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Por Amor é a melhor novela de Manoel Carlos, daí seu sucesso 22 anos depois

Nilson Xavier

05/05/2019 07h00

Susana Vieira como Branca (foto: Acervo/TV Globo)

Ao listar as novelas da década de 1990 por mim preferidas, coloquei "Por Amor", de Manoel Carlos, em primeiro lugar. Sim, à frente de sucessos arrebatadores e inquestionáveis, como "Pantanal", "Renascer" e "O Rei do Gado" (de Benedito Ruy Barbosa), "Rainha da Sucata" e "A Próxima Vítima" (de Silvio de Abreu) e "Mulheres de Areia" e "A Viagem" (de Ivani Ribeiro). "Barriga de Aluguel" (de Glória Perez), "Xica da Silva" (de Walcyr Carrasco), "Vamp" (de Antônio Calmon), "Quatro por Quatro" (de Carlos Lombardi) e "A Indomada" (de Aguinaldo Silva) vêm na sequência (não necessariamente nessa ordem).

Da dramaturgia de Manoel Carlos dos anos 90 para cá, acho "Por Amor" ainda melhor que "História de Amor", "Laços de Família" e "Mulheres Apaixonadas". Destas, "Laços de Família" é um páreo duro, uma novela igualmente cultuada, com uma trama sedutora e grandes personagens (Helena, Pedro, Camila, Íris, Capitu, Miguel, Alma). Porém, não perdoo a barriga protuberante na segunda metade da trama em diante: perdeu pontos e pôs "Por Amor" uma casa acima. Contudo, tenho ciência que muitos não concordam com esta minha ordenação. Já "História de Amor", é uma joia, um xodó de novela!

Quando digo "da dramaturgia de Manoel Carlos dos anos 90 para cá", me refiro ao período mais fértil da obra novelística do autor, que começa quando Maneco retornou à Globo em 1991, após um hiato de quase dez anos. Anteriormente, ele brindou o público com novelas como "Maria Maria" e "A Sucessora" (em 1978-1979), e "Baila Comigo" (em 1981). O tal período fértil do autor vai de "Felicidade" (1991) até "Mulheres Apaixonadas" (2003). Após, Maneco praticamente encerrou sua carreira com tramas se não menos criativas, menos empolgantes: "Páginas da Vida", "Viver a Vida" e "Em Família" (entre 2006 e 2014).

Nando (Eduardo Moscovis) e Milena (Carolina Ferraz) (foto: Acervo/TV Globo)

As novelas "História de Amor", "Por Amor", "Laços de Família" e "Mulheres Apaixonadas" formam um quadrilátero que exemplifica bem o poder de fogo de Manoel Carlos em cativar o público. Representam o auge de seu texto, repleto de diálogos sensíveis e de bom gosto, solidificando o estilo "crônica do cotidiano", atribuído ao autor. Um cotidiano muito pertinente à classe média-alta da Zona Sul carioca, diga-se de passagem. Porém, apesar de um tanto quanto idealizado (e por isso desejado), esse cotidiano vem repleto de elementos universais, compreendidos por todos os rincões do país.

Não por acaso, esse quadrilátero têm direção-geral de Ricardo Waddington, que sempre prezou por elencos bons e bonitos aliados a um visual pop e agradável. Novelas bonitas, esteticamente falando, casando perfeitamente (em beleza e cadência) com o texto de Manoel Carlos. A parceria durou até 2003 para ser substituída por Jayme Monjardim, igualmente um excelente diretor, mas que impregnou no texto de Maneco um ritmo que fez tudo desacelerar, tornando monótona a "crônica do cotidiano" do autor.

Sabia que Manoel Carlos criou a trama de "Por Amor" em 1983, após concluir sua novela "Sol de Verão"? Na época, houve um desentendimento entre Maneco e a Globo, o que o fez afastar-se da emissora. O autor foi tocar outros projetos de dramaturgia nas TVs Manchete e Band para só retornar à Globo em 1991.

Helena e Eduarda (Regina e Gabriela Duarte) (foto: Acervo/TV Globo)

Após "Felicidade", a Globo queria que Manoel Carlos desengavetasse a sinopse de "Por Amor" para exibi-la no horário das seis. Maneco recusou, alegando que esta seria uma história para o horário nobre – apresentou então "História de Amor". Ao final desta, mais uma vez a Globo insistiu em "Por Amor" às 18h e mais uma vez o autor bateu o pé.

Por fim, Maneco foi atendido em 1997, quando ganhou o horário nobre e "Por Amor" estreou em grande estilo. Atualmente, a novela é um sucesso no "Vale a Pena Ver de Novo" (é sua quarta reprise, contando com as duas que já teve no canal Viva). A primeira semana de seu repeteco bombou nas redes sociais e aumentou em mais de um ponto a média do Ibope na Grande SP (que a faixa antes vinha tendo com "Cordel Encantado"). Novelão clássico daqueles que o povo adora rever.

PS aos binários de plantão: o fato de eu preferir "Por Amor" não quer dizer que eu não goste de "Laços de Família" ou de outras novelas do autor. Quanto a "Baila Comigo", não consigo colocá-la no mesmo balaio com "Por Amor", por ser uma obra de outra época, outra dramaturgia, de uma televisão de outro tempo, com parâmetros muito diferentes do que se faz há pelo menos 20 anos na TV.

Leia também: "10 curiosidades sobre Por Amor".

O site Teledramaturgia traz tudo sobre "Por Amor": trama, elenco, personagens, curiosidades, trilha sonora.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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