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"O negro brasileiro sofre preconceito diariamente", diz Taís Araújo

Taís Araújo falou sobre atitudes de preconceito racial que sofreu durante a vida - Reprodução
Taís Araújo falou sobre atitudes de preconceito racial que sofreu durante a vida Imagem: Reprodução

Do UOL, em São paulo

08/11/2015 00h53

Taís Araújo afirmou, em entrevista ao programa "Altas Horas", da Globo, exibido já na madrugada deste domingo (8), ser uma vítima de racismo constantemente e ressaltou que o negro brasileiro passa por isso todos os dias.

A atriz e mulher do ator Lázaro Ramos foi vítima de ofensas racistas por meio de comentários postados em sua página no Facebook, na semana passada (31/10), e recebeu xingamentos como "macaca", "crioula" e "cabelo de esfregão". Ela não citou esse caso específico porque a gravação do "Altas Horas", possivelmente, pode ter sido realizada antes do episódio.

"[Já vivi] muitos [momentos de preconceito] durante a vida. Acho que o negro brasileiro passa por isso diariamente", disse ela, ao responder uma pergunta de Serginho Groismann, se já havia sofrido algum ato racista. "Eu passo por isso até hoje. Qualquer coisa que eu fizer e não gostarem, vão falar 'olha aquela neguinha metida, aquela neguinha...'. É dessa maneira que vão abordar", completou.

"Ontem mesmo eu lembrei de uma história minha: eu estava no CA, aprendendo a ler. Eu sempre estudei em escolas particulares e tradicionais, e aí um menino me perguntou se quem pagava a minha escola era a patroa da minha mãe. Eu fiquei muito revoltada. Cheguei em casa, peguei as joias da minha mãe, fui para a escola e bati na cara do garoto 'olha, aqui, quem paga'. E a minha mãe foi chamada na escola porque eu teria tido uma atitude agressiva. Olha o absurdo: a minha mãe foi chamada porque eu teria agredido o coleguinha, [mas] a mãe do coleguinha sequer ficou sabendo que ele teve uma atitude preconceituosa comigo", relatou Taís.

Ao lado do marido, a atriz finalizou o desabafo fazendo uma alerta ao eventual racista. "Preste atenção da maneira como você age, porque você pode ser preso, e não tem como pagar para sair", encerrou.

Ataques racistas no Facebook

Taís Araújo publicou um texto no último domingo em que fala sobre os ataques racistas que havia sofrido na noite anterior em sua rede social. "É muito chato [que], em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar: na última noite, recebi uma série de ataques racistas na minha página", escreveu ela. (Leia o desabafo, na íntegra, abaixo)

Sem entrar em muitos detalhes, Taís disse que todos os comentários foram registrados e que seriam enviados à Polícia Federal. Segundo a atriz, o ataque ocorreu no momento em que ela estava no palco do Teatro Faap, em São Paulo, encenando "O Topo da Montanha", texto em que Martin Luther King fala sobre afeto, tolerância e igualdade.

Taís finalizou o texto com uma mensagem de incentivo. "Não se cale, mostre que você não tem vergonha de ser o que é e continue incomodando os covardes. Só assim vamos construir um Brasil mais civilizado".

A atriz foi até Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), no Rio de Janeiro, e prestou depoimento na quarta-feira. De acordo com a Polícia Civil, um inquérito foi instaurado, as investigações estão em andamento e os autores estão sendo identificados e serão intimados para depor.

Segundo a agência Estadão Conteúdo, a Polícia Civil do Rio vai pedir à Justiça a quebra do sigilo de cerca de 30 perfis do Facebook para tentar identificar os autores dos ataques.

 

 

É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar: na última noite, recebi uma série de ataques racistas na minha página. Absolutamente tudo está registrado e será enviado à polícia federal. E eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena nesse país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu! Por ironia do destino ou não, isso ocorreu no momento em que eu estava no palco do Teatro Faap com O Topo da Montanha, um texto sobre ninguém menos que Martin Luther King e que fala justamente sobre afeto, tolerância e igualdade. Aproveito pra convidar você, pequeno covarde, a ver e ouvir o que temos a dizer. Acho que você está mesmo precisando ouvir algumas coisinhas sobre amor. Agradeço aos milhares que vieram dar apoio, denunciaram comigo esses perfis e mostraram ao mundo que qualquer forma de preconceito é cafona e criminosa. E quero que esse episódio sirva de exemplo: sempre que você encontrar qualquer forma de discriminação, denuncie. Não se cale, mostre que você não tem vergonha de ser o que é e continue incomodando os covardes. Só assim vamos construir um Brasil mais civilizado. A minha única resposta pra isso é o amor!

Uma foto publicada por Tais Araújo (@taisdeverdade) em

 

Casos semelhantes

As jornalistas Maria Júlia Coutinho, em julho, e Joyce Ribeiro, em novembro do ano passado, também foram vítimas de ataques racistas na internet. Os dois casos foram denunciados à polícia e ao Ministério Público.

"Eu já lido com a questão do preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo. Eu cresci em uma família muito consciente, os meus pais sempre me orientaram. Acho importante que medidas legais sejam tomadas, para evitar ataques a mim e a outras pessoas", disse Maria Julia, também conhecida como Maju, na ocasião.

"Não estou aqui me colocando como uma vítima. Eu fui, sim, agredida e estou aqui exercendo o meu direito de buscar a punição da pessoa que me agrediu. As pessoas são diferentes e a riqueza está justamente nisso, nas diferenças. E a gente tem que usar tudo isso a nosso favor", afirmou Joyce.

Tanto Maju quanto Joyce Ribeiro receberam o total apoio de suas respectivas emissoras, Globo e SBT.

Racismo é crime

A pessoa acusada por injúria racial pode ser autuada pelo Art. 140 do Código Penal, com pena de reclusão de um a três anos e multa. "Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Pena - reclusão de um a três anos e multa", diz um trecho do Código Penal.

Site para denúncias

A presidente Dilma Rousseff anunciou em abril o lançamento de um site chamado "Humaniza Redes". A ideia, segundo o governo, é que o portal seja um espaço para denúncias de violação de direitos humanos na internet (como racismo, pedofilia, intolerância religiosa, etc) e utilizar a página para a promoção de conteúdos para uso seguro da rede.