, caí em um outro namoro. Eu precisava saber como era a Rachel sozinha. Eu sempre tive muito medo de ficar sozinha."

Leia, abaixo, trechos da entrevista.

A jornalista Rachel Sheherazade - Divulgação - Divulgação
A jornalista Rachel Sheherazade
Imagem: Divulgação
Leo Dias - O seu nome é, inevitavelmente, ligado a polêmicas. Por quê?

Rachel Sheherazade - Porque eu comecei a fazer na televisão algo que não era comum: dar opinião em horário nobre, opinião de uma âncora, de uma mulher.

Opiniões, muitas vezes, polêmicas. A primeira, que eu diria que foi o que chamou a atenção do Silvio [Santos], foi a do Carnaval, na afiliada do SBT em João Pessoa. Explica o que você falou sobre o Carnaval.

Eu falei que o Carnaval era uma festa que havia perdido a sua origem, a sua tradição. O Carnaval era uma festa popular, que nascia das tradições populares. Hoje, quem pode sair num desfile de escola de samba? Quem pode bancar uma fantasia como aquela? Quem pode pagar ingresso e entrar na Sapucaí? Quem pode comprar abadá para sair nos blocos de Salvador?

Quando esse vídeo chegou ao Silvio?

O Silvio estava em Orlando, nos EUA. De lá, ele assistiu e já entrou em contato com o pessoal do SBT para que eles me trouxessem a proposta para trabalhar na emissora [nacionalmente]. Recebi a ligação do Leon Abravanel [diretor de produção do SBT] e achei que fosse um trote. Ele me chamou para conversar, conhecer o SBT. E fechamos contrato.

Naquele momento, você acertou sua que haveria liberdade de expressão? Essa questão foi tratada na negociação?

Eu acho que o motivo de eles terem me procurado foi exatamente a opinião. Eles queriam fazer um jornalismo de opinião, queriam revolucionar o SBT Brasil, que é o carro-chefe do jornalismo [da emissora] e vislumbraram em mim a possibilidade de dar voz a essas demandas, de ser uma espécie de porta-voz do que as pessoas pensam.

Quando você começou a perceber que não tinha tanta autonomia?

Dentro da emissora, eu tinha autonomia. O problema é quando você começa a incomodar as mais altas hostes políticas. A partir desse momento, a pressão sobre a sua vida e sobre o seu trabalho é muito forte. Então, a máquina de propaganda do Estado indiretamente...

Você se refere às verbas públicas que financiam as emissoras de televisão?

Acredito que sim, também. Não sei se eles usaram desse mecanismo de chantagem, mas existe uma pressão muito grande. No ano passado, eu abri um canal de opinião independente no YouTube. Eu estava crescendo com o canal e, certa vez, fiz uma crítica àquele massacre que aconteceu no presídio de Altamira, no Pará. Chamei a responsabilidade para o Ministério da Justiça, porque eles haviam sido procurados por um grupo de mães e familiares de presidiários dizendo que poderia haver uma tragédia, uma rebelião, porque os chefes das facções estavam todos juntos nos mesmos pavilhões. O Ministério da Justiça, em resposta, falou: "Não há necessidade de transferir os líderes das facções, porque o ministério está acompanhando em tempo real o que acontece dentro do presídio". Resultado: quase 60 mortos. Então, chamei à responsabilidade o Ministério da Justiça e lembrei que armas, drogas e celulares não entram por acaso, por encanto, dentro de presídios. É preciso haver conivência de agentes penitenciários, diretores de penitenciárias. Aí, um grupo de agentes penitenciários foi até a emissora onde eu trabalho me intimidar. Eu já estava sofrendo nas minhas redes sociais com ameaças de morte. Enfim, a pressão foi tão grande que o passo seguinte da pressão para calar o jornalista foi um festival de processos. Essa é a estratégia. Entraram com diversos processos, em vários locais do Brasil. Cada agente penitenciário decidiu entrar com um processo contra mim.

A jornalista Rachel Sheherazade - Divulgação - Divulgação
"Quem sou eu para responder tantos processos?", questiona a jornalista
Imagem: Divulgação
E a sua vida virou um inferno...

Virou. Essa é a forma de calar o jornalista. E o poder sabe disso, o poder absoluto sabe mais do que isso. [Sabe] da força que ele tem para calar. Quem sou eu, uma única jornalista sozinha na internet, para responder a tantos processos? Então, utilizam-se da máquina do Judiciário.

Essa foi a forma mais dura usada para te calar?

Eu posso dizer que já pediram bastante a minha cabeça.

Governo Lula, governo Dilma e governo Bolsonaro. Em quais dos três você teve a cabeça mais posta a prêmio?

Mais vezes eu acho que no governo Dilma. Porém, acho que o tipo de ataque sórdido que eu sofri desde o [último] período eleitoral dos assessores e aliados do atual presidente é algo incomparável. Nada foi tão baixo, nada foi tão mesquinho, nada foi tão violento. Não é à toa que uma das pessoas que eu processei foi o Alexandre Frota, que hoje é deputado.

Tem um caso recente de mais uma pessoa que pediu a sua cabeça: o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan. Qual foi a sua reação?

Coisa triste quando as pessoas pedem a cabeça dos jornalistas. Olha, eu nunca tinha ouvido falar desse senhor até que chegou a mim um tuíte dele comemorando a demissão de colegas nossos. A empresa precisou enxugar, como todas as empresas de comunicação precisaram enxugar, em virtude da crise. Aí, ele comemora, acusa os meus colegas que saíram da emissora de serem comunistas e ainda fala assim: "Está faltando a Sheherazade". Eu pensei em processá-lo, mas como ele é um forte anunciante dentro da minha emissora, ainda estou avaliando. Eu não sei até que ponto ele tem influência em demitir ou não demitir, em pedir cabeça ou não pedir cabeça. Acho um golpe muito baixo. Acho que quem deve definir o que é melhor para os seus quadros é a própria emissora, independentemente de pressões. Se o profissional é bom, se está dando resultado para a empresa, se está dando audiência, merece ficar onde está. Merece até promoção. Não cabe ao público pedir a cabeça de ninguém. Não cabe ao público, não cabe ao empresário, não cabe ao político. Isso é censura velada.

Mas você entende um pouco o termômetro político do Brasil? Quando as pessoas viram que você tinha um posicionamento e mudou, isso causou uma confusão...

Isso é um ponto interessante. As pessoas que votaram no atual presidente, Jair Bolsonaro, elas tinham uma ideia errônea a meu respeito. Achavam que por eu ser de centro-direita, direita-liberal, eu apoiaria uma pessoa completamente reacionária. Essa não sou eu. Nunca foi.

Mas muita gente, por um tempo, te associava ao Bolsonaro...

Sim, me associou ao Bolsonaro porque, um pouquinho antes da campanha, saiu uma nota em um portal de notícias dando conta de que eu tinha me encontrado com o senhor Bolsonaro e que eu estaria debatendo qual seria o meu lugar na campanha. Gente, nem filiada a partido eu sou. Não tenho o mínimo interesse. Eu sou jornalista.

Você está feliz no SBT?

Eu acho que poderia fazer muito mais. Eu tenho uma série de ideias, mas, por causa do contrato, obviamente, eu só posso realizar determinados projetos dentro da emissora.

Você quer ir para o entretenimento?

Não puro entretenimento, mas aquele misto de informação com diversão, com debates, entrevistas... Eu tenho projetos nesse sentido, que vou colocar em prática em breve, espero, mas pela internet. Vão conhecer uma outra Rachel Sheherazade na internet.

Você vai voltar para o YouTube?

Vou voltar com meu canal, mas com outra roupagem, outros programas, entrevistas. E tem um projeto também do SBT, que já entrou no ar no Facebook Watch, que é o SBT Mulher, em que faço entrevistas com mulheres relevantes, mulheres que se superaram, que se empoderaram, enfim, histórias de mulheres que inspiram, que fascinam.

A jornalista Rachel Sheherazade - Divulgação - Divulgação
Sheherazade afirma que está solteira
Imagem: Divulgação
Você está solteira. Há quanto tempo?

Eu fui casada por 12 anos. Me divorciei em 2016, namorei, noivei... Fiquei um ano e meio morando junto. Depois, terminamos. Acho que uns seis meses depois, eu namorei um outro rapaz. Esse eu quis manter mesmo longe dos holofotes, porque eu vi que a minha vida pessoal interessa muito às pessoas e isso incomoda. Não me incomoda, em específico, mas à pessoa que está do meu lado, que não é do meio. Eu nunca namorei ninguém do meio artístico ou jornalístico.

E esse momento solteira, como é que é?

Eu precisava de um tempo solteira, porque saí de um casamento de 12 anos e caí num noivado de um ano e meio. Saí do noivado, caí em um outro namoro. Eu precisava saber como era Rachel sozinha. Eu sempre tive muito medo de ficar sozinha, de não ter um namorado, não ter um marido, não ter um noivo, um alguém. E aí falei: "Eu não posso viver à sombra de alguém. Eu não posso ser feliz só quando tenho alguém. Eu preciso saber como é a minha companhia, como é estar sozinha comigo".

Quando em um relacionamento, você desconfia do seu parceiro?

Não! De jeito nenhum. Coisa que eu não faço, embora ache engraçado quem faz, é cheirar camisa. Eu não cheiro camisa, eu não abro senha de namorado. Nunca xeretei computador. Mas também não permito que ninguém invada a minha intimidade. Começou a duvidar, eu digo: "Ei, peraí!". Eu acho que as relações têm que ser baseadas na confiança de que você ama e é amado.

Mas você nunca traiu?

Traí uma única vez, mas logo depois eu terminei, porque eu não conseguia conviver...

E você já foi traída?

Não sei. Acho que sim, viu? Nunca descobri.

Qual é o seu tipo de homem?

Inteligente. A inteligência me dá muito tesão.

Você nunca namorou um burro, nem um mediano?

Não... Já namorei homens brilhantes, homens inteligentes e homens carinhosos.

Mas o que te dá mais tesão é a inteligência?

A inteligência conquista, a segurança, a pegada... Tem uma série de coisas... A gente é muita coisa num só. São muitas expectativas. Acho que não preciso fazer um checklist e [a pessoa] atender a tudo. Eu já me relacionei com pessoas que fugiam completamente do meu padrão. Eu acho ótimo quando não me conhecem. [A pessoa vira e fala] "Você é famosa, né? Desculpa, mas eu não te assisto." Eu acho maravilhoso, porque, geralmente, as pessoas que chegam até mim já têm uma opinião. Eu não sei se elas estão querendo me conhecer, a Rachel, ou se elas estão se aproximando da Sheherazade. É o meu grande medo ao conhecer alguém. E eu não me revelo para todo o mundo, eu sou muito fechada.

Veja a entrevista completa abaixo e ouça a íntegra da conversa no podcast UOL Entrevista.

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