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Mesmo se vencer BBB, será muito difícil para Kaysar tirar os pais da Síria

Refugiado sírio Kaysar está na reta final do "Big Brother Brasil 18" - Reprodução/Globo
Refugiado sírio Kaysar está na reta final do "Big Brother Brasil 18" Imagem: Reprodução/Globo

Carolina Farias

do UOL, no Rio

16/04/2018 04h00

Apontado como um dos favoritos a ganhar o prêmio de R$ 1,5 milhão no "BBB18", Kaysar já falou em diversas ocasiões, até mesmo de começar o confinamento na casa, que se ganhasse a bolada iria tirar seus pais de Alepo, na Síria. O país vive há sete anos uma guerra que já deixou cerca de 500 mil mortos e provocou a imigração de pelo menos 5,5 milhões de sírios até 2017, de acordo com a Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Um desses foi Kaysar. Mas será que ele vai conseguir trazer Diane e George Dadour para o Brasil?

A resposta vai muito além da questão financeira, já que sair de países em guerra não é tarefa nada simples e há chances de o casal não conseguir deixar da Síria.

O próprio Kaysar teve que fugir para um país vizinho. De carro, ele foi para o Líbano. "Ele fez tudo sozinho, foi no carro de um amigo e depois foi de avião para a Ucrânia, onde ele viveu por cinco anos", explicou Nassib Abage, primo de segundo grau de Kaysar, que o ajuda desde quando o participante chegou ao Brasil.

O "brother" perdeu no conflito amigos, parentes e até uma namorada. Outros milhões de compatriotas dele deixaram o país nos últimos anos. Especialistas ouvidos pelo UOL explicaram as dificuldades que os sírios enfrentam para conseguir sair com segurança do país.

Segundo o professor de relações internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Fernando Brancoli, Turquia, Iraque e Líbano são os principais países escolhidos pelos sírios, que em geral não têm dinheiro para ir para outros lugares.

"São duas chances: sair por países vizinhos, cruzando a fronteira sem visto, ou vai pegar um voo e pedir o visto quando chegar ao outro aeroporto, mas as companhias não aceitam isso, elas pedem visto, o que obriga essas pessoas a pegarem os caminhos ilegais", disse o professor.

Na cidade onde os pais do brother vivem, Alepo, a mais populosa do país, o aeroporto não está em funcionamento. Se quisessem tentar sair de avião do país, teriam de percorrer cerca de 350 km até a capital, Damasco, onde há voos para países próximos como Irã, Iraque, Sudão e Emirados Árabes. É na cidade que também fica a Embaixada do Brasil na Síria, que foi reaberta recentemente.

"O Brasil emite o visto humanitário, que sai mais rápido. É um visto que reconhece que a pessoa está em uma região que passa por crise humanitária, como conflitos armado. A situação dos sírios é internacionalmente reconhecida como pessoas que precisam de proteção", afirmou Brancoli.

Voos que partem da cidade de Hatay, na Turquia, mais próxima a Alepo, a 87 km, custavam em média, em abril, entre US$ 1.300 (cerca de R$ 4.455) e US$ 3.700 (R$ 12.680) para o casal.

A repórter especial da "Folha de S.Paulo", Patricia Campos Mello, que escreveu o livro "Lua da Mel em Kobane", que tem a guerra civil na Síria como pano de fundo, explica que o posicionamento político interfere mais na vida das pessoas que as religiões.

"Alepo está sob o controle do regime, mas se eles forem da oposição, estão em uma situação péssima. Para comprar a passagem, tirar o visto e depois vir para o Brasil eles precisam de dinheiro. Talvez precisem também para coiotes [atravessadores] para irem para a Turquia ou Iraque. Alepo não é uma das piores regiões pois atualmente não há conflitos. Foi palco de um embate que basicamente virou a guerra a favor do governo, mas agora está pacificada. A situação econômica e humanitária ainda é precária, a cidade foi quase totalmente destruída", conta Patricia.

Abage garante que a família de Kaysar não tem nenhum envolvimento político. "Absolutamente, não estão envolvidos em nada", frisou.

Alepo esteve por quatro anos seguidos, de 2012 e 2016, sob intenso conflito entre as forças do governo e rebeldes. A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que só na cidade morreram 100 mil sírios. Até antes da guerra, a cidade tinha cerca de 5 milhões de habitantes, mas desde o início da guerra, estima-se que milhões também deixaram Alepo. Quem ficou vive em condições ruins, com falta intermitente de água, luz, saneamento e internet. Os pais de Kaysar vivem nessa situação. Ele mesmo já citou no programa que consegue falar com a mãe "quanto tem internet".

O professor da UFRJ afirmou que, se a família conseguir chegar, não deve enfrentar problemas para ter vistos. "O cenário internacional vê com bons olhos reunir famílias separadas. Eles só terão que pensar em como viveriam aqui, sem falar a língua, sem emprego. Pelo menos o Brasil dá acesso à saúde. Mas o Brasil é um país de imigrantes, temos uma comunidade sírio-libanesa bem grande", disse Brancoli.